LITERATURA E POLÍTICA
A cultura é uma coisa apavorante para os ditadores.
Um povo que lê nunca será um povo escravo. (António Antunes)
A
política e a literatura estão cada vez mais próximas e é bem comum lermos
textos ou livros assinados por algum político. Para citar um exemplo, não é
necessário ir muito longe: Michel Temer , atual presidente da república, é
autor de três livros, o mais recente é "Anônima Intimidade " , de
2012, mas ele também escreveu "Democracia e Cidadania", de 2006, e
"Elementos de Direito Constitucional", de 1982.
Externando a ditadura militar Brasileira, Chico
Buarque foi seu melhor pintor, usando como pincel as palavras, como tinta a
poesia e como tela a canção. (Janiceli )
Ditadura
militar ou regime militar é uma forma de governo
autoritário onde o poder político é efetivamente controlado por militares. Como
qualquer ditadura ou regime, ela pode ser oficial ou não e também existem
formas mistas, onde o militar exerce uma influência muito forte, sem ser
totalmente dominante. A maior parte dos regimes militares são formados após um
golpe de Estado derrubar o governo anterior.
Regime militar é um governo controlado por militares, sendo que maior parte dos regimes militares são formados após um golpe de Estado derrubando o governo anterior. Regimes militares geralmente são criticados pelo pouco zelo aos direitos humanos e usa todos os meios necessários para silenciar os adversários políticos, que são vistos como opositores.
Pode-se definir a Ditadura
Militar como sendo o período da política brasileira em que os militares
governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a 1985. Caracterizou-se pela falta
de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política
e repressão aos que eram contra o regime militar. Essa época foi marcada por:
* Período de opressão
política
* Falta de liberdade de expressão
* Censura cultural (DCDP-divisão de censura de diversões
públicas)
*
Torturas, prisões e mortes
* Promulgação de Atos Institucionais
*
Cassação de mandatos
*
Impacto na cultura e nas artes.
O
século XX ficou marcado como o século dos genocídios. A presença de regimes
opressivos e totalitários, que se mantiveram através da força bruta, originaram
os métodos científicos de tortura, disseminados por todas as nações do planeta.
Quem pensa que a tortura é fruto do século que passou engana-se, desde os
primórdios da história universal que o homem convive com ela.
Dos antigos egípcios aos mesopotâmios, da inquisição medieval aos regimes totalitaristas nazistas, fascistas e stalinistas; a tortura foi uma forma que se desenvolveu para extrair depoimentos de oposicionistas, intimidar a população e consolidar os governos ilegítimos, construídos sem a participação ou o consentimento popular
Dos antigos egípcios aos mesopotâmios, da inquisição medieval aos regimes totalitaristas nazistas, fascistas e stalinistas; a tortura foi uma forma que se desenvolveu para extrair depoimentos de oposicionistas, intimidar a população e consolidar os governos ilegítimos, construídos sem a participação ou o consentimento popular
As torturas utilizadas no Brasil durante a ditadura militar, têm uma estreita ligação com técnicas desenvolvidas através de experimentos como os do Projeto Mkultra. Essas técnicas foram trazidas para o Brasil pelos militares e agentes policiais que frequentaram a Escola das Américas.
Vários membros da força policial brasileira e militares foram treinados por especialistas em tortura que vieram para o Brasil com o objetivo de difundir os métodos e meios de interrogatório compilados pela CIA. Foi o caso do conhecido Dan Mitrione.
VÍTIMAS / TORTURAS
DITADURA MILITAR
VÍTIMAS / TORTURAS
O período conhecido como Ditadura Militar durou de 1964 a 1985. Neste intervalo, vários inquéritos e depoimentos apontaram a tortura física e psicológica como expediente utilizado por membros do governo e grupos militares com o objetivo de controlar a população.
A própria tortura das mulheres era diferente daquela destinada ao homem. Para além das perversidades que eles sofriam, elas foram alvos sistemático de violência sexual. Muitas grávidas sofreram abortamentos forçadas as sessões de tortura. Assista ao vídeo
A própria tortura das mulheres era diferente daquela destinada ao homem. Para além das perversidades que eles sofriam, elas foram alvos sistemático de violência sexual. Muitas grávidas sofreram abortamentos forçadas as sessões de tortura. Assista ao vídeo
Muitos inocentes foram presos.
Estes sofriam mais. Por não ter o que dizer e confessar eram vistos com
desconfiança, cada vez as torturas que sofriam se intensificavam. A violência
política não foi aplicada somente aos que eram suspeitos de estarem lutando
contra o governo. Uma reportagem publicada na folha de Londrina em 27 de
fevereiro de 1970, trazia informações sobre a denúncia de um inocente que
estava sendo torturado em uma delegacia.
Em outros casos, eram aplicados choques elétricos em seus órgãos genitais, com ameaças de que não conseguiriam mais engravidar, foram estupradas por vários agentes do estado. nem as crianças foram poupadas do terror: algumas mulheres foram torturadas em frente aos seus filhos ou foram impedidas de amamentá-los. Crianças também foram torturadas física e psicologicamente para atingir suas mães.
Em outros casos, eram aplicados choques elétricos em seus órgãos genitais, com ameaças de que não conseguiriam mais engravidar, foram estupradas por vários agentes do estado. nem as crianças foram poupadas do terror: algumas mulheres foram torturadas em frente aos seus filhos ou foram impedidas de amamentá-los. Crianças também foram torturadas física e psicologicamente para atingir suas mães.
A política implantada reprimiu todas as formas de pensamento, sobretudo aquelas
ligadas diretamente à intelectualidade da nação.
A ditadura frustrou e censurou todos os meios de
comunicação existentes no País e impediu o surgimento de lideranças nacionais
que ficaram ausentes por muito tempo.
Caracterizou-se:
└─►pela falta
de democracia;
└─►supressão
de direitos constitucionais;
└─►Censura;
└─►perseguição
política;
└─► repressão
aos que eram contra o regime militar
Repressão da década
de 60 e 70
Após esta breve retrospectiva histórica, o que
presenciamos na contemporaneidade Em
2011, quarenta e sete anos depois, a presidenta
Dilma Rousseff (ela mesma vítima da ditadura) sanciona a lei da Comissão Nacional da Verdade
com atuação até dezembro de 2011.
O fim da ditadura militar no Brasil aconteceu em 1985, 20 anos, sendo João Figueiredo o último presidente deste período. As lutas em defesa da democracia se intensificam e, por meio das Diretas já, finalmente extinto o regime militar no ano de 1985.
Em 2008 a Ordem dos Advogados do Brasil pediu a
revisão da lei da Anistia no que tange o perdão a todos os “crimes políticos”,
no entanto, teve o pedido negado pela justiça.
O
comando das forças armadas (exército, marinha e aeronáutica) assumiu o controle
político do país, sendo o autoritarismo
sua principal característica. O regime fora do mercado por ondas de violência e
arbitrariedade, cujos procedimentos repercutiram nas condições de vida da população por meio da
censura aos meios de comunicação (jornais,
revistas, televisão, rádio, etc.), comandadas por órgãos de repressão.
Reação popular
└─► Passeata dos cem mil
└─► Manifestação de estudantes
└─► Estratégias dos intelectuais –composições
musicais
└─► CPC –Centro popular de cultura: levar arte ao povo, apesar dos
riscos.
└─► Meios culturais mais acessíveis: teatro,
cinema e musica (comunicação mais rápida), pois a população não tinha muito
acesso à leitura de obras literárias
└─► Renovação da música popular brasileira,
transformando-se
em uma forma de combate contra a ditadura.
em uma forma de combate contra a ditadura.
A
repressão política e cultural manifestou-se em diferentes segmentos
sociais com imposição de normas severas,
como a promulgação de Atos Institucionais (AIs). Para uma melhor compreensão,
veja o que significaram os Atos: Os Atos institucionais consistiam num conjunto
de normas superiores, que se sobrepunha à Constituição Federal
Os
Atos tiravam os direitos dos partidos políticos dando ao poder militar a legalidade
de repressão física e contra os meios culturais do país.
Uma das primeiras providências dos regimes autoritários é restringir a
liberdade de expressão e opinião; trata-se de uma forma de dominação pela
coerção, limitação ou eliminação das vozes discordantes. Durante a ditadura
militar brasileira (1964-1985) cerca de 140 livros de autores brasileiros foram
oficialmente vetados pelo Estado.
A repressão teve início mesmo
antes de a ditadura se instalar por completo no país, em 1964. Legalistas,
apoiadores do governo João Goulart, começaram a ser presos em Minas Gerais,
simultaneamente à saída das tropas comandadas pelo general Mourão em direção ao
Rio de Janeiro, com o apoio do governador mineiro, Magalhães Pinto.
Na ex-capital federal, no mesmo
31 de março, o governo de Carlos Lacerda reprimiu, espancou e prendeu os que se
atreveram a ir às ruas do Rio protestar. Repressão e resistência sempre
estiveram lado a lado, destaca o professor Enrique Padrós, do Departamento de
História e do Programa de Pós-Graduação (PPG) – História da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Movimento
estudantil
O foco da resistência ao regime militar no Brasil
Maior manifestação de rua desde 1964 marca o auge
Maior manifestação de rua desde 1964 marca o auge
da
resistência democrática
Em 1968, estudantes se
uniram para combater o regime militar. A foto é da Passeata dos Cem Mil,
considerada a mais importante manifestação da resistência. O movimento
estudantil, desde 1967 já era considerado o grande incômodo dos militares.
O ano de 1968 fora considerado o mais tenso do regime, com
ocorrência de uma série de eventos violentos organizados pelos militares. Uma
das causas apontadas para a intensificação da repressão fora a revolta de
reação do povo em função do assassinato do estudante Edson Luís no dia 28 de
março do ano em questão.
IMPACTO
NAS ARTES E NA CULTURA
A
cultura brasileira sofreu sérias repressões. Artistas eram vistos como inimigos
e, portanto, proibidos de liberdade de expressão. A Arte revolucionária dos
anos 60 tinha o intuito de sensibilizar-se com o modo de vida dos mais
necessitados.
Nesse
período, a cultura brasileira sofreu sérias repressões. Artistas eram vistos
como inimigos e, portanto, proibidos de liberdade de expressão. Todo movimento
de expressão cultural era submetido à censura.
Foi
criado o: DCDP (Divisão de Censura de Diversões Públicas), específico para
fiscalizar o mundo artístico. Representantes dessa divisão eram vistos
constantemente em shows e espetáculos, controlando rigorosamente o que era
apresentado.
Os
militares criaram também o Conselho Superior de Censura e os Tribunais de
Censura para julgar mais rápido aqueles que infligissem as leis estabelecidas
pelo rígido governo.
Muitos brasileiros foram perseguidos,
exilados, torturados e mortos pelos órgãos de repressão política. Entre os
intelectuais pairou um clima de tensão e pânico. Nas universidades, as
condições de trabalho tornaram-se delicadas. Ocorriam demissões em massa, aposentadorias
antecipadas e publicações suspensas.
Contudo,
apenas 9 anos após a decadência dos movimentos estudantis e da UNE,
especificadamente em 1977, os estudantes viram uma saída para sua ascensão, os
atos públicos voltavam a se estender por todo o país.
Pouco
a pouco o movimento ia ganhando força. A insatisfação popular ia se generalizando,
assim como também a violência policial durante os movimentos repercutia
negativamente e com isso enfraquecia aos poucos a ditadura.
Pode-se
dizer que os anos 70 e 80 foi um período de avanço aos movimentos, porém vale
lembrar que muito do que aconteceu de 64 a 68 foi significante para que o povo pudesse
ter um esclarecimento sobre o que de fato acontecia durante o Regime Militar.
Os
movimentos estudantis com a intensa participação da UNE, por sua vez, foram de caracteres
indispensáveis para uma nova redemocratização no Brasil assim como também a volta
dos direitos políticos e o fim da Ditadura Militar.
Nesse período, a cultura brasileira
sofreu sérias repressões. Artistas eram vistos como inimigos e, portanto,
proibidos de liberdade de expressão. Todo movimento de expressão cultural era
submetido à censura. Foi criado o: DCDP (Divisão de Censura de Diversões
Públicas), específico para fiscalizar o mundo artístico. Representantes dessa
divisão eram vistos constantemente em shows e espetáculos, controlando
rigorosamente o que era apresentado.
Os
militares criaram também o Conselho Superior de Censura e os Tribunais de
Censura para julgar mais rápido aqueles que infligissem as leis estabelecidas
pelo rígido governo.
Houve experiências idealistas e bem intencionadas como as ações dos movimentos estudantis representadas pela UNE através do CPC (Centro Popular de Cultura) que procurou levar a arte ao povo, apesar dos riscos. A arte popular revolucionária propunha uma tomada de posição coletiva. Qualquer projeto individual fracassava naqueles anos difíceis.
É bastante frisado nas escolas que a música se destacou na luta contra a repressão cultural da época da ditadura. Inegável o forte apelo que Chico Buarque, Caetano Veloso, dentre outros grandes nomes fizeram perante esse período. Mas... onde estava a literatura no meio disso tudo?
LITERATURA
E ENGAJAMENTO
conhecida como literatura denúncia
"A literatura não toca somente os
sentimentos, mais a consciência"
conhecida como literatura denúncia
"A literatura não toca somente os
sentimentos, mais a consciência"
A literatura engajada é uma arte que comove o leitor e muitas vezes causa indignação. Sugere que o artista vê o mundo de outra maneira, reflete o mundo o que o sensibiliza. A literatura é engajada quando assume uma forma de crítica social à realidade, servindo as causas ideológico, como:
└─►Engajamento político
└─►Denúncia social
└─►Reflexão do escritor sobre o cenário político
└─►Participação das discussões sociais e políticas
└─►Temas voltados para a realidade das classes menos favorecidas
└─►O escritor coloca os seus valores naquilo em que acredita.
O escritor engajado é aquele que se propõe a participar das discussões sociais e políticas. Que sua escrita responde às urgências do momento.
O escritor engajado se coloca no centro da problemática que anuncia, implica colocar os seus valores naquilo que acredita e estar preparado para as consequências dos seus atos.
Escrevemos
por prazer, para qualificar o tempo, para mergulhar em nosso intimo emocional.
E também escrevemos para organizar ideias, disseminar informações, promover consciência... Ou seja, usamos nosso talento e desenvoltura
com as palavras para lutar por uma causa. O nome disso é literatura engajada e
tem papel fundamental nas transformações sociais, na medida em que expande
mentes.
Vidas Secas
de Graciliano Ramos retrata
fielmente a realidade brasileira não só da época em que o livro foi escrito,
mas também dos dias de hoje, apontando problemas sociais, tais como injustiça
social, miséria, fome, desigualdade e seca, o que nos remete a ideia de que o
homem se animalizou sob condições sub-humanas de sobrevivência.
O
engajamento implica numa reflexão do escritor sobre as relações que trava a
literatura com a política e com a sociedade em geral. Muitos nomes da
literatura mundial ousaram denunciar em suas obras a realidade crua da
indiferença e dos sentimentos mais mesquinhos dos homens.
Cada
indivíduo tem condição de transformar, seja sua própria vida, seja a vida de
sua casa, seja a vida de sua rua, cidade, país. Acredita-se que temas
relevantes para a vida de cada ser humano e da sociedade podem e devem ser
tratados pela literatura, respeitando-se o direito da livre expressão com
responsabilidade.
Segundo Dennis (2002, p.9), literatura engajada “designa uma prática literária estreitamente associada à política, aos debates gerados por ela e aos combates que ela implica.
O escritor engajado participa das discussões sociais e
políticas resultando em inovações literárias, em geral,
culminando no afrouxamento do purismo estético
Muitos nomes da literatura
mundial ousaram denunciar em suas obras a realidade crua da indiferença e dos
sentimentos mais mesquinhos dos homens. Autores que fizeram de suas obras um
engajamento política. Eles perceberam que a sensibilidade estética pode se
tornar uma forte arma contra as barbaridades do mundo moderno, como o
preconceito, a violência e a massificação das consciências.
Portanto, literatura engajada
não é uma prerrogativa da modernidade que está associada aos debates sociais e
políticos, uma literatura associada às urgências de um dado contexto,
colocando-se muitas vezes no centro da realidade que anuncia.
Autores brasileiros comprometidos
com a literatura engajada
O período da Ditadura Militar, decorrente do Golpe de 64, foram instaladas algumas
regras, dentre as quais a proibição de reuniões com mais de três pessoas e o
discurso político nas universidades, além de censura à imprensa e substituição
da Constituição pelos Atos Institucionais. Nesse contexto, Assis Brasil
publicou a maioria de suas obras dentre elas, Os que bebem como cães, onde o
enfoque principal é o personagem, professor de literatura que foi preso por
contradizer o sistema vigente.
Os
que bebem como cães, livro-denúncia, dribla com elegância a linguagem
referencial e se instala, de imediato, no plano da literatura sem o entrave dos
demais. A lição do absurdo é assimilada, restando ao romancista armar-se
através do narrador que vive em uma cela em completa escuridão, na quase
imobilidade.
Quando abandona a cela para lavar-se no pátio não
pode olhar para os lados. É-lhe proibida a visão de seus próprios companheiros
de infortúnio. A passagem do tempo é marcada através da satisfação das
necessidades anímicas.
A obra fica sugerido que Jeremias é um preso
político, logo, o narrador denuncia as atrocidades cometidas contra os detentos
e descrever com detalhe a situação degradante do cotidiano dos presos.
A obra narra a história de Jeremias, professor de
literatura, na prisão. O teor
testemunhal nesta obra se dá por meio de um narrador em 3ª pessoa que denuncia
a experiência de outros.
Renato foi preso em 1977 quando saia da redação do jornal em que trabalhava, foi levado ao DOPS e ficou enclausurado no presídio paulistano do Carandiru entre 1969 a 1974. Boa parte da obra Em câmara lenta fora escrita na prisão de forma clandestina, os manuscritos eram entregues ao pai que se encarregava de datilografar.
O romance, Em câmara lenta de Renato Tapajós,
enquadra-se no chamado romance engajado. Em forma de flash back, o autor
ressignifica a experiência da guerrilha, da qual participara como militante da
Ala Vermelha, uma dissidência do Partido Comunista do Brasil (PC do B). A obra
traz uma reflexão do período de maior truculência do regime (1968 a 1973) que
marcou de maneira mais profunda aqueles a que a ele se opuseram.
Outras obras dessa época
Ga A Graúna - Henfil
Ga A Festa - Ivan Angelo
Ga Pessach A Travessia - Carlos Heitor Cony
Ga Faz Escuro Mas Eu Canto - Thiago de Mello
Ga Romance Quaruo - Antônio Callado
As memórias estão na ficção há
muito tempo e têm como característica uma
narração que constrói imagens, reflexos do coletivo, do social por meio
das metáforas ou por meio das alegorias.
No que diz respeito à ditadura
militar, os romances que se enquadram historicamente nesse período, ou seja, os
romances que se passam no período ditatorial brasileiro (não que foram,
necessariamente, publicados nessa época) são marcados por memórias e costumam
observar tanto de dentro quanto de fora os acontecimentos e os fatos históricos
de um período tenebroso do Brasil.
LITERATURA DE TESTEMUNHO
A literatura de testemunho apresenta-se sob duas perspectivas: narrativa em 1ª pessoa dos que foram vítimas de violência; em 3ª pessoa dos que foram vitima de violência psicológica, impedidos de liberdade de expressão, como os jornalistas.
A literatura de testemunho atua na fronteira
do real e ficcional, relata acontecimentos reais por meio de procedimentos
próprios da literatura perpassando o plano imaginário do escritor.
Os romancistas dos anos 70 têm em comum uma
literatura que passa pelo plano da reformulação dos acontecimentos. Uma
literatura de conscientização e de reflexão, reformulada pelas impressões do
artista.
Enunciação de si
Os escritores falam sobre suas vidas ou de alguém a quem eles
conhecem ou histórias que ouviram
conhecem ou histórias que ouviram
Literatura voltada para a própria realidade
Narrativas em primeira pessoa
Uma literatura de conscientização e reflexão
O mundo ficcional é reforçado por sentimentos que
permeiam o mundo social
permeiam o mundo social
A literatura se fixa entre o real e o imaginário, já que é literatura
Retrata experiências do trauma
No
plano literário, o testemunho deve ser visto sob a perspectiva
da problematizarão da representação. Vale lembrar que o
testemunho envolve não somente aquele que vivenciou o fato, mas também o
que, de alguma forma, o notícia. Aquele que se determina a escutar
torna-se também testemunho dos fatos. São características dessa literatura:
· Quebra de paradigmas
· Discussão de novas posturas sobre o fazer artístico
· Avanços técnicos na produção musical, lançados internacionalmente pela cultura pop.
· Questionamentos ideológicos, inovação estética.
· Ideias múltiplas, ecletismo.
· Confronto com o pensamento de esquerda e de direita
· Interesse pelo nacional
· Experiências com o Rock’n’roll
· Não era prática a canção de protesto
· Manifestou-se principalmente na música e no comportamento
Contribuições
Ø
Sedimentação da cultura jovem
Ø Experimentação na
linguagem
Ø Suas músicas
foram consubstanciadas na própria tradição da canção brasileira
Ø A arte entra em
uma dinâmica de consumo e passa a considerar o plano da arte enquanto
mercadoria, consumo de massa, indústria musical.
Ø Aumentou o
repertório musical brasileiro
Ø
A contribuição maior da Tropicália para a década seguinte, e
quiçá para a canção brasileira dali pra frente, foi a “libertação” da canção do
aparelhamento dos gêneros.
·
A produção cultural dos anos 70 é marcada pelos
seguintes elementos:
Fe busca da pluralidade, alimentando-se de vários
ritmos musicais.
Fe subordinação aos valores estáveis da cultura.
Fe influência
da canção pop internacional
Os romancistas dos anos 70 têm
em comum uma literatura que passa pelo plano da reformulação dos
acontecimentos. Uma literatura de conscientização e de reflexão, reformulada
pelas impressões do artista.
É um tipo de escrita cujo foco central é narrar um
acontecimento, na maioria das vezes, traumático e que, por determinadas razões,
tem reverberações políticas, históricas e sociais. Por ter vivido ou conhecido alguém que viveu
aquele acontecimento, o escritor julga importante registrar este ponto de vista
sobre determinado evento.
As narrativas literárias de resistência tendem a instaurar
uma enunciação de si, cujos narradores são testemunhos de uma realidade vivida
em um dado momento.
Segundo Malard (2006) a literatura que se configurou a partir dos anos 70 no Brasil divide-se em dois grupos de escritores:
# O de jovens revolucionários da classe média,
vítimas de violência policial;
# O de escritores e jornalistas vítimas de
violência psicológicas imposta pela censura
A
partir da sua própria construção, a literatura de testemunho coloca em questão
a relação entre a literatura e o real.
Ela nos convoca a repensar, portanto, sobre o discurso não-ficcional,
sobre o discurso histórico e a sua
relação com o discurso literário.
De
1970 a 1980 foram produzidas centenas de obras que se delineiam pelo teor testemunhal.
Uma literatura de conscientização e de reflexão acerca do que se passara nos porões da ditadura, como torturas,
estupros, desaparecimentos. Sobre a relação entre o escritor e o meio social,
Cândido considera que:
[...] o escritor em uma determinada sociedade, é não apenas o indivíduo capaz de exprimir a sua originalidade, (que o delimita e especifica entre todos), mas alguém desempenhando um papel social, ocupando uma posição relativa ao seu grupo profissional e correspondendo a certas expectativas dos leitores ou auditores. A matéria e a forma da sua obra dependerão em parte da tensão entre as veleidades profundas e a consonância ao meio, caracterizando um diálogo mais ou menos vivo entre criador e público. (CÂNDIDO, 1976, p. 74)
Os
estudos sobre o testemunho formam um campo vasto de investigação, por lidarem
com uma matéria cara a diferentes áreas que é a memória , mais precisamente a rememoração
e narração de um fato selecionado em razão de sua excepcionalidade.
Portanto,
denominamos por testemunho, grosso modo, o depoimento e/ou a fala de alguém,
comumente, em juízo, ou seja, uma fala construída a partir da recuperação da lembrança
de um evento importante para o indivíduo que dá seu testemunho e/ou para grupo
ao qual ele pertence (testemunho jurídico). Tal fala é caracterizada por primar
pela veracidade e precisão do que é dito, devido à peculiaridade e à
importância do fato apresentado.
O
testemunho em si, enquanto ato de relatar, apresenta três grandes acepções, e
estas, por sua vez, nos permitem perceber os contornos das proposições que abordam
a relação entre literatura e testemunho.
A música popular passa a ser o espaço "nobre", onde se articulam, são avaliadas e interpretadas as contradições socioeconômicas e culturais do país, dando-nos por tanto seu mais fiel retrato. (Silviano Santiago)
Tropicalismo caracterizado como um movimento libertário e revolucionário, buscava se afastar um pouco do intelectualismo da Bossa Nova a fim de aproximar a música brasileira dos aspectos da cultura popular, do samba, do pop, do rock, da psicodelia. Interessante observar que essa experiência estética aberta, sincrética e inovadora lançada pelos tropicalistas, mudou não somente a música popular brasileira, mas o panorama da cultura em geral, em busca da modernidade do país.
Tropicalismo, Tropicália ou Movimento Tropicalista foi um movimento ocorrido na cultura brasileira na década de 60, surgindo no ano de 1967 e se delineia pela quebra de paradigmas porque não seguiam o perfil ideológico esboçado pelos ideais socialistas que circulavam na área cultura em plena ditadura militar brasileira – que foi originado graças à influência da cultura pop nacional e internacional (concretismo) e de correntes artísticas tendencialmente de vanguarda.
Quando chegou a década de 60, o Brasil vinha em forte desenvolvimento industrial, inclusive da produção cultural e os próprios meios de comunicação da época, como por exemplo, o rádio e a televisão, vinham em pleno crescimento e desenvolvimento.
Obras
literárias dos anos de 1970 marcadas
pelo
teor testemunhal
A
Produção Literária do contexto da década de 70/século XX denuncia as mazelas
sofridas pela militância e reproduz os anseios de mudanças na conjuntura
social, já que a ditadura reprimia todos os atos e formas de pensamento contrários ao governo.
O
testemunho literário opera no plano transistórico, já que transcende a
fronteira do real. O que é relatado não se acomoda em contextos, está no plano
limítrofe entre real e imaginário.
O escritor desse contexto se coloca no centro da problemática que anuncia porque as produções desse momento vão se revestir de uma perspectiva engajada. Essas denúncias são retratadas em muitas obras, como:
e Em
liberdade, de Silviano Santiago
e Sombra
de reis barbudos, de J. J. Veiga
e Os sinos
da agonia, de Autran Dourado
e Rabo
de foguete, de Ferreira Gullar
e Grande
Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa
Ademais,
o escritor lança mão de procedimentos discursivos próprios da literatura que
terminam por afastar ainda mais os fatos do real ao passar pelo plano da
reelaboração, já que o vivido é reorganizado pela escritura.
O que é um trauma?
Como ele se define?
Como se manifesta
nas vítimas de uma violência extrema?
Qual a sua
repercussão na arte e na literatura em particular?
O trauma é uma dor que
deixa uma cicatriz impagável na vítima. Para Sigmund Freud, o trauma externo
está destinado a provocar um distúrbio em grande escala no funcionamento da
energia do organismo e a colocar em movimento todas as medidas defensivas possíveis.
No momento em que ocorre essa ruptura do aparelho protetor, a vítima é
acometida por desprazeres, pois, além de ficar susceptível a ameaças externas,
ela fixa a cena que lhe causou o trauma e passa a repeti-la constantemente.
O trauma,
portanto, é uma ferida não cicatrizada presente na memória dos indivíduos que
viveram uma experiência limite de dor ou de violência.
POÉTICA DOS ANOS 60/70
Uma
das tendências poéticas dos anos de repressão é a “poesia marginal”, tendo como
peculiaridade atitude dos poetas diante da própria produção e da postura
existencial diante do retrocesso político e moral.
A Poesia Marginal foi
uma nova concepção artística que surgiu na década de setenta, durante um
período de forte repressão e censura imposta pela ditadura militar. Esse
período cultural, também chamado de Geração Mimeógrafo, foi marcado pelo
inconformismo com a considerada "cultura oficial", alterando o
comportamento do poeta face à sociedade.
Poetas que integram a Poesia Marginal
Fe Chacal
Fe Ana Cristina Cesar
Fe Torquato Neto
Rápido e rasteiro
vai ter uma
festa
que eu vou
dançar
até o
sapato pedir pra parar.
aí eu paro
tiro o
sapato
e danço o
resto da vida.
(Chacal)
Características
da Poesia Marginal
- Inconformismo com “cultura oficial”
brasileira;
- Inconformismo com os moldes literários
impostos pela academia;
- Inconformismo com a censura imposta pela
ditadura;
- Proposta de uma constante inovação poética,
pautada pela inventividade artística e a vitalidade criativa;
- Inspiração nos movimentos de contracultura...
No momento, o Brasil passava por momentos de conflito como o Golpe de 64, a censura, as greves, os movimentos estudantis, que culminaram num regime ditatorial no país. Após o declínio da Bossa Nova, o novo movimento que surge, a saber, a MPB, foi o fulcro necessário para que um conjunto de artistas, denominados "Tropicalistas", se reunissem com objetivos de libertação e mudanças no panorama cultural brasileiro
A música popular passa a ser o espaço "nobre", onde se articulam, são avaliadas e interpretadas as contradições socioeconômicas e culturais do país, dando-nos por tanto seu mais fiel retrato. (Silviano Santiago)
Tropicalismo caracterizado como um movimento libertário e revolucionário, buscava se afastar um pouco do intelectualismo da Bossa Nova a fim de aproximar a música brasileira dos aspectos da cultura popular, do samba, do pop, do rock, da psicodelia. Interessante observar que essa experiência estética aberta, sincrética e inovadora lançada pelos tropicalistas, mudou não somente a música popular brasileira, mas o panorama da cultura em geral, em busca da modernidade do país.
A política e a poesia são demais para um homem
só
TROPICALISMO ou MOVIMENTO TROPICALISTA foi um movimento cultural
brasileiro que surgiu sob a influência das correntes artísticas da vanguarda e
da cultura pop nacional e estrangeira.
Manifestou-se principalmente na MÚSICA (cujos maiores representantes
foram CAETANO VELOSO, GILBERTO GIL, TORQUATO NETO, OS MUTANTES E TOM ZÉ). Um
dos maiores exemplos do Movimento Tropicalista foi uma das canções de Caetano
Veloso, denominada exatamente de "Tropicália".
└─►Quebra de paradigmas
└─►Discussão de novas posturas sobre o
fazer artístico.
└─►Avanços técnicos na produção
musical, lançados internacionalmente pela cultura pop.
└─►Questionamentos ideológicos,
inovação estética.
└─►Ideias múltiplas, ecletismo.
└─►Confronto com o pensamento de
esquerda e de direita.
└─►Interesse pelo nacional.
└─►Experiências com o Rock’n’roll.
└─►Não era prática a canção de protesto.
Tropicalismo, Tropicália ou Movimento Tropicalista foi um movimento ocorrido na cultura brasileira na década de 60, surgindo no ano de 1967 e se delineia pela quebra de paradigmas porque não seguiam o perfil ideológico esboçado pelos ideais socialistas que circulavam na área cultura em plena ditadura militar brasileira – que foi originado graças à influência da cultura pop nacional e internacional (concretismo) e de correntes artísticas tendencialmente de vanguarda.
Quando chegou a década de 60, o Brasil vinha em forte desenvolvimento industrial, inclusive da produção cultural e os próprios meios de comunicação da época, como por exemplo, o rádio e a televisão, vinham em pleno crescimento e desenvolvimento.
Na
área musical, esse desenvolvimento foi responsável pela expansão e
popularização de gêneros tipicamente
nacionais, como por exemplo, o forró e o samba. Contudo, esse mesmo
desenvolvimento permitiu que gêneros musicais internacionais ingressassem em
nossas fronteiras, como por exemplo: rock, jazz e a rumba.
Essa mistura de sons, de origem
nacional e estrangeira, acabou abrindo uma discussão sobre a questão de o nosso
país incorporar a música e os padrões
internacionais, pois acabava sendo uma ameaça ao nosso desenvolvimento e
identidade cultural.
A música brasileira tem muitos
estilos e todos mostram um pouco da cultura, alegria e força do nosso povo. E
houve um movimento musical que reuniu vários estilos, muitos artistas
talentosos e revolucionou a história da música brasileira. Sabe qual foi? A
Tropicália! Esse foi um movimento tão importante que ajudou até a derrubar a
ditadura no Brasil!
A Tropicália, ou Tropicalismo,
surgiu em 1967, ainda no tempo da ditadura militar. Um grupo de artistas,
cantores, poetas e compositores se reuniram para trazer algo novo para o
cenário artístico brasileiro. E conseguiram.
Os participantes mais famosos
do movimento foram os cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, a
cantora Gal Costa e o cantor-compositor Tom Zé, a banda Mutantes, e o maestro
Rogério Duprat. Outros nomes que completaram o grupo foram a cantora Nara Leão
e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto.
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
O
samba
“Apesar de você”,
de Chico Buarque,
canção
lá de 1971, no momento mais agudo da ditadura, funcionava como uma senha para
todo mundo que era de oposição, descontente com o regime militar.
Era
uma
celebração da esperança, no contexto de uma letra meio cifrada, como costumava
acontecer – não é claro quem é o “você”, mas é claro que a gente localizava
nessa pessoa qualquer figura do regime, ou apoiador do regime.
Da fundação casa de
Jorge Amado
Pra ver do alto a fila
de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
HAITI
é
uma música impactante porque abordou de peito aberto o massacre do Carandiru,
aquela truculência de Estado contra pobres presos indefesos, truculência que a
classe média aplaudia e que o Caetano e
o Gil
atacaram de modo corajoso, justamente ao celebrarem os 25 anos da Tropicália.
O
tema
parece que continua tão atual quanto na época
Brasil!
Mostra
tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim…(Cazuza)
A
canção ‘Brasil’ foi escrita pelo brasileiro Cazuza, ainda no ano de 1988,
quando não sei se por acaso ou não, em outubro do mesmo ano, instaurava-se no
país uma nova ordem constitucional.
A chamada Constituição Cidadã seria
paradigmática, na medida em que tratava da redemocratização do país, o qual
emergia de um intenso período ditatorial, cunhando, portanto, um Estado Democrático
de Direito, que tem por princípio fundamental a dignidade da pessoa humana e
por objetivos fundamentais, entre outros, a construção de uma sociedade livre,
justa e solidária; a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das
desigualdades sociais e regionais; além da promoção do bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.
A música que ficou famoso pelos dizeres "Brasil, mostra
tua cara"
atacava o status quo do momento e até hoje se mantém
atual
Enquanto
a maioria dos artistas preferiu o silêncio diante da crise política, os Titãs
causaram barulho ao escancarar o sentimento de revolta popular com o escândalo
do mensalão com versos como "Filha da
Puta! Bandido! Corrupto! Ladrão!".
Lançada no ápice da crise, em 7 de setembro, a música Vossa Excelência
incomodou parlamentares e chegou a ser boicotada em rádios de Brasília, São
Paulo e do Rio.
Sorrindo
para a câmera
Sem saber que estamos vendo
Chorando que dá pena
Quando sabem que estão em cena
Sorrindo para as câmeras
Sem saber que são filmados
Um dia o sol ainda vai nascer
Quadrado.
Sem saber que estamos vendo
Chorando que dá pena
Quando sabem que estão em cena
Sorrindo para as câmeras
Sem saber que são filmados
Um dia o sol ainda vai nascer
Quadrado.
Da geração mais atual, de Paralamas, Rappa, Titãs e tal, as coisas ficam mais explícitas ainda. Tanto a corrupção, com a denúncia dos 300 picaretas (referência à música "Luiz Inácio e os 300 Picaretas", dos Paralamas do Sucesso), quanto o caráter de classe da opressão contra os negros, "Todo camburão" (d'O Rappa), ou aquela do Farofa Carioca da mesma época, “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, são enunciadas com todas as letras.
Toda a obra de um homem, seja em
literatura, música, pintura, arquitetura ou em qualquer outra coisa, é sempre
um autorretrato; e quanto mais ele se tentar
esconder, mais o seu caráter se revelará, contra a sua vontade.
Samuel Butler
MÚSICAS QUE TENTARAM MUDAR O BRASIL
"Cálice"
/Chico Buarque e Milton Nascimento, participação de Gilberto Gil
"Como é difícil acordar calado/
Se na calada da noite eu me dano/
Quero lançar um grito desumano/
Que é uma maneira de ser escutado"
O título da música é um jogo de
palavras que mostra a ambiguidade entre "cálice" e "cale-se".
Composta em 1973 por Chico e Gil, só pode ser lançada em 1978 por causa da
forte censura do período. Pouco antes de "Cálice" ser composta, Chico
viveu um autoexílio na Itália, em 1969. Gil também esteve exilado por causa da
ditadura e só retornou ao País em 1972.
E eu digo não E eu digo não ao não
Eu digo: É! -- proibido
proibir
É proibido proibir É proibido proibir
É proibido proibir..
Caetano
Caetano
A primeira apresentação da
música, cantada por Caetano ao lado dos Mutantes no 3º Festival Internacional
da Canção, em 1968, durante a ditatura, teve péssima recepção. O público presente
no Teatro da PUC vaiou, arremessou tomates e outros objetos. Pouco depois, em
1969, Caetano foi preso pelo regime militar e partiu para exílio político em
Londres.
"Que País É Este?"
Legião Urbana
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a
Constituição
Mas todos acreditam no futuro
da nação
Que país é esse?
Que país é esse?" Que País É Este? também é o nome do terceiro disco do grupo de Brasília. Composta por Renato Russo em 1978, ainda na fase do grupo Aborto Elétrico, foi lançada somente em 1987. A letra ácida critica diretamente a política vigente e mostra o descontentamento vivido pela população no período de regime militar.
A
arte proposta pelo CPC era:
Uma arte que reivindicava um lugar ao lado do povo e uma das formas encontradas para essa proximidade foi a opção pela linearidade discursiva e uma linguagem simples.
Os textos tiveram que se
revestir de uma linguagem implícita para evitar a censura, para tanto, os
intelectuais apropriavam-se de figuras de linguagem, sobretudo a metáfora e
metonímia em suas produções.
Apesar da repressão, da impossibilidade
dos debates políticos e da liberdade de expressão, a cultura da resistência
consegue lugar privilegiado e atinge seu tão sonhado objetivo: sensibilizar a
massa.
As músicas revolucionárias
transformassem, então, num rentável negócio da produção cultural. E mesmo com a
censura, a cultura brasileira não deixou de criar e se espalhar pelo país. E apesar da repressão, a arte se tornou um
instrumento de denúncia da situação do país.
· Inovação na linguagem
Ideias
em outros movimentos Literários
· Inovação na linguagem
· Poesia visual, concretismo,
· Poesia menos cerebral, poesia marginal, poesia mimeógrafo
· A poesia foi para ruas, teatros, bares
· Poesia de confrontação social
Não há dúvidas sobre o impacto
do regime na vida e na produção literária do período, ficando evidentes as
esferas de atuação da truculência ditatorial, que vão desde a percepção e
experimentação do sujeito, o cidadão, até uma tentativa de castração da
comunicação/coletivização através da arte.