terça-feira, 15 de maio de 2018


METODOLOGIA DO ENSINO
DE LITERATURA

Esta disciplina permitirá refletir sobre o aspecto pedagógico dado à Literatura, e entender o porquê se “estuda e ensina” literatura na escola. Além disso, entenderão a relação entre literatura e ensino; a literatura infantojuvenil e sua importância no desenvolvimento do educando na Educação Básica.

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A LITERATURA EM QUESTÃO

Mas a nós, que não somos nem cavaleiros da fé nem super-homens, só resta, por assim dizer, trapacear com a língua, trapacear a língua. Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura. (BARTHES, 1978, p. 16)

A literatura tem acompanhado o ser humano, provendo-o com a ficção necessária para enfrentar os obstáculos da vida, bem como tentando responder aos seus questionamentos fundamentais. Além disso, como uma modalidade privilegiada de comunicação, possibilita a instauração do diálogo entre textos eleitores de todas as épocas. Essa permanência, por si só, legitima a escolarização da literatura, que se tornou uma disciplina regida por legislação pertinente. 

Considerando a importância da literatura para a compreensão da realidade e o desenvolvimento do espírito crítico, acredita-se que o aluno, depois de ter realizado um efetivo estudo de obras literárias, provavelmente sairá dessa experiência com uma apreensão mais ampla do mundo circundante, mais sensibilizado para situações que o envolvem e mais preparado para atuar como elemento modificador de sua realidade. 

A Literatura faz com que, ao invés de indivíduos, seus leitores sejam sujeitos ativos, já que está intimamente ligada ao ato de ler, responsável por promover crítica, reflexão e interrogação, logo, há a desconstrução de conhecimentos cristalizados fundamentados em perspectivas estereotipadas. Junto a isso, é possível dizer que a Literatura pode ser compreendida como uma maneira de posicionar e revelar-se politicamente, uma vez que possibilita a seus leitores criar e recriar suas realidades.

Toda definição é difícil, e mais complexo ainda é quando tentamos conceituar determinados termos abstratos. Dizer que literatura é arte, como já mencionado em vários estudos, pode causar ainda mais dúvidas, pois tanto literatura quanto arte apresentam naturezas imprecisas e polissemia próprias.

Segundo Tavares (1989, p, 17), arte “é a representação sensível da beleza, através da intuição” e, também para o mesmo autor, literatura é “uma arte cujas finalidades estéticas se realizam através de sua matéria-prima, - a palavra”. (TAVARES,1989, p. 22). Percebemos que literatura e arte são duas terminologias de improváveis conceituações puras, tendo em vista a pluralidade de sentidos. Todavia, podemos trazer para nosso estudo o conceito restrito de literatura como arte literária, que “é, verdadeiramente, a ficção, a criação de uma suprarrealidade com os dados profundos, singulares da intuição do artista” (TAVARES,1989, p. 33). 

De modo simplificado, podemos dizer que é uma forma característica de uso da linguagem, a qual se contrapõe à linguagem que utilizamos comumente. Antônio Cândido, crítico literário e sociólogo, pode nos ajudar a definir literatura. Ele diz assim:

Chamarei de literatura, de maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático, em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, até as formas mais complexas e difíceis de produção das grandes civilizações. (CÂNDIDO, 1995, p. 242).


A literatura é arte e, sendo arte, relaciona-se aos sentidos, às sensações, percepções e emoções humanas. Nesta perspectiva, a literatura, como toda expressão artística, é vista como veículo de comunicação e, assim sendo, só se materializa no processo da leitura e por meio da interação com o leitor. É uma relação dialógica e dinâmica, a qual pressupõe disponibilidade do leitor para receber o que ela pode lhe proporcionar.

É preciso, então, que o leitor, ao entrar em contato com o texto literário, esteja “disposto”, “aberto”, seja “receptível” para usufruir da função estética da literatura. Por isso, a criança e o adolescente necessitam de uma formação que lhes possibilite desenvolver uma sensibilidade estética, a fim de que se tornem receptivos ao texto literário e possam usufruir da sua função estética: a fruição, o deleite, o estranhamento, o encantamento e tantas outras emoções.


RELAÇÃO ENTRE LITERATURA E SINA

Ensinar e aprender literatura é um processo permanentemente à beira de mudanças radicais. (LEAHY-DIOS, 2000, p. 283)


O olhar da História da Literatura é excludente, pois elabora 
critérios de seleção que podem tanto incluir quanto 
excluir autores e obras.

Por que a literatura em sina? A palavra “sina” pode tanto significar “sorte” quanto“destino” e a literatura pode passar a fazer parte da nossa história de vida por acaso (sorte?), ou estar predestinada a ingressar nessa mesma vida por uma via determinada pelo processo de escolarização ou por outra via, que possivelmente passa pela inserção familiar, econômica, social(destino?). A literatura destinada, a literatura na sorte. A literatura em questão. A literatura em sina ou, de acordo com sua sonoridade, a literatura “ensina.”

É possível mesmo ensinar literatura?
Será o seu objetivo  [...] “criar consumidores, produtores
de literatura, ou ambos?” (RAMOS & CORSO, 2010, p. 12).
Que outros questionamentos podem sem feitos sobre o ensino de literatura?

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Estuda-se Literatura na escola para ser uma pessoa melhor; para ter conhecimento de textos consagrados; para obter domínio da linguagem escrita; para ter uma outra visão de fatos históricos, políticos e sociais, locais e universais; para se expressar melhor; para poder fazer comentários de livros; para conhecer o cânone literário - as obras consagradas pela tradição?

Para Harold Bloom:
“Ler bem é um dos grandes prazeres da solidão [...]. Ler nos conduz à alteridade, seja à nossa própria ou à de nossos amigos, presentes ou futuros” (BLOOM, 2001a, p. 15 citado por RAMOS & CORSO, 2010, p. 13).

Sobre leitura literária, Bloom diz que:
[...] ler o cânone não torna o ser humano melhor ou pior, um cidadão mais útil ou nocivo à sociedade, a verdadeira utilidade de Shakespeare ou Cervantes, de Homero ou Dante, de Chaucer ou Rabelais, “é aumentar nosso próprio eu crescente. [...] Tudo o que o Cânone Ocidental pode nos trazer é o uso correto de nossa solidão, essa solidão cuja forma final é nosso confronto com nossa mortalidade” (BLOOM, 2001a, p. 36-37 apud RAMOS & CORSO, 2010, p. 13).

Se o cânone, como afirma Bloom, não nos torna melhores nem piores, mais úteis ou nocivos, por que (a boa) literatura?
        Literatura para quê?
        Literatura para quem? 

O crítico estadunidense acredita que na arte, principalmente na literatura, nada se cria. Para ele, os autores viviam na ânsia de escrever obras inéditas e depositavam muita importância nesse aspecto, esquecendo-se de outros pontos para se elaborar um bom livro. Bloom deixa essa ideologia registrada no livro A Angústia da Influência, de 1973.

Harold Bloom acredita que por mais inovadora que a obra aparenta ser, sempre haverá uma influência de autores do passado, que, por sua vez, também já foram influenciados por outros artistas em algum momento da carreira. Inclusive, isso é uma característica das próprias escolas literárias, que surgiam para romper com os ideais da anterior, mas que bebia da fonte das mais antigas. 

Bloom afirma que a literatura está “ligada à complexidade de sua natureza” e aponta três faces:
1- construção de objetos autônomos como estrutura e significado;
2- forma de expressão;  manifesta emoções e a visão de mundo dos indivíduos e dos grupos e ;
3- forma de conhecimento

A história da literatura para crianças e jovens no Brasil só começa a ser delineada, de fato, quando a preocupação com a educação passa a ser uma realidade, pois até o início do século XIX, praticamente ainda não tínhamos escolas no país, uma vez que não havia formação de professores e não havia, também, a produção de material didático para as salas de aula (CARVALHO, 1989, p. 125).


Quanto a Literatura, Bloom diz que a leitura do cânone deve ser incentivada desde cedo, a leitura é algo solitário, mas prazeroso, bem como “conduz à alteridade”, não fazendo o ser humano melhor ou pior; para Cândido, todo o ser humano tem direito à literatura; não há ser humano que consiga viver sem ela [a literatura], “sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação” e a literatura é um direito de todos, e ninguém escapa e consegue viver sem ela, pelo seu caráter fabulativo; Todorov diz que a literatura é concebida como “pensamento e conhecimento do mundo psíquico e social em que vivemos”. Destaca a singularidade das experiências que a literatura pode proporcionar. Diz ainda que quem está em contato com ela não se torna um especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser humano.



Harold Bloom é um professor e crítico literário estadunidense. O professor ficou conhecido como um humanista porque sempre defendeu os poetas românticos do século XIX, mesmo num tempo em que suas reputações eram muito baixas.

Nasceu em Nova Iorque, a 11 de Julho de 1930. Harold consagrou-se não só como escritor, mas também como ensaísta e crítico literário. Apaixonado pelas obras de Shakespeare, Bloom também tinha grande admiração por autores do romantismo no século XIX. Produziu teses polêmicas sobre determinadas obras, devido à sua aversão ao estilo “arte pela arte”. Apesar de suas críticas bem elaboradas e seus diversos trabalhos, o também professor recebia fama de “mente fechada” para o novo. Estudiosos afirmam que Bloom não é a favor de ideias criativas, fantásticas, ou mesmo fantasiosas. 

A divisão em literaturas por faixa etária não é de fato algo que Bloom concorde, por verificar que textos que são considerados para jovens são, por diversas vezes, apreciados por adultos e vice versa.

Harold acredita que na arte, e sobretudo na literatura, nenhuma obra é totalmente criada, sofrendo sempre alguma influência de autores do passado. Para ele, os autores deixam de lado outros aspectos importantes para a elaboração de um livro, dando foco somente à originalidade do projeto. Em 1973 registra essa ideologia no livro A Angústia da Influência.



   AS INSTITUCIONALIZAÇÕES DA LITERATURA



A enciclopédia de arte que meu pai me deu. Estupenda, fica comigo, transferida da categoria de livro/leitura para a de totem. Dela não há quem me separe. Idem para os outros livros de arte, os catálogos dos museus e os das grandes exposições. (COLASANTI, 2007)

As Histórias da Literatura, vistas e revistas no Brasil desde o século XIX, aliadas ao conceito de nacionalismo, no sentido de abarcar toda a produção literária da nação, e identidade literária, surgiram como uma espécie de resgate para que não se perdessem as produções literárias efetuadas até então. Assim, essas histórias são elaboradas de acordo com determinados olhares, que incluem seleção e exclusão de autores e obras.

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A institucionalização da literatura significou a acolhida da mesma no âmbito acadêmico, escolar, a entrada dentro de uma Instituição, devido ao seu caráter ligado a formação de uma ideia de nação e identidade nacional.

No século XIX, a institucionalização da literatura fez surgir uma divisão entre escritores, uma espécie de segregação (separação) entre aqueles que foram considerados melhores e piores. Nesse mesmo período, houve movimentos que buscavam reafirmar o caráter da identidade literária brasileira, surgindo assim vários grupos preocupados, a Academia Imperial de Belas e a Academia Brasileira de Letras foram exemplos desse tipo de preocupação. Isso fez com que houvesse seleções de membros que eram considerados bons em detrimento de outros, passando assim a ser referência. 

Sabemos que, grosso modo, as Histórias da Literatura, vistas e revistas no Brasil desde o século XIX, aliadas ao conceito de nacionalismo, no sentido de abarcar toda a produção literária da nação, e identidade literária, surgiram como uma espécie de resgate para que não se perdessem as produções literárias efetuadas até então. Assim, essas histórias são elaboradas de acordo com determinados olhares, que incluem seleção e exclusão de autores e obras.

A Academia Imperial de Belas Artes (1816) foi uma das precursoras desse  tipo de agremiação, mas foi com a criação da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1896,  que se estabeleceu uma autêntica expressão literária academicista.

A Academia Brasileira de Letras instaurou-se como representante de um ideário estético; A Universidade, conjunto de faculdades ou escolas para a especialização profissional e científica que tem por objetivo promover e divulgar conhecimentos, institucionaliza, escolhe, exclui e, de certa forma, impõe o que é importante ser estudado/apreendido em matéria de literatura. 

Existe por parte da Universidade, de certa forma, uma imposição sobre o que é importante ser estudado/apreendido em matéria de literatura.


A LDB - Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394 foi promulgada em 20 de dezembro de 1996. Desde então, ela vem abrangendo os mais diversos tipos de educação: educação infantil (agora sendo obrigatória para crianças a partir de quatro anos); ensino fundamental; ensino médio (estendendo-se para os jovens até os 17 anos). 

Além de outras modalidades do ensino, como a educação especial, indígena, no campo e ensino a distância. Cabe a nós, brasileiros, segui-la, tornando a educação muito mais humana e formativa. Mesmo porque o sistema educacional envolve a família, as relações humanas, sociais e culturais.

É por meio da LDB que encontramos os princípios gerais da educação, bem como as finalidades, os recursos financeiros, a formação e diretrizes para a carreira dos profissionais da educação. Além disso, essa é uma lei que se renova a cada período, cabendo à Câmara dos Deputados atualizá-la conforme o contexto em que se encontra a nossa sociedade. Como exemplo, antes o período para terminar o ensino fundamental era de 8 anos. 

Após a atualização da LDB, o período se estendeu para 9 anos, com idade inicial de 6 anos. Outras atualizações foram feitas, como a revogação dos parágrafos 2º e 4º do Artigo 36, da seção IV, que trata do ensino médio. Daí a importância de sua publicação, visando nortear o povo brasileiro, assegurando-lhe seus direitos e mostrando os seus deveres.

Segundo consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Artigo 32, o ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006.

Nos anos iniciais, do primeiro ao quinto (1ª a 4ª séries), a literatura existe, porque é inerente ao processo de aprendizagem da leitura, mas ainda não é conceituada na sua especificidade literária. 
É apenas classificada: literatura infantil, literatura juvenil, literatura infantojuvenil, literatura para crianças, literatura para jovens; é apresentada enquanto leitura, deleite, prazer, imaginação, aventura, mistério. 

Quando os alunos ingressam no sexto ano parece lugar comum os professores declararem que o interesse pela leitura diminui, exatamente porque aí ela começa a ser vista como cobrança, geralmente acompanhada pelas ultrapassadas fichas de leitura e/ou solicitação de resumos - para que o professor tenha a comprovação, confirmação de que o aluno leu.


PROFESSORES, ALUNOS E LITERATURA
A Literatura não é totalmente autônoma, ela é pretexto 
para a aplicação de outras questões.


valor da Literatura está muitas vezes atrelado a funções que ela poderia exercer. A grande parte do ensino de Literatura está pautado na História da Literatura, ou seja, em uma função de revelar fatos históricos de determinada sociedade em certo tempo.

E é por isso que o olhar da História da Literatura é excludente, pois elabora critérios de seleção que podem tanto incluir quanto excluir autores e obras.

O ensino de Literatura, aprendido nos Cursos de Letras, encontrado nos livros didáticos em geral, se restringem à História da Literatura e a divisão em escolas literárias. Cabe a Universidade, a Escola e a Impressa, o papel de reafirmar o papel de institucionalização dado à Literatura.


Ensinar Literatura não é apenas apresentar uma série de textos ou autores e classifica-los num determinado período literário, mas sim revelar ao aluno o caráter atemporal, bem como a função simbólica e social da obra literária. No entanto, essa tarefa de colocar o aluno diante do texto literário, como objeto simbólico de construção, ainda se revela como um desafio no contexto escolar.


Numa escolarização inadequada, observa-se a ausência de uma proposta de ensino interdisciplinar, fator que contribui para o estudo do texto literário como elemento isolado das demais disciplinas, pois o aluno não percebe a integração entre a Literatura e as demais áreas do conhecimento. 
A escolha dos gêneros, preocupação do professor, a serem trabalhados em sala devem ser considerados conforme os objetivos a serem alcançados na aula. Não se deve restringir o uso da literatura, por exemplo, a resolução de exercícios de Língua Portuguesa, e também como obrigatoriedade, mas deve resgatar para sala pelo menos alguns dos aspectos relativos a literatura – imaginação, criação, fruição.

A literatura, pelo seu potencial imaginário, enriquece o espírito da criança e do jovem, amplia sua capacidade de sonhar, de criar, de construir, de se libertar e se transformar, porque age no íntimo do leitor e provoca diferentes experiências com os sentidos e com a linguagem, enriquecendo suas experiências e seu conhecimento de mundo e, como disse Cecília Meireles (1984, p. 20): “[...] tudo é uma Literatura só”. E falando em literatura especificamente, já estudamos o seu conceito, mas vale a pena refletirmos um pouco mais sobre isso.

Quanto ao ensino, a leitura de poesia poderá auxiliar muito no processo de desvelamento do mundo, por isso vale muito a pena trabalhar com ela em sala de aula

Para um trabalho produtivo com poesia, Helder Pinheiro diz que:

1ª) o professor seja realmente um leitor, que tenha experiência significativa de leitura. Trata-se de leitura proveitosa;
2ª) haja sempre uma pesquisa sobre os interesses de nossos alunos, que não dispensa levar textos novos; mas que não se fique apenas preso às preferências dos alunos;
3ª) se crie o ambiente em que se vai trabalhar a poesia. “Ir ao pátio da escola para ler uma pequena antologia, pôr uma música de fundo enquanto se lê, são procedimentos que ajudam a conquista do leitor.” (PINHEIRO, 2007, p. 28). 

Abrir espaço para a poesia com painéis, murais dentro e fora da sala de aula; 4ª) se use a biblioteca. Escolha livre do livro que quiser ler, descobrir autores... “Se faz indispensável que a biblioteca seja um lugar agradável, ventilada, espaçosa.” (PINHEIRO, 2007, p. 29).

Sabe-se que a partir do momento em que a criança tem acesso ao mundo da leitura, ela passa a buscar novos textos literários, faz novas descobertas e consequentemente amplia a compreensão de si e do mundo que a cerca. Nesse cenário, professores e coordenadores pedagógicos devem atuar em sintonia, assegurando que o trabalho com a literatura infantil aconteça de forma dinâmica, por meio de práticas docentes geradoras de estímulos e capazes de influenciar de maneira significativa o desenvolvimento de habilidades orais, leitoras e escritoras. A contação diária de histórias é bastante significativa, porque proporciona um momento mágico de valor educativo sem igual na correlação destes três eixos: leitura, escrita e oralidade.
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As atividades de leitura devem ocorrer desde os primeiros dias de aula, mesmo com crianças que ainda não conhecem nenhuma letra, pois, por meio da visão e da audição, elas realizam a leitura de ilustrações e acompanham a leitura do texto feita pelo professor. Nessa fase inicial, em contato com os livros, elas aprendem a manuseá-los, a reconhecer suas formas, a perceber a diagramação e iniciam suas experiências com os modos de composição textual. 

Uma boa obra literária é aquela que apresenta a realidade de forma nova e criativa, deixando espaço para o leitor descobrir o que está nas entrelinhas do texto. A interação da criança com a literatura possibilita uma formação rica em aspectos lúdicos, imaginativos e simbólicos. O desenvolvimento dessa interação, com procedimentos pedagógicos adequados, leva a criança a compreender melhor o texto e seu contexto.



A LEITURA NA ESCOLA



[...] o sentimento da infância não existia - o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia. (ARIÈS, 1981, p. 156)

Para tratarmos da escola, como espaço de leitura, há a necessidade de se fazer uma inserção na história de cada um de nós. Desde que nascemos, diferentes situações nos colocam em contato com as palavras. Elas são ensinadas gradativamente para que possamos nomear, reconhecer, dar sentido ao mundo onde vivemos e que temos necessidades de aprender e desvendar. 

Hoje a Universidade é a principal referência quando se trata de indicação do que se considera bom em termos de conhecimento, não seria  diferente em literatura. Cabe a ela organizar e divulgar conhecimentos. Em relação à Literatura, os Cursos de Letras, trabalham na elisão do não consideram adequado como obra literária, passível ao cânone.

A escola “uma das instituições responsáveis por fazer com que os estudantes tenham acesso ao livro e, consequentemente, cheguem à literatura. É nela que vão atuar os professores, formados/instruídos pela Universidade.”, mantendo assim, uma interligação sobre aqui aquilo que a Universidade escolhe e é mantido pela Escola. 

A Educação Infantil tem a responsabilidade de resgatar e organizar o repertório das histórias que as crianças ouvem em casa e nos ambientes que frequentam, uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte de informação sobre as diversas formas culturais de lidar com as emoções e com as questões éticas, contribuindo para a construção da subjetividade e da sensibilidade delas. 

Desde que o mundo é mundo, as crianças crescem, e as pessoas envelhecem, havendo sempre a necessidade de todos os povos, em qualquer parte do mundo, de qualquer credo, de entrar em contato com alguma espécie de fabulação. Impossível e insuportável seria a vida sem as possibilidades de transcendência que a literatura proporciona. A literatura não faz o homem melhor e nem pior; mas o humaniza em sentido profundo, porque o faz viver com todas as contradições e vicissitudes que a vida oferece. (SILVA; SILVEIRA, 2013, p. 93)

É necessário ter uma sociedade leitora para que também a criança se faça leitora. Ter uma família envolvida com leituras, valorizar as bibliotecas, frequentar livrarias é também indispensável. Tudo, sem esquecer a função da escola. Uma educação que não valoriza a literatura, um professor não leitor… não concorrerão para a formação do leitor. Depois, é preciso compreender a importância de um país leitor, de uma sociedade crítica e reflexiva para bem incorporar a leitura literária no contexto escolar. 

Tanto o Ensino de Literatura quanto a leitura literária deveriam estar verdadeiramente presentes no contexto escolar, de modo articular, pois são dois níveis dialogicamente relacionados. A leitura literária abordada na escola é fundamental, tendo em vista as contribuições do Ensino da Literatura, os quais certamente facilitarão a interação, a relação texto/leitor.




O desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que principia no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora.

A literatura infantojuvenil é um ramo da literatura, dedicada especialmente às crianças e jovens adolescentes. Nisto se incluem histórias fictícias infantis e juvenis, biografias, novelas, poemas, obras folclóricas e/ou culturais, ou simplesmente obras contendo/explicando fatos da vida real

Literatura infantojuvenil, tal qual a literatura feita por mulheres, a africana, a popular (oral e de cordel), foi por muito tempo compreendida como um gênero literário marginal, menor, cujos produtos eram de categoria inferior, desinteressantes, sendo a qualidade e a especificidade postas em questão pela crítica. 


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Qualquer pessoa, de qualquer idade, ao ler obras da Literatura Infantil, perceberá logo que não concordo com a categoria “literatura para criança”, ou “literatura infantil”, que teve alguma utilidade e algum mérito no século passado, mas que agora é, muitas vezes, a máscara de um emburrecimento que está destruindo nossa cultura literária. Bloom diz que:

A maior parte do que se oferece nas livrarias como literatura para criança seria um cardápio inadequado para qualquer leitor de qualquer idade em qualquer época. (BLOOM, 2003, p. 12).

O leitor é capaz de descobrir sozinho o que lhe é apropriado à leitura, não havendo um poema ou história especial para determinada idade. Isso significa dizer que textos infantis também podem ser lidos por adultos, sem restrições, da mesma forma que textos extensos, não propriamente voltados ao público juvenil, podem ser lidos por crianças e adolescentes.  

O professor norte americano Harold Bloom, em sua introdução ao volume 1 da antologia Contos e poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades (2003), discorda do fato de a literatura infantil ser vista como uma categoria isolada, de existir uma literatura própria para crianças e uma para adulto, ele diz que  a divisão em literaturas por faixa etária não é de fato algo que ele concorde, por verificar que textos que são considerados para jovens são, por diversas vezes, apreciados por adultos e vice versa.

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Os primeiros exemplares de livros infantis editados no Brasil datam do início do século XIX. Com a implantação oficial da Imprensa Régia, em 1808, tem início a atividade editorial e, desse modo, surgem as primeiras publicações destinadas ao público infantil, que consistiam principalmente em traduções de livros europeus.

O início da literatura infantojuvenil brasileira é marcado por inúmeras traduções e adaptações dos contos de Perrault, Grimm e Andersen. Figueiredo Pimentel e Carlos Jansen são vistos como os primeiros tradutores/adaptadores de obras clássicas europeias.


São do primeiro os Contos da Carochinha (1886), os quais apontavam para a moralidade e o sentido educativo, e do segundo as adaptações de As viagens de Gulliver (1888), Robinson Crusoe (1885), D. Quixote de la Mancha (1901), entre outras. 

Os livros infantojuvenis são evidenciados também pelo seu caráter de livros ilustrados – algo que não pode ser ignorado – e, elaborados, portanto, com ilustradores, [...] imagem e texto dialogam, completam-se, questionam-se constantemente.  
Pode-se dizer que Perrault é o precursor da literatura infantojuvenil, pois ele registrou as narrativas folclóricas dos camponeses, transformando-as nos Contos da Mamãe Gansa ou Contos de Fadas de Épocas Antigas que são uma compilação de 11 histórias, as quais estão na memória afetiva das pessoas até os dias de hoje. As crianças acabam conhecendo essas histórias, mesmo antes de serem alfabetizadas:

      └─►A Bela Adormecida - Chapeuzinho Vermelho -O Barba Azul
      └─►O Gato de Botas – As Fadas - A Gata Borralheira - Grisélidis
      └─►Henrique, o Topetudo -O Pequeno Polegar - Pele de Asno - Os Desejos Ridículos

Todos esses contos não têm uma autoria certa, foram captados da tradição folclórica europeia e contêm elementos de profunda simbologia proveniente da mitologia grega, ou de liturgias religiosas, por exemplo.

Que a relação lúdica entre a criança e a obra literária dá a possibilidade de se formar leitores, não restam dúvidas. No entanto, a literatura infantil não poder funcionar apenas como “pretexto” para se ensinar leitura ou, ainda, como incentivo ao hábito de ler; a formação de um bom leitor literário se dá pela interação com a obra literária, mediando o pequeno leitor a encontrar significados na obra que lê, compreender o texto e relacioná-lo ao mundo a sua volta, construir novos significados a partir do que foi lido

Na primeira década do século XX, sucederam às traduções-adaptações obras nacionais de Olavo Bilac, em parceria ora com Coelho Neto, ora com Manoel Bonfim

Júlia Lopes de Almeida e Tales de Andrade também compuseram obras ao leitor jovem, mas ainda inspiradas em textos europeus. Havia preocupação moralista, exaltação do trabalho, disciplina, obediência e a intencionalidade de cantar as belezas da nação. 

A literatura infantil teve início na Europa, em meados do século XVIII, quando, devido às transformações sociais da época, a criança começou a ser vista como tal, deixando para trás a concepção de mini adulto. A partir de então, obteve um novo status e, se antes consumia as mesmas obras literárias dedicadas aos adultos, no novo cenário ganhou um espaço literário só para ela.


No Brasil, apesar de serem publicados no início do século XIX, foi só ao final deste que os livros dedicados ao público mirim começaram a circular. Os períodos seguintes foram marcados por importantes mudanças que contribuíram, cada uma em seu tempo, para consolidar o segmento.



Monteiro Lobato é, com certeza, o maior escritor brasileiro para o público infantil e jovem de todos os tempos! Esta caracterização não é um exagero, tendo em vista que vários grandes escritores têm, na obra de Lobato, um incentivo, uma inspiração.

Hoje já é fácil provar que coube a Monteiro Lobato a fortuna de ser, na área da Literatura Infantil e Juvenil, o divisor de águas que separa o Brasil de ontem e o Brasil de hoje. Foi ele, sem sombra de dúvida que, fazendo a herança do passado submergir no presente, encontrou o novo caminho criador que a Literatura Infantil estava necessitando. Rompe, pela raiz, com o nacionalismo tradicional e abre as portas para a criatividade que precisava ser liberada. 

Tratada apenas como literatura dos bancos escolares, intimamente ligada à pedagogia, com o transcorrer do tempo, a literatura infantil foi adquirindo outros afinamentos.

Monteiro Lobato inseriu o pensamento modernista em textos para crianças. O tom coloquial, o uso de onomatopeias e os neologismos ocuparam o  “espaço” do caráter didático e moralizante, instituindo-se, assim, uma produção mais autêntica. Sua criação mais famosa é o Sítio do Pica-pau Amarelo, que teve seu início com A Menina do Nariz Arrebitado (1921) e só depois, com o acréscimo de outros episódios, denominou-se Reinações de Narizinho (1931).

As Caçadas de Pedrinho (1933) também não nasceu com esse nome; foi primeiramente A Caçada da Onça, narrativa publicada em 1924. Mais tarde é que Lobato acrescentou histórias e o livro aumentou de tamanho e mudou de título. Seu último livro escrito é Os Doze Trabalhos de Hércules (1944).

A literatura infantil é objeto de muitas pesquisas nas últimas décadas. Alguns estudiosos tecem reflexões sobre a importância de estimular a leitura e a escrita e apontam alternativas para orientar os professores a realizar um trabalho mais sistemático e aprofundado com obras literárias voltadas às crianças. Outros discutem o papel da literatura infantil na formação de leitores. 

Monteiro Lobato mostrou um caminho para outros escritores de textos para crianças e jovens; sua obra permanece viva na escola e na lembrança de muitos que tiveram e têm a oportunidade de conhecê-lo.

Ilustração: palavras e imagens

O ilustrador é uma personagem fundamental na literatura infantil. Afinal, ele é quem dá imagem, cor e formas à ideia do texto, ou até mesmo conta uma história por meio das ilustrações. 

As ilustrações têm o poder de despertar a curiosidade e os sentidos e, por este motivo, é de importância imensurável que elas estejam presentes na inserção da leitura na vida das crianças.  

Para o escritor e ilustrador André Neves, "para aproximar o leitor da fantasia". O autor pernambucano defende a 'literatura para a infância', que amplia e questiona o que hoje entendemos por "literatura infantil". Para ele, livros para a infância são aqueles que atingem e encantam não só as crianças, mas também a infância que habita cada adulto.

Todo livro infantil ilustrado, no entanto, pode ser lido como um texto híbrido, verbal-visual, em que ocorrem dois discursos, o verbal e o visual, criando, assim, um diálogo entre texto e ilustrações; no caso do livro de ficção, uma espécie de narrativa dialogada entre as duas linguagens.

No diálogo entre texto e ilustrações pode ocorrer:
1) convergência de sentidos, quando os sentidos da ilustração convergem para os sentidos do texto; 
2) contradição, quando o texto diz uma coisa e a ilustração outra – por exemplo, o texto refere-se a um gambá e a ilustração mostra outro animal. Mas nem toda contradição é necessariamente um erro. Por exemplo, ao ilustrar a fábula A cigarra e a formiga, de La Fontaine, Gustave Doré não representou dois animais, mas duas mulheres. Benjamin diz que:

As crianças tendem a aprender com a cor, e é na cor que elas contemplam a liberdade.  [...] As imagens, segundo Benjamin, estimulam nas crianças a palavra pelo ato de decifrar, de ler, de criar um sentido para o que veem/ decrifram/leem dentro de si. ( WALTER BENJAMIN,1994).


Nos livros de literatura infantil, o leitor não deve buscar apenas equivalências entre texto e ilustrações, mas uma relação dialógica – portanto, mutuamente enriquecedora –, pois os sentidos do texto se projetam sobre as ilustrações e vice-versa.

A imagem colorida faz a fantasia infantil mergulhar, sonhadoramente, em si mesma. A gravura em branco e preto, a reprodução sóbria e prosaica, levam-na a sair de si.


A literatura infantil sempre esteve e está presente em nossas vidas muito antes da leitura e da escrita, seja por meio das cantigas de ninar, das brincadeiras de roda ou das conotações de histórias realizadas pelos familiares. Porém quando as crianças chegam à escola é que a literatura passa a ter o poder de construir uma ligação lúdica entre o mundo da imaginação, dos símbolos subjetivos, e o mundo da escrita, dos signos convencionais impostos pela cultura sistematizada.

A literatura infantil é objeto de muitas pesquisas nas últimas décadas. Alguns estudiosos tecem reflexões sobre a importância de estimular a leitura e a escrita e apontam alternativas para orientar os professores a realizar um trabalho mais sistemático e aprofundado com obras literárias voltadas às crianças. Outros discutem o papel da literatura infantil na formação de leitores. 


Apesar de a literatura abrir portas e janelas para um universo fascinante de conhecimentos, curiosidades, modos diversos de ver o mundo, muitas crianças e jovens não se sentem motivadas a ler. Talvez isso seja um reflexo da leitura utilitária que por vezes se incentiva nas práticas pedagógicas escolares.


Precisamos incentivar nos jovens a leitura prazerosa, em contraposição a uma pseudo-literatura que pretende “treinar” o aluno a responder um questionário a respeito da obra lida. Esse tipo de prática não desperta o gosto pela leitura, mas sim uma espécie de aversão a livros e literatura.

O uso da literatura infantil é uma ferramenta indispensável no processo de alfabetização e letramento. A mesma deve ser utilizada pelo educador a fim de garantir uma boa seleção de livros para as crianças, visando à formação do alfabetizando, e ampliando seus saberes de forma gradativa e significativa.



Sugestão de livros infantis


Ler leva ao gosto, ao prazer, ao vício, e ninguém melhor que o professor para fazer o papel de SHERAZADE, do contador de história, de aliciador que encaminha o aluno no mundo extraordinário e causador de prazer indescritível. ( Lenira Almeira Heck ).



A BORBOLETA AZUL 
Lenira-Almeida-Heck-A-Borboleta-AzulHistória infantil escrita por Lenira Almeida Heck e com belas ilustrações de Adriana Schnorr Dessoy, e que conta a história e aventuras de uma pequena lagarta chamada Fifi, que se transforma numa bela borboleta azul. Corajosa, a borboleta azul deixa a localidade onde nasceu para conhecer o mundo que fica além do vale e das montanhas azuladas. Na cidade dos homens, passa a admirá-los e sonha um dia transformar-se numa linda mulher

O livro retrata a metamorfose das borboletas de uma forma simples e muito interessante. A transformação do corpo da lagarta ajuda a criança a entender que todos passamos por mudanças e somos diferentes uns dos outros. As ilustrações são muito bem feitas e transmitem a beleza do período da primavera onde normalmente ocorre essas transformações das plantas e animais. Transmitir um pouco da natureza e fazer com que as crianças possam entender todas essas mudanças de uma forma simples é muito importante para a percepção geral do mundo em que vivemos.

Quando o livro retrata as dificuldades que a borboleta teve em se adaptar com o novo corpo, mas mostrando que ela não desistiu mesmo com as quedas, a criança consegue entender que ela também pode conseguir superar as suas dificuldades, desde que ela não desista. Sobre Fifi admirar os homens é ótimo para mostrar as crianças que devemos observar o mundo em que vivemos, pois existem belíssimas coisas a começar pela natureza, as estações do ano e tantas outras coisas que estão ao nosso redor.


NO REINO DAS LETRAS FELIZES - Lenira Almeira Heck
Conta a história de um reino que vive no mais absoluto silêncio. Seus habitantes, as letras, vivem cada uma pra si, sem se comunicar. A rainha Alfa, insatisfeita com aquela desunião, promove um grande baile no qual são apresentadas as vinte e seis letras que formarão o alfabeto. A obra trabalha de maneira lúdica e educativa as vogais e as consoantes, enfocando-as como importantes meios de comunicação e crescimento cultural.
Lenira-Almeida-Heck-No-Reino-das-Letras-Felizes
Num sítio muito distante havia um reino que era habitado apenas por letras. Mas elas andavam sempre zangadas umas com as outras e nunca se reuniam, nem sequer para formar uma palavra só…A rainha Alfa, que era muito divertida, não estava nada satisfeita com esta situaçãoMandou chamar os seus conselheiros e ordenou: - Quero que organizem um Grande Baile para todas as letras deste e de todos os reinos. E quero que todas sejam criativas e façam uma apresentação durante o Baile.
Quando a notícia se espalhou foi logo um alvoroço… todas as letras procuravam ter a melhor ideia…Cada uma delas pensava, pensava, mas não conseguia imaginar nada de jeito. Até que resolveram juntar-se. Conversa vai, conversa vem, uma delas disse assim: Companheiras, uma letra só não serve para nada mas, se nos unirmos, poderemos mudar este reino para sempre! – E a letra G explicou timtim-por-timtim o seu plano, embora algumas letras não achassem nada bem…Depois de muita discussão e conversa, todas as letras concordaram com a sugestão da letra G e começaram os ensaios. Aos poucos, ia surgindo amizade entre as letrasPassou muito tempo…até que chegou a noite do Grande Baile. As letras aguardavam ansiosas… E então, sua majestade a rainha Alfa entrou no salão...


HISTÓRIAS QUE ACABAM AQUI
Teresa-Lopes-Historias-Que-Acabam-Aqui
Obra de Maria Teresa Lopes composta por “seis contos para a infância”, mas destinada a todas as idades, conta a história de  uma menina abóbora que almejava a liberdade, o menino soldado que com atos de bravuras libertou seu povo do terror do inimigo, do amor entre Sol e Lua e da tristeza que eles também sentem. Da médica bruxinha em quem ninguém acreditava, mas que com a ajuda oculta de sua amiga fada, conquistou reconhecimento e confiança. 

Há também Telma, a sonhadora menina que queria ser bailarina, tudo porque conhecia os retratos do artista do século XIX Degas. O caracol que feliz da vida convivia com outros seres no quintal tão vasto, mas que sozinho nasceu, viveu e morreu, mas nem por isso foi infeliz. São curtos contos que aquecem a alma e despertam aquele famosinho sorrisinho que deixamos escapar quando lemos alguma coisa muito delicada ou mesmo infantil demais, mas que nos desperta de um contexto de lutas e desafios e nos transporta para um lugar calmo que é o mundo da literatura infantil.

São através das simples histórias e até mesmo fantasias que podemos captar com facilidade muitos bons ensinamentos, podendo mudar nosso ponto de vista de muitos assuntos ou mesmo relembrar da nossa velha e amada infância onde tudo parecia e era efetivamente mais fácil.

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Alice País Maravilhas Wonderland gif animadoLewis Carroll conta a história de uma menina chamada Alice, que se encontra sentada ao lado de sua irmã, a qual está atenta na leitura de um livro, enquanto Alice perde a paciência de estar ali ao lado somente fazendo companhia. Resolve então esticar seus olhos querendo mergulhar também naquela leitura. Nessa impaciência, resolve fazer um colar de flores, desviando seu olhar para o campo florido. Naquele exato momento, ao correr em direção às margaridas, ela percebe que um coelho branco corre ao seu lado.

Nada demais ela viu naquilo, mas algo lhe chamou a atenção: o coelho retira do próprio bolso um relógio. Este fato a intrigou, fazendo com que ela corresse atrás dele para ver até onde ele iria, mas, no afã de alcançar o rápido animalzinho, de repente, ela se vê caindo dentro da toca dele: a porta para o “País das Maravilhas”. Começou a cair no profundo buraco até chegar ao fundo. Lá encontra várias portas e uma chave que abriria apenas uma delas. Ela recebe um líquido para beber que a faz reduzir de tamanho. Já reduzida, passa pela porta e encontra um jardim.

O que ela nem imaginava era que entrara em outro mundo. Um mundo incrível onde os animais podiam falar. Falava com rosas e outras formas animadas. Ali conheceu uma lagarta conselheira; um exército de cartas, contra o qual teria que combater; o gato alegre, sempre a sorrir, que aparecia e desaparecia; e o chapeleiro maluco. Ao regressar ao tamanho natural e retornar à superfície, depois de viver verdadeiras aventuras naquele mundo imaginário, na companhia daqueles personagens, é que Alice se dá conta que tudo não passara de um sonho e que estava de volta à realidade, acordando daquela viagem onírica maravilhosa.


História em quadrinhos


A relação da história em quadrinhos (também chamadas de HQ) com a sociedade é perpassada por polarizações antagônicas. É reconhecida como diversão popular de alcance imenso e, ao mesmo tempo, execrada como infantilidade. É vista como meio artístico válido e meio de consumo descartável. 

Deixando-se de lado o campo do senso comum, é possível verificar um posicionamento relativamente diferente entre as instâncias que possibilitam a legitimação de uma forma artística.

O diálogo entre os personagens aparece através de balões, sendo que eles variam muito de formato, como por exemplo, linhas contínuas, interrompidas (fala sussurrada), ziguezagueadas (demonstrando um grito, um som de rádio ou televisão), ou em forma de nuvem (simbolizando o pensamento dos personagens).


Os sinais de pontuação são variados, reforçando a voz dos personagens e indicando o modo como eles revelam seus sentimentos, como raiva, espanto, alegria, tristeza.

Há também a presença das onomatopeias, causando certa animação à história, por meio de sons produzidos por pessoas (zzz, para o sono, rrr, para o rosnado de um cão, entre outros), e por ambientes (crash, para a batida de um carro ou buuum para representar uma explosão).

São compostas por uma linguagem verbal e uma não verbal, fazendo uma associação entre imagens e palavras, procurando facilitar o entendimento do leitor. 

As Histórias em Quadrinhos, ou simplesmente HQs, normalmente estão associadas à narração, apresentando texto e imagem que estabelecem uma ideia de complementaridade. Gênero muito popular entre crianças e adolescentes, as Histórias em Quadrinhos infelizmente ficaram, por muito tempo, relegadas ao injusto rótulo de “subgênero”. Contudo, as HQs têm ganhado cada vez mais força, demonstrando que grandes histórias podem ser contadas sob o viés da Arte Sequencial.

A primeira história em quadrinhos de que se tem notícias no mundo foi criada pelo artista americano Richard Outcault, em 1895. A linguagem das HQs, tal qual conhecemos hoje, com personagens fixos, ações fragmentadas e diálogos dispostos em balõezinhos de texto, foi inaugurada nos jornais sensacionalistas de Nova York com uma tirinha de Outcault, chamada The Yellow Kid, e fez tanto sucesso que acabou sendo disputada por jornais de renome. 

Claro que esse modelo utilizado por Outcault não surgiu do acaso, pois as histórias em quadrinhos mais antigas surgiram nos primórdios, basta lembrar que os homens das cavernas comunicavam-se através das pinturas rupestres, contando através de desenhos a saga diária de nossos ancestrais na luta pela sobrevivência. Bom, voltemos aos tempos modernos.



AS ADAPTAÇÕES DE TEXTOS CLÁSSICOS


O termo “adaptação” tende a ser compreendido como o recurso que permite uma série de modificações que geralmente não são as características tradicionais da tradução. Ao adaptador seria concedida maior liberdade, uma vez que há uma tendência a se considerar a adaptação sob o ponto de vista da intenção comunicativa e do destinatário, ao passo que, na tradução, a preocupação maior é com uma linguagem mais objetiva, mais centrada no texto de origem.

O início da literatura infantojuvenil brasileira é marcado por traduções e adaptações de textos clássicos. Carlos Heitor Cony (2006) diz que:

Em “As adaptações dos clássicos e a voz do Senhor”, é otimista em relação às adaptações, afirmando não ser uma prática condenável, e muito menos plagiosa e/ou pasticheira, mas, muitas vezes, de caráter honesto, funcionando como um caminho para que se conheça o original.

Por meio da leitura de bons livros é que as crianças podem passar a morar neles, vivenciar experiências únicas, fazer uso correto de suas solidões, como já demonstramos na afirmação do norte-americano Harold Bloom no início de nosso livro.


 ADAPTAÇÃO DE CHAPEUZINHO VERMELHO

Em um reino tão tão distante, passava um caçador despercebido pelos olhares dos guardas do rei Miguel. Montado na sela do seu cavalo, o caçador adentrava na densa floresta a procura de animais para caçar, após muita procura o caçador desiste e resolve achar um lugar para acampar e passar à noite, logo à vista encontrou uma casa adorável.

Após bater algumas vezes, foi recebido por uma menina de capuz vermelho que se apresentou como chapeuzinho vermelho. Chapeuzinho era uma menina doce e gentil e com toda a sua bondade, ofereceu a casa pro caçador passar à noite. Assim que entrou, Chapeuzinho perguntou se ele poderia acender a lareira para que ficassem mais aquecidos. Enquanto ele acendia, a doce garota lhe apresentou sua avó. Depois da janta, todos foram dormir.

Logo ao amanhecer, o caçador resolveu partir e a vovó pediu uma carona até a verdureira. O caçador e a vovó subiram no cavalo e passo a passo entraram na floresta. Chapeuzinho que virou à noite no computador, acorda meio dia e se depara com a casa vazia. Rapidamente ela se arruma e sai atrás do caçador para cobrar a taxa da estadia, no caminho ela para e liga de um orelhão para os soldados do reino. Assim que os soldados receberam a denúncia, montaram uma guarda para espiar o caçador.n (Cler Lisot e Thayná Laube).

Chapeuzinho Vermelho é um livro infantil do gênero conto de fadas. Tal gênero também tem suas particularidades que acabam por estimular o interesse do público infantil até os dias atuais. Bettelheim (1980, p. 153) comenta que os contos de fadas “[...] começam exatamente onde a criança está emocionalmente, mostrando-lhe para onde ir e como fazê-lo.” Ainda mais importante, eles o fazem “[...] na forma de material fantasioso que a criança pode moldar como lhe parecer melhor, e por meio de imagens que tornam mais fácil para ela compreender aquilo que é essencial que compreenda” .

É de adaptações de textos clássicos e de contos de fadas que provém e se fortalece a literatura para jovens leitores. Compilados pelo francês Charles Perrault, no século XVII, adaptando-os de narrativas populares e revestindo-as de valores da burguesia, e pelos famosos alemães Jacob e Wilhelm, conhecidos irmãos Grimm, no século XIX, os contos de fadas não foram escritos especialmente para as crianças bem como não faziam parte da educação burguesa. Esses contos, anônimos e, portanto, recolhidos do seio do povo – do folclore popular –, eram ligados às camadas inferiores e estabeleciam conexões entre a situação social e a condição servil.  

Embora as adaptações ainda dividam opiniões, sua importância e presença não podem ser ignoradas, porque elas são parte do acervo de leitura para jovens leitores. Mas, reconheço, concordando com a professora, escritora e ensaísta Nelly Novaes Coelho, em texto publicado no Jornal do Alfabetizador, em 1996, intitulado “O processo de adaptação literária como forma de produção de literatura infantil”, que esse processo deve ser desenvolvido com rigor, o que exige do adaptador um trabalho vigoroso em três níveis, a citar: nível da composição, da estrutura narrativa; nível da personagem e nível do discurso.

Abarcando esses três níveis, o processo de adaptação atingirá uma recriação simplificadora da linguagem narrativa, suscetível de agradar ou estimular os jovens leitores.

Assim, por meio desses materiais preexistentes, como os clássicos e os contos de fadas, essa literatura começou a constituir o seu acervo. Por possuírem um conteúdo onírico latente e abrigarem a presença do elemento mágico, que auxilia os personagens a vencerem dificuldades, por exemplo, os contos de fadas se mostraram mais apropriados aos leitores mirins. Dessa forma, o folclore europeu foi sendo constituído por narrativas de transmissão oral, cujo sucesso fez com que migrassem para diferentes partes do mundo.


Como trabalhar a literatura na escola, aliando o prazer da leitura à formação de leitores e à aprendizagem de conteúdos relacionados a diversos campos do saber?

Para ensinar literatura, o professor precisa saber o que é literatura, quais são os textos que representam a literatura brasileira em seus movimentos mais importantes, como ela pode ser introduzida paulatinamente na sala de aula e como os alunos vão se familiarizando com textos, nomes e autores.

Os que somos dominados pela paixão da leitura e nos esforçamos para incutir essa paixão em outros – crianças, jovens, adultos – andamos sempre à procura de meios de “contaminação”: como transmitir o gosto e o prazer da leitura. (SOARES, 2007, p. 127).

A literatura, mais do que instruir ou dar respostas exatas, busca mostrar que é um campo privilegiado de aprendizagem expressiva, pelo que ela pode mostrar de significados, de possibilidades interpretativas, a partir de infinitas combinações das poucas letras de nosso alfabeto. 

Para ensinar literatura, o professor precisa saber o que é literatura, quais são os textos que representam a literatura brasileira em seus movimentos mais importantes, como ela pode ser introduzida paulatinamente na sala de aula e como os alunos vão se familiarizando com textos, nomes e autores. 

A literatura, mais do que instruir ou dar respostas exatas, busca mostrar que é um campo privilegiado de aprendizagem expressiva, pelo que ela pode mostrar de significados, de possibilidades interpretativas, a partir de infinitas combinações das poucas letras de nosso alfabeto.


Primeiro passo é deixar que tragam livros mesmo sem os ter lido. Comentar as capas, os autores, os títulos, o número de páginas, o enredo e os personagens daqueles que se conhece... Depois cada um poderia ler uma página, trocar, comentar. 
Deve-se até, num primeiro momento, respeitar a indiferença ou o alheamento da atividade por alguns deles. A partir deste contato, dar algumas atividades sistematizadas ainda que sejam com alguns clássicos da literatura infantil e juvenil.

É importante não perdermos de vista que contar histórias é uma história muito antiga, e a prosa se aprende aí. Alguns romances devem, mesmo no ensino médio, ser contados pelos professores antes de serem analisados.

É preciso também não esquecer que a literatura faz parte de uma outra etapa da escola: não mais da informação (que secciona o saber), mas da formação e da transformação. O bom leitor de literatura é aquele que faz da leitura uma ação vertical capaz de ampliar as relações do texto com a sociedade e com a cultura.



A obra não é aquilo que foi escrito e colocado na estante. Todo texto, todo livro pode ser singularmente interpretado. Deles provém o saber literário, que deve ir muito além das cronologias, das biografas, dos estilos de época. Deve dialogar com as outras disciplinas e outras áreas do conhecimento. 

É preciso também não esquecer que a literatura faz parte de uma outra etapa da escola: não mais da informação (que secciona o saber), mas da formação e da transformação. O bom leitor de literatura é aquele que faz da leitura uma ação vertical capaz de ampliar as relações do texto com a sociedade e com a cultura. 

Considerando a importância da literatura para a compreensão da realidade e o desenvolvimento do espírito crítico, acreditamos que o aluno, depois de ter realizado um efetivo estudo de obras literárias, provavelmente sairá dessa experiência com uma apreensão mais ampla do mundo circundante, mais sensibilizado para situações que o envolvem e mais preparado para atuar como elemento modificador de sua realidade. Zinani & Santos (2002)

A leitura literária deveria ser mais valorizada como meio do aluno desenvolver a criatividade e a imaginação na interação com textos que inauguram mundos possíveis, baseados na construção da realidade empírica. É preciso que a escola amplie mais suas atividades, visando à leitura da Literatura como atividade lúdica de construção e reconstrução de sentidos. Assim, a função da Literatura vai funcionar com precisão.

 MARIA ROSA
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