domingo, 8 de julho de 2018




Embora pouco conhecida e divulgada, a produção literária piauiense é bastante significativa, de boa qualidade, sendo objeto de estudo de pesquisadores, estudantes e professores universitários. Pode-se dizer que a literatura piauiense se tornou muito mais conhecida entre os jovens quando a Universidade estadual e a federal incluíam obras nos exames de vestibular.

Hoje, cabe aos estudantes do curso de Letras Português resgatar os autores e obras que retratam a história do Piauí. Lucídio Freitas diz que “um povo que desconhece a sua história, desconhece-se a si mesmo. É sentindo o contato das coisas mortas que podemos construir os grandes casos futuros.

Pretende-se aqui neste blog, registrar informações que se refere à literatura piauiense, aos autores que mais se destacaram e obras que jamais serão esquecidas. Continue lendo


Literatura Piauiense são a poesia, a ficção e a peça teatral (enquanto não representada) feitas no Piauí ou não, por piauienses natos ou não, glosando temas, modos de ser e costumes piauienses, seu folclore, seu ser social, enfim, o registro de emoções em nosso subdialeto ou no dialeto nordestino”.

Segundo um crítico abalizado, Herculano de Moraes (1997), Literatura Piauiense é o conjunto ou acervo de obras literárias registradoras das emoções, das paisagens geofísicas, humanas e sociais, de memória e do comportamento do povo do Piauí”.



A PRIMEIRA POLIGRAFIA DE AUTORES PIAUIENSES


A obra Dicionário de Sabedoria dos Piauienses representou um marco dentro da literatura do Piauí, pois colocou sob uma nova ótica a maneira de ser vista a primeira poligrafia de autores piauienses. As palavras, por si só, possuem uma grande capacidade de transformação quando colocadas de maneira sincronizadas dentro de concepções inovadoras e, neste caso, estas mesmas (as ideias) foram aplicadas brilhantemente na obra acima citada. 

Cada página folheada vai revelando, paulatinamente, axiomas inspirados e suas várias nuances que perpassam o limite dos padrões estabelecidos pelos pensadores. As ideias expressas em livros desse gênero, que são os fragmentos dessa obra, têm vida própria, e a sapiência tende a andar de “mãos dadas” com a criatividade. 

Diversos autores contribuindo para o engrandecimento dessa obra, com suas frases cheias de verdade, dentre os quais se destacam: Mário Faustino dos Santos e Silva; Maria Elizabeth Rego Oliveira; Eliane Madeira Moura Fé Dantas; Claudete Maria Miranda Dias; José Camilo da Silveira Filho e Cineas das Chagas Santos, entre outros.

O primeiro, dos que foram mencionados acima, nasceu em Teresina a 22 de outubro de 1930. Ele estreou em sua carreira literária publicando dois poemas em 1948, no jornal paraense Folha do Norte, intitulados Dois Motivos da Rosa e Poemas do Anjo. A linguagem poética encontrada é de estilo conciso, enxuto, e emprega poucos adjetivos. As principais figuras de linguagem utilizadas são a metáfora (alcançando tons sublimes), anáfora e antítese. A passagem transcrita abaixo, tirada de uma das poesias de Mário Faustino, ilustra tudo o que foi colocado sobre ele: “Amante: coração queimado”.


Um Olhar Sobre a Literatura Piauiense

Estudo realizado pela a pesquisadora Profª Socorro Magalhães que pesquisou o surgimento histórico da literatura piauiense, aponta que essa literatura se manifesta a partir do início do século XX. 

Professora da UESPI, e pesquisadora da literatura piauiense, sendo a obra Literatura Piauiense – horizonte de leitura & crítica literária a síntese de seu estudo, com a análise da escrita local de 1900 a 1930, com a análise da escrita local de 1900 a 1930, com informações e análises corretas.

Autora de uma tese de doutorado, defendida na PUC-RS, intitulada Horizontes de Leitura e Crítica Literária: a recepção da literatura piauiense (1900-1930), ela afirma que o período de 1900 a 1930 constitui o momento decisivo naformação do sistema literário piauiense e que “somente a partir de circunstâncias favoráveis, como a melhoria da escola, o desenvolvimento da imprensa e a instalação das primeiras tipografias em Teresina, tornou-se possível o funcionamento de um sistema literário, nos moldes preconizados por Antônio Cândido, autor do clássico A formação da literatura brasileira: momentos decisivos, onde aponta a tríade autor-obra-leitor como indispensável à formação de uma literatura propriamente dita, ou seja, um sistema literário.

Para Profª Socorro Magalhães, as primeiras produções literárias consideradas como literatura piauiense datam dos primórdios do século XIX, com o aparecimento de obras esparsas, produzidas e publicadas fora do Piauí e até mesmo fora do Brasil. 

Os historiadores da literatura piauiense divergem ao apontar autores e obras que marcariam a origem dessa literatura, uns apontam Ovídio Saraiva, com Poemas, livro publicado em Coimbra, em 1808. 
A obra Poemas é um conjunto de versos da corrente elmanista, contendo poesia sentimental, relacionada às Cortes Palacianas, sem nexo com as origens étnicas do autor. Constitui exceção reveladora de vitalidade poética no conjunto de sua obra, a letra primeira da música que seria o Hino Nacional do Brasil, refletindo um estado de revolta do autor.
Outros defendem que a literatura piauiense começa com a publicação de A criação universal, de Leonardo Castelo Branco, impresso no Rio de Janeiro, no ano 1856, período em que o poeta viveu naquela cidade; para outros, Flores da noite, de Licurgo de Paiva, publicado na cidade do Recife, em 1866 seria a obra inicial da literatura piauiense; há ainda os que afirmam a primazia de Impressões e gemidos, obra póstuma de José Coriolano, publicada em 1870, por intervenção de amigos, que reuniram trabalhos do poeta, escritos na década anterior, quando acadêmico de Direito na cidade do Recife.


A literatura piauiense responde à necessidade de se produzir uma identidade cultural piauiense. Em segundo lugar, as literaturas regionais resultam da experiência da margem, e nesta pauta são uma resposta ao sentimento de marginalidade cultural a que certos Estados brasileiros são relegados.

A institucionalização da literatura piauiense, promovida principalmente pela Academia Piauiense de Letras, permitiu (e permite) à elite cultural piauiense (de dentro e de fora da Academia) ocupar um espaço social privilegiado e influente na sociedade piauiense.

Francisco Miguel de Moura, distinto membro de nossa Academia, é um conhecido escritor piauiense com dimensão nacional. Autor com grande produtividade literária, desde muito sua obra repercute dentro e fora do Piauí. É um polígrafo, militando com desenvoltura na poesia, no romance, no conto e na crítica literária. É, também, assíduo colaborador na imprensa de nossa terra, às vezes publicando em outras partes e até no exterior. É, portanto, um orgulho da literatura piauiense.



SISTEMA LITERÁRIO


Na Formação da literatura brasileira, Antônio Candido propõe o conceito de sistema literário, definindo seu estudo como a investigação do processo de constituição desse sistema no Brasil, sua “formação.
O sistema literário piauiense pode ser compreendido como um conjunto de traços construídos coletivamente através de variadas práticas culturais, assumidas sob o rótulo de identidade cultural piauiense.  Para o crítico Antônio Cândido (2000), o sistema literário só se forma com a existência da tríade autor – obra – leitor. 

Autores que contribuíram

João Pinheiro, Jônatas Batista,
Abdias Neves, Alberto Peregrino,
Celso Pinheiro e Zito Batista.

“Se desejarmos focalizar os momentos em que se discerne a formação de um sistema, é preferível no limitarmos aos seus artífices imediatos, mais os que se vão enquadrando como herdeiros nas suas diretrizes, ou simplesmente no seu exemplo. Trata-se então, (para dar realce às linhas), de averiguar quando e como de integrarem um processo de formação literária”. (CÂNDIDO,2000)

Para alguns pesquisadores, o sistema literário piauiense passou a funcionar no início do século XX, quando os autores integrados à vida cultural do Estado, reuniram-se com a intenção de criar uma literatura de expressão piauiense. Esses mesmos autores passaram também a exercer a crítica literária através da imprensa. As obras passaram a Ter mais repercussão.

Cândido diz que para haver um sistema literário é preciso, além de um conjunto de obras, contar com um conjunto de produtores conscientes de que estão fazendo literatura para um conjunto de receptores ou destinatários, ou seja, o público que vai receber as obras. O sistema literário pressupõe uma tradição ou uma continuidade, no dizer de Antônio Cândido, uma espécie de tocha que é passada de uma geração para outra.

O sistema literário piauiense passou a funcionar no início do século XX, quando os autores integrados à vida cultural do Estado, reuniram-se com a intenção de criar uma literatura de expressão piauiense. Esses mesmos autores passaram também a exercer a crítica literária através da imprensa. As obras passaram a ter mais repercussão. Criaram-se até mesmo polêmicas em torno delas, através dos periódicos. Por outro lado, as tipografias comerciais imprimiam aqui mesmo os livros e revistas literárias, o movimento cultural cresceu, passando e existir o anseio de construção de uma identidade literária para o Piauí.

Acredita-se que as obras da primeira década do século XX são exemplares quanto ao que preconiza Antônio Cândido a respeito de sistema literário, pois a produção, publicação e recepção dessas obras no território piauiense mostram que os elementos essenciais para o funcionamento desse sistema estavam consolidados. Havia autores, produzindo conscientemente uma literatura para o público local que, por sua vez, dava uma resposta, adquirindo o livro, lendo, comentando, influindo para que a obra repercutisse no meio social. 

O autor que melhor representa o período de formação e consolidação do sistema literário do nosso Estado é, sem dúvida, o Poeta Da Costa e Silva, cuja obra abrange as três primeiras décadas do século XX, começando em 1908, com Sangue e culminando com Verônica, de 1927.)

O primeiro livro de contos da literatura piauiense só apareceu no início da década seguinte, trata-se de À toa - aspectos piauienses, de João Pinheiro, publicado em 1923.


MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA


Antônio Cândido diz que a ideia de uma literatura que se possa chamar de brasileira exige, necessariamente, a constituição desse “sistema literário”, conceito central de sua análise. É esse sistema que permite que uma série de textos seja entendida como literatura e como uma literatura nacional. Os textos que consideramos “literários”, para ele, não nascem literatura: são os leitores que legitimam as obras. Para Cândido, são consideradas manifestações obras literárias desarticuladas entre si, nascidas do gênio individual dos autores ou por influências de outras literaturas, como:

Poemas - Ovídio Saraiva - obra inaugural de nossa literatura
Flores da Noite - de Licurgo de Paiva
Chicotadas - Félix Pacheco
Cantigas -  Thaumaturgo Vaz
Ânforas e Uhlanos - de Jonas da Silva
Prosa Ataliba, o vaqueiro, Francisco Gil Castelo Branco

Antônio Cândido em formação da Literatura Brasileira: momento decisivos afirmam que a literatura brasileira só se tornou um sistema literário em 1780 (século XVIII), a partir do surgimento dos árcades mineiros. Todos os autores e obras anteriores, incluindo Gregório de Matos e sua poesia barroca, o crítico considera como manifestações literárias.

Diferença entre manifestações literárias e sistema literário


Para Antônio Cândido, são consideradas manifestações obras literárias desarticuladas entre si, nascidas do gênio individual dos autores ou por influências de outras literaturas.

A noção de sistema literário se fundamenta no tripé: autor-obra-público. Para haver um sistema literário é preciso, além de um conjunto de obras, contar com um conjunto de produtores conscientes de que estão fazendo literatura para um conjunto de receptores ou destinatários, ou seja, o público que vai receber as obras.

O sistema literário pressupõe uma tradição ou uma continuidade, no dizer de Antônio Cândido, uma espécie de tocha que é passada de uma geração para outra.

Ainda na categoria de manifestações, pode-se apontar as obras de autores que viveram no Piauí e participaram da vida social da Província, como Leonardo das Dores Castelo Branco, cuja obra Criação universal, de 1856 (impressa no Rio de Janeiro) é considerada, por alguns críticos como a obra fundadora da literatura piauiense. O primeiro crítico a apontar a Criação universal, como obra inaugural da  literatura piauiense foi Lucídio Freitas:

A nossa história literária data precisamente do meado do século passado, sendo Leonardo das Dores Castelo Branco o primeiro poeta de valor que possuímos.

No Piauí, pode-se considerar "manifestações literárias" as obras
 publicadas até o final do século XIX. Por quê?




As obras de autores piauienses publicadas até o século XIX foram impressas fora do Piauí, seus autores, quase sempre, visavam atingir outro público que não o Piauiense, pois eles próprios estavam integrados a outros meios sociais. É o caso de Poemas de Ovídio Saraiva, 1808, Coimbra; Flores da Noite, de Licurgo de Paiva, 1866, Recife; Chicotadas, Félix Pacheco,1897, Rio de Janeiro; Cantigas, de Thaumaturgo Vaz, 1900, Manaus, Ânforas e Uhlanos, de Jonas da Silva,1900 e 1902, Rio de Janeiro. Na prosa encontramos Ataliba, o vaqueiro, Francisco Gil Castelo Branco, 1880, Rio de Janeiro.

Há outros casos peculiares, como a publicação póstuma de Impressões e gemidos, de autoria de José Coriolano, impresso na cidade de São Luís, por iniciativa de familiares e amigos do poeta. É semelhante a situação de A harpa do caçador, de Teodoro Castelo Branco, de 1884, também impresso na capital maranhense e que não teve praticamente circulação, no Estado do Piauí. Sobre a distribuição do livro, é significativo o comentário de um contemporâneo do porta, o escritor Clodoaldo Freitas.

A Harpa do Caçador foi publicado em 1884, mas o poeta, um verdadeiro descuidado, não fê-la correr mundo. Ninguém teve notícia do livro que ficou entregue às traças, num canto de qualquer armazém. Os poucos que o leram, com a maior injustiça, não renderam público e merecidos elogios ao autor.

A poetisa Luísa Amélia de Queirós Brandão fez imprimir seus dois livros em São Luís do Maranhão, o primeiro Flores incultas é de 1875, o segundo Georgina ou os efeitos do amor, de 1893. Lembramos ainda uma obra bastante conhecida até hoje, A lira sertaneja, de Hermínio Castelo Branco, impressa em Fortaleza em 1887.

O que essas obras têm em comum, além do fato de seus autores terem nascidos no Piauí? Existe uma organicidade entre elas? 
Seus autores tinham intenção de fazer uma literatura de "expressão piauiense?
O destinatário dessa literatura era o público local?

Pode-se dizer que as manifestações literárias piauienses iniciadas a partir de 1808, com Poemas, de Ovídio Saraiva, contaram com um pequeno grupo de autores, poucas obras publicadas, de forma esparsa, e praticamente sem leitores no Piauí.

A formação de um público de leitores, virtuais destinatários de uma literatura piauiense, só foi iniciada a partir das primeiras edições locais, nas primeiras décadas do século XX, quando se deu, simultaneamente, o surgimento da crítica literária, graças ao significativo desenvolvimento que a nossa imprensa passou a ter naquele momento.

LITERATURA REGIONAL
A noção de literatura regional, portanto, tem de partir da concepção da literatura como expressão do espírito de um povo ou de uma local concepção justa, mais propensas a exagerações.

Adotando este ponto de vista, considera-se que na literatura piauiense está contida a “alma” do povo piauiense. A literatura aqui é espelho em que o povo se constrói e se mira; é documento dos mais valiosos, porque está nele o que um povo pensa de si.

“Se não existe literatura paulista, gaúcha ou pernambucana” – diz-nos Antônio Candido (2000, p. 127) – “há sem dúvida uma literatura brasileira manifestando-se de modo diferente nos diferentes Estados”.


O escritor piauiense, pelo menos a maior parte deles, volta sua obra para os temas locais, a realidade física e humana do Piauí, dando ao nosso imaginário uma dimensão universal. Assim o faz, por exemplo, Da Costa e Silva com o rio Parnaíba, H. Dobal com os tabuleiros de Campo Maior, Assis Brasil com a cidade de Parnaíba e O. G. Rego com Oeiras.

A literatura não costuma obedecer às fronteiras nacionais ou regionais; nada a rigor obriga um escritor gaúcho a falar dos pampas ou a um escritor piauiense a falar do sertão. Por isso, por essa liberdade temática a qual muitos escritores se negam a abdicar, é tão difícil definir o seja literatura piauiense (ou gaúcha, maranhense etc).

Sendo assim, historiadores da literatura piauiense como João Pinheiro (1994) e Herculano de Moraes (1999) concordam que a obra inaugural de nossa literatura é o livro “Poemas”, de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, publicado em 1808.

Embora nascido em terras piauienses, a poesia de Ovídio Saraiva, nascido em 1787 na antiga Vila de São João da Parnaíba, é tênue em referências ao local em que nasceu, mesmo porque o autor vivera grande parte de sua vida em Portugal e sua influência maior viera do português Bocage e dos temas convencionais do neoclassicismo. Herculano de Moraes é franco, pois, em afirmar: As primeiras manifestações literárias do Piauí só tiveram de piauiense a origem dos seus autores” (1999, p. 09).

 Mas, Será que toda e qualquer obra literária, para pertencer à literatura piauiense, precisa centrar-se na temática local?



Há três motivos que podem servir de resposta à indagação:

- Primeiro, a necessidade de se produzir zonas de pertencimento, isto é, de forjar identidades.

- Em segundo lugar, as literaturas regionais resultam da experiência da margem, e neste sentido são uma resposta ao sentimento de marginalidade cultural a que certos estados brasileiros são relegados.

- Em terceiro lugar, como nos ensina Michel Foucault (2007), quando se cria uma nova área de saber e instituições para abrigar este saber cria-se, também, um campo de poder; assim, a institucionalização da literatura piauiense, promovida principalmente pela Academia Piauiense de Letras, permitiu (e permite) à elite cultural piauiense (de dentro e de fora da Academia) ocupar um espaço social privilegiado e influente na sociedade piauiense.


 AUTORES PIAUIENSES CONSAGRADOS

HINDEMBURGO DOBAL TEIXEIRA - Poeta consagrado, premiado, servidor público aposentado, cidadão do mundo que morou em Teresina, Rio de Janeiro, Brasília, Londres e Berlim, HD parecia feliz naquela tarde.

H. Dobal amadureceu sua escrita na efervescência do modernismo brasileiro e piauiense, e junto com os escritores O. G. Rego de Carvalho e M. Paulo Nunes criaram em 1949 o Caderno de Letras Meridiano, revista que buscava uma renovação literária no estado e que viria a sair em apenas três volumes. 

Com treze livros publicados, sendo sete de poesias, a obra de H. Dobal alcança um universalismo sem perder as formas e as cores de sua terra, especialmente porque o poeta vê na memória um meio para realizar uma espécie de “biografia espiritual”. Seu primeiro livro publicado, O tempo consequente (1966), já carrega alguns de seus principais temas: a relação do homem com o espaço, o abandono, o esquecimento, a solidão, o destino e a morte, assim como apresenta as características que nortearão toda sua obra: a opção pela concisão e reflexão sóbria - que recusa o exagero sentimental, a força das imagens - que dão presença ao “invisível” e a construção discretíssima de um sujeito poético. 

Inimigo de abstrações, ele centra sua poética nos monumentos materiais e imateriais da cultura, dialogando com a história e com a memória popular. Trata-se de uma poética assentada em elementos telúricos mas que, ao abordá-los, atinge uma expressão universal. Esse é, aliás, um dos grandes méritos do poeta: ter dado, em sua poesia, expressão universal a temas, monumentos e episódios históricos relativos ao Piauí. 

H. Dobal recebeu a atenção e os aplausos da crítica desde sua primeira obra, O Tempo Consequente, lançada em 1966. A segunda obra, O Dia Sem Presságios, lançada quatro anos após o livro de estreia, conquistou o Prêmio Jorge de Lima, do Instituto Nacional do Livro. De lá para cá, a fortuna crítica de H. Dobal se avolumou com artigos publicados em jornais, livros e trabalhos acadêmicos de mestrado e doutorado. 

"Você tem razão, doçura só a da vida".


O que mostra que Dobal não sofria da doença chamada alienação política, essa gente costuma creditar a vida as mazelas sociais e históricas que infernizam a odisseia humana, esquecendo que o verdadeiro inimigo não atende pelo nome "vida", mas pela alcunha "poder", a forma de como o "Estado" é organizado.

Os Amantes (H. Dobal )

Eis-me de novo adolescente. Triste
vivo outra vez amor e solidão.
Canto em segredo palpitar macio
de pétala ou de asa abandonada.

Outro amor em silêncio e na incerteza
oprime o coração desalentado.
Ó lentidão dos dias brancos quando
a angústia os deseja breves como um sonho.

Insidioso amor em minha vida
reverte o tempo para o desespero,
a inquietação da adolescência

e o pensamento me tortura, prende
como se anunca houvesse outro consolo
que não é mais de amor. Porém de morte.


Os Amantes, poesia que abre as "As Formas Incompletas", retrata um amor sentido com as ânsias do adolescer, discorrido de forma que a mensagem encerra a angústia inquietante daqueles que amam em silêncio.

Nesse poema, o poeta volta à mocidade para se fazer ouvir (Eis-me de novo adolescente. Triste / vivo outra vez amor e solidão.), é a voz madura que entoa a “Oração para Invocar as que não Vieram”: Venham a mim todas as que não me quiseram, / todas as que deixaram de conhecer, no sentido bíblico, / um homem competente não só na palavra amor / mas também nos carinhos mais fundos.

Francisco Gil Castelo Branco nasceu em Livramento (município de José de Freitas) no ano de 1848. Foi diplomata, romancista, contista e contista. Formado em Letras (França), residiu no Rio de Janeiro, onde foi colaborador de vários periódicos - Revista Luz, Gazeta Universal e Diário de Notícias. Foi ainda cônsul-geral do Brasil em Assunção (Paraguai) e Marselha (França), onde faleceu em 1874. 

A literatura é uma manifestação artística que expressa à visão de mundo dos indivíduos. Ela traz marcas do seu tempo, portanto, carrega dentro de si ideais, sentimentos e valores de determinadas épocas. A obra, Ataliba, o vaqueiro, é um romance em forma de folhetim, traz em suas páginas uma história da seca nordestina, há em cada linha uma essência de dor do povo piauiense. Composta por 10 capítulos, esse piauiense mostrou nessa breve narrativa a grande riqueza cultural existente no Piauí, como traços da religiosidade, mitos, lendas, vestimentas, dentre outras características que fazem a obra ser considerada uma grande obra literária piauiense.

Pesquisadores da literatura piauiense afirmam que essa obra é o precursor do romance regionalista, publicado em de folhetim nos anos de 1878 e narra a história de um vaqueiro que luta contra a seca no sertão do Piauí. É uma obra de cunho romântico, apesar de suas características regionalistas. O Romantismo foi um movimento literário que ocorreu no início do século XIX, período que o Brasil passava por enormes transformações sociais, econômicas, políticas e ideológicas. A sociedade, nesse período, buscava a liberdade de expressão, a nacionalidade e a democracia. De acordo com Coutinho (2004, p.22), ― “coincidindo sua eclosão com o alvorecer da nacionalidade, ajustou-se a alma do povo, cujos anseios e qualidades sentiu e exprimiu”


          A Arte é Vida Plena

Antônio Francisco da Costa e Silva (Amarante PI 1885 - Rio de Janeiro RJ 1950), poeta simbolista que começou a compor versos por volta de 1896, para procissões em Amarante (ainda cantados, com modificações, nas festas religiosas do Piauí). Seu primeiro livro de poesia, Sangue, foi lançado em 1909.

Publicou os seguintes livros de poemas:

   Sangue (1908), Zodíaco (1917),
  Verhaeren (1917), Pandora (1919),
  Verônica (1927).

Vivendo de 1885 a 1950, teria toda razão de fazer parte do Modernismo. Mas o poeta é piauiense, de Amarante, influenciado pelo ambiente e costumes provincianos. Portanto, inclinado ao passado, por isso não se pode definir o estilo de época a que pertence a obra desse poeta


O Piauí das páginas de Da Costa e Silva é um eldorado onde as matas são sempre verdes e pulsantes de vida, onde o rio é sempre caudaloso e cristalino, onde o povo guarda uma pureza e uma ingenuidade ímpares.
O motivo desse idealismo parece-nos ser dois, um de fonte literária e outro de fonte extraliterária. O motivo literário é o amplo lastro de influência romântica e simbolista que Da Costa e Silva recebera ao longo de sua formação literária.

AMARANTE

A minha terra é um céu, se há um céu sobre a terra;
É um céu sob outro céu tão límpido e tão brando,
Que eterno sonho azul parece estar sonhando...
Sobre o vale natal que o seio à luz descerra...

Que encanto natural o seu aspecto encerra!
Junto à paisagem verde, a igreja branca, o bando
Das casas, que se vão, pouco a pouco, apagando
Com o nevoento perfil nostálgico da serra...

Com o seu povo feliz, que ri das próprias mágoas,
Entre os três rios, lembra uma ilha, alegre e linda,
A cidade sorrindo aos ósculos das águas.

Terra para se amar com o grande amor que eu tenho!
Terra onde tive o berço e de onde espero ainda
Sete palmos de gleba e os dois braços de um lenho.
Da Costa e Silva (1885-1950)

A cidade descrita não é Amarante mas uma cidade arquetípica, um eldorado onde até as mágoas são motivos de riso. Não se chamasse Amarante e esse soneto poderia ser um hino de quase qualquer cidadezinha do interior (desconte-se a única e tênue referência concreta e individualizante do poema: “Entre três rios...”). 

Segundo Marly Gondim Cavalcanti Souza, em sua tese de Doutorado pela Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) - O Universo Sonoro de da Costa e Silva -, na obra de Costa e Silva "vemos brotar a música do torrão dacostiano, exemplificada pelo “aboio” do vaqueiro, reunindo o gado no fim do dia; o canto das lavadeiras, na beira do  rio, realizando seu ofício de todo dia; a música popular executada na festa do Carnaval, fonte de alucinação; também a música europeia das Valquírias de Wagner, dos instrumentos musicais (clarins, cornetas, flautas, lira, zabumbas e sinos) e os hinos religiosos cristãos introduzidos no Brasil a partir da colonização (...)". O próprio crítico José Guilherme Merquior, em um texto anterior à edição de "Poesias Completas", de 2000, disse que Da Costa e Silva constitui-se em um "grande músico do verso"

FRANCISCO DE ASSIS DE ALMEIDA BRASIL é natural de Parnaíba (1932). Juntamente com O. G. Rego, Assis Brasil é um dos romancistas piauienses mais importantes na atualidade. Os gêneros explorados por este autor são os mais variados, desde o romance, passando pelo conto, a novela e a crítica literária. Vive atualmente em Teresina e participa ativamente do cenário cultural do Estado.

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Um dos maiores nomes da Literatura Brasileira da atualidade. O autor de Beira-Rio, Beira-Vida é membro das Academias Piauiense e Parnaibana de Letras.  
É o orgulho do povo piauiense.


OBRAS:

TETRALOGIA PIAUIENSE
      Beira Rio Beira Vida (1965)
      A Filha do Meio Quilo (1966)
      Salto do Cavalo Cobridor (1966)
      Pacamão(1969)

CICLO DO TERROR
* Os que Bebem como os Cães (1975)
* Aprendizado da Morte (1976)
* Deus, Sol, Shakespeare (1978) Os Crocodilos (1980)



O que leva um homem a dedicar uma vida inteira a arte de escrever? São seus sonhos, desejos, vaidade, ou há algo de oculto nesse mister divino, a arte de contar histórias? Assis Brasil talvez tenha essa resposta, mas não quis nos dar, porque tem vivido uma existência dedicada a criá-las, como se fosse o nutridor dessa necessidade, que o ser humano adquiriu, com a experiência tribal, ao lado das fogueiras ancestrais, até que surgisse a palavra escrita: contar histórias.

E não há nada que expresse mais esse dom, do que a capacidade de introjetar de si mesmo, a mesma dor, o mesmo grito, vagido dos que nascem e terão que se perpetuar e se tornar incomuns, para o engrandecimento da raça humana. Conheço Assis Brasil desde os meus tenros 21 anos, quando fui seu aluno na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Hoje já passei da casa dos 60, disse Orion Lima, ( 2010 ).www.capitalteresina.com.br/noticias/cultura/assis-brasil (2014) pergunta ao escritor: Como começou o seu interesse pela literatura?

Assis Brasil: Minhas influencias principais foram os meus pais, principalmente minha mãe. Além de ler, ela escrevia. Minha mãe escrevia umas peças de teatro às vezes baseadas em estruturas folclóricas, em quadras rimadas. Ela levava essas peças ao cine teatro Éden. Hoje não sei se ainda existe, ficava na Praça da Graça, centro de Parnaíba. Foi a partir daí que nasceu meu interesse pelas artes de um modo geral, mas, principalmente, pela leitura. Minha mãe tinha muita preocupação pela cultura. Em colocar as crianças para estudar e ler desde cedo. Isso foi fundamental para mim.

Desde garoto sempre gostei muito de ler. Onde eu estudava, em Parnaíba, tinha uma biblioteca muito boa e eu tinha um bom professor de português, que serviu também de base para a minha carreira literária, me incentivava. Esse professor até brincava falando que, de todos os alunos, só via o Assis Brasil na biblioteca. Portanto, o viver de suas personagens parece estar condicionado a forças que não podem ser controladas e, por isso, assumem contornos místicos e ocultos que tornam complicada a análise da obra desse escritor piauiense.

O romance Beira Rio Beira Vida foi o mais reconhecido pela crítica, vencedor do Prêmio Nacional Walmap (1965). Nele, o autor reconstrói o tempo dos navios gaiola, a imobilidade social, os tabus e preconceitos de uma geração que copiava modelos estrangeiros. O romance causou polêmica no Piauí, especialmente entre os parnaibanos, pelo tom acusatório a uma sociedade indiferente à marginalidade. O autor focaliza problemas sociais que, apesar de figurarem em Parnaíba, são conflitos sociais universais: a segregação do espaço urbano representa a segregação social.

É possível destacar, ainda, entre os romances de temática urbana Os que bebem como cães (1975). O livro é movido pela mesma ânsia documental de narrar a história recente, mas que, dada a censura, ainda não havia sido relatada. Surgiram, pois, no Brasil dois tipos de romance, que podemos chamar de geração da repressão. Um desses tipos é constituído de memórias, depoimentos de militantes políticos que pertenciam à organizações revolucionárias (Em câmara lenta, de Renato Tapajós (1877) e O que é isso, companheiro?, de Fernando Gabeira (1982) são exemplos desse primeiro tipo).  
O livro se divide em três capítulos numa repetição constante: CELA, PÁTIO, GRITO. A primeira é o local de reflexão e descoberta de si; a segunda, representação da pequena liberdade; a terceira, o descobrimento do mundo. Não há uma noção de tempo, o que o aflige por não saber o período de estadia naquele local. Aos poucos, usa várias estratégias para descobrir o que parece ser um enigma: o funcionamento daquele suplício. Sempre que vai ao pátio, encontra muitos outros presos, todos com barbas longas, mal nutridos, sujos e cadavéricos. Esse momento de “liberdade” ocorre para que eles tomem água, banhem-se e lavem suas roupas sujas de excrementos. Nessa ocasião, o grito é a quebra do silêncio e, talvez, um limite entre tortura psicológica e esperança. Os gritos são dos presos clamando pela mãe, Deus ou por sua mulher. Os guardas os silenciam com uma fita na boca e cassetetes.

                      O poeta que desafinou o coro dos contentes
                             Torquato Neto

Resultado de imagem para sobre TORQUATO PEREIRA DE ARAÚJO NETOTORQUATO PEREIRA DE ARAÚJO NETO nasceu em Teresina no ano de 1944. Foi poeta, letrista, cineasta, critico, publicitário e jornalista. Deteve uma coluna no jornal Última Hora batizada de Geleia Geral. Não só divulgava os acontecimentos artísticos de modo geral como também emitia pareceres seus quanto à Arte.

Integrou a Tropicália, ao lado de Gilberto Gil, Tom Zé, Caetano Veloso, Mutantes. Teve várias letras suas musicadas não só na época como ainda hoje. Torquato suicida-se no dia de seu aniversário em 1972. Em 1959, seguindo os passos de outro poeta piauiense, Mário Faustino, decidiu cursar o científico em Salvador. Não podia imaginar a opulência que o esperava. A Salvador do início dos anos 60 vivia grande agitação cultural. Lina Bo Bardi, Joaquim Koellreutter e Glauber Rocha eram só as figuras mais nobres num cenário em que surgia uma arte agressiva e de vanguarda.


LET'S PLAY THAT
                    Torquato Neto

Quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião

eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes

Para alguns críticos, as  letras têm força sonora e versos ritmados, como a poesia dos livros de cordel nordestinos que ele coleciona. Essa influência pode ser percebida em uma de suas primeiras obras gravadas, o baião Vento de Maio, feito em parceria com Gilberto Gil e gravado por Nara Leão em 1967: "Desapeie dessa tristeza/que eu lhe dou de garantia/a certeza mais segura/que mais dia menos dia/no peito de todo mundo/vai bater a alegria".


A barra está pesada e a geleia geral brasileira, bicho, virou uma gororoba intragável de botar os bofes pra fora, como se diz no melhor português das nossas plagas. Tudo anda meio sem graça, os milicos voltaram a dar as caras com moral padrão meia-oito. Pense num fetiche da farda como salvação da ordem e do progresso, pense. Nunca fomos tão bocós e cívicos cornos conformados da brasilidade. Em bom nordestinês, estamos mais lascados do que maxixe em cruz. Uma gracilianíssima angústia a moer os ossos. De abrir o gás.

Entre suas primeiras letras está “Louvação”, lançada com sucesso por Elis Regina e, em seguida, pelo seu co-autor, Gilberto Gil, em 1967. Naquele ano, estourou o Tropicalismo, no qual Torquato Neto brilhou como excepcional letrista. Sua grande contribuição para o movimento foram as letras da canção-manifesto “Geléia Geral”, de “Marginália 2”, de “Mamãe Coragem” e de “Deus vos salve esta casa santa” (as duas primeiras com Gil, e as duas últimas com Caetano Veloso). Edu Lobo e Jards Macalé foram dois outros importantes parceiros de Torquato Neto.

Em 1971 e 1972, Torquato escreveu a polêmica coluna no jornal Última Hora, intitulada Geléia Geral. Nesse espaço, Torquato militou até a exaustão pelo cinema marginal, combateu o Cinema Novo e a música comercial e lutou pelos direitos autorais. De temperamento complexo, com internações psiquiátricas e problemas profissionais, suicidou-se em 1972, no Rio.

Como o próprio nome sugere, em Geleia Geral cabia tudo: desde textos opinativos sobre as mais variadas manifestações artísticas da época, seus debates e polêmicas, até notas e anúncios dos eventos culturais, bem como poemas, cartas e depoimentos de amigos ou personalidades, etc. Tiradas rápidas, soluções sintéticas (quase aforísticas), combinações inusitadas de palavras, críticas mordazes, e momentos de lirismo contido, formam o repertório das estratégias discursivas de Torquato Neto.


ORLANDO GERALDO REGO DE CARVALHO, natural de Oeiras (1930). Aos 12 anos, depois da leitura d'O Guarani, de José de Alencar, decidiu ser escritor. Colaborou em várias revistas e suplementos literários no país. Ao lado de H. Dobal e M. Paulo Nunes, fundou o Caderno de Letras Meridiano. Encantou-se em Teresina aos 83 anos, no dia 9 novembro de 2013, deixando esposa (Divaneide Carvalho) e filho (Orlando Victor).

O. G. Rego privilegiou temas universais em suas histórias: amor, morte, solidão, loucura, família, angústia existencial, sexualidade, preconceitos, aborto, frustração amorosa e religiosidade e adolescência. Seu primeiro livro, "Ulisses entre o amor e a morte", foi lançado quando tinha 23 anos (1953) encontra-se na 13ª edição.


OBRAS:
Ulisses Entre o Amor e a Morte (1953)
Amarga Solidão (1955)
Rio Subterrâneo (1967)
Somos Todos Inocentes (1971)
Ficção Reunida (2001)
   
ULISSES ENTRE O AMOR E A MORTE, romance de O. G. Rego de Carvalho, lançado em 1953, segue a tendência do romance psicológico ou instrospectivo, de tensão interiorizada, em que o herói não enfrenta a antinomia eu/mundo pela ação: evade-se, subjetivando o conflito. Em outras palavras: ação, espaço e tempo são meros suportes para a construção da narrativa, uma vez que o foco de interesse não é o exterior, mas o mundo interior das personagens.  A estrutura do romance compõe-se de 5 partes, todas nominadas pelo narrador.

O romance trata-se de um garoto, Ulisses, que cresce na cidade de Oeiras. O pai falece. Com a família procura residência em Teresina. O jovem Ulisses banha-se nos rios Poti e Parnaíba. Conhece garotas. Surgem os sonhos adolescentes. Um deles, Conceição. Ulisses entre o amor e a morte não gira apenas nessas histórias de amor, mas também de solidão, aflições, dramas e sofrimento devido à morte do seu pai, pelo mistério da sua adolescência e pelo seu amor proibido por Conceição. Nada e absolutamente nada pode impedir o amor entre duas pessoas porque este é um sentimento interior.

Naquela época, a publicação levantou críticas no sentido de ser tratada ou não como uma obra de “literatura piauiense”, visto que não trazia as temáticas tomadas como regionalistas, tais como a seca, a miséria e a fome. Ao longo de sua trajetória, o literato se envolveria em outras polêmicas ligadas à intelectualidade, sobretudo à literatura, quando afirmara que não existia a “literatura piauiense”. Esse posicionamento trouxe à tona, de forma mais enfática, debates sobre o status da literatura, e suscitou reflexões acerca do cânone e questões de fronteira. Além disso, fez acentuar discussões paralelas sobre a própria história da literatura, no tocante à autoria, biografia, produção, publicação, circulação e leitura dos textos literários. 

O.G. Rego de Carvalho é, sem dúvida, um grande romancista brasileiro, não devendo nada aos maiores do País. Todos os seus romances são de fundo psicológico. Ele não é um simples contador de histórias nem um regionalista a copiar costumes e linguajar local. Mesmo sendo do Piauí, seu estilo é universal. Vai fundo na alma de suas personagens, perscrutando suas ânsias, medos, seus “fantasmas interiores”. Suas frases são buriladas, medidas. Embora prosador, existe musicalidade, compasso, em seus textos. O crítico Vidal de Freitas encontrou cerca de 800 decassílabos distribuídos em “Rio Subterrâneo.”

O seu amor pelas letras era imenso. Para escrever “Rio Subterrâneo”, abriu mão de postos mais elevados no Banco e até mesmo do casamento na época. Seu esforço mental foi tão grande que foi adoecendo enquanto o escrevia e, à medida que adoecia, passava para o papel suas sensações. Com receio de que o romance não fosse concluído, passou a escrever dia e noite. Terminada a tarefa, teve de entrar em intensivo tratamento. 

A carreira de O. G. Rego como escritor é bastante reconhecida por premiações e homenagens. Dentre elas, pode-se destacar: o Título de intelectual do ano, conferido pela União Brasileira de Escritor – Secção do Piauí; Título de Cidadão Teresinense, conferido pela Câmara Municipal de Teresina, por iniciativa do Vereador Deusdeth Nunes, em 1994; Placa entregue, em 10 de setembro de 1997, pela Superintendência do Banco do Brasil, por sua contribuição à cultura do país; Homenagem pelo cinquentenário da 1º edição de Ulisses Entre o Amor e a Morte do Sebrae-Pi, dentre outros.


REPRESENTANTE DA POESIA SERTANEJA PIAUIENSE

Intérprete da Alma Nordestina

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(1851-1889) nasceu no município de Barras, Piauí, hoje pertencente a Esperantina. Pode-se dizer que Hermínio Castelo Branco é um poeta afinado com a tradição popular dos violeiros . De uma linguagem simples, retrata de forma segura o agreste piauiense seus habitantes e costumes : vaquejadas, farinhadas, histórias de caçadas e etc. Isto o torna um autêntico representante da poesia sertaneja piauiense. 

Na poesia “São Gonçalo nos Sertões” diz Hermínio:
 “Nunca vi couro de alma/ nem rastro de lobisome”. Muitos e muitos anos mais tarde, Ney Matogrosso gravou a música “Homem com H”, de Antônio Barros, que começa com os versos: “Nunca vi rastro de cobra / Nem couro de lobisomem”. É uma variação dos versos de Hermínio...

O RUDE SERTANEJO QUE SÓ FALA A LÍNGUA DAS SELVAS: HERMÍNIO CASTELO BRANCO

Lá pelos idos de mil oitocentos e antigamente, quando algum vaqueiro do Piauí necessitava promover uma vaquejada, para resgatar o gado solto pelo mato, chamava seus companheiros para ajudar. Era uma forma de mutirão, muito praticada no sertão. Chegando os vaqueiros no final do dia, para começar as lides já cedo da madrugada, são recebidos com um cardápio substancioso, preparado pelo anfitrião:

Fui buscar, logo nas buchas,
A panela de coalhada;
A farinha numa cuia,
No espeto, a carne assada.
Venham vindo se arrastando!
- Gritei à rapaziada.

Cada qual com sua faca,
De coc’ras junto à panela,
Foi tirando com a cuia
Que servia de tigela,
E despejando a farinha
Na coalhada, dentro dela.

Misturando a carne assada,
Gorda, frescal e cheirosa,
Todos ficaram contentes
Com a ceia apetitosa.
Nem no céu nunca se viu
Comida tão saborosa!

Os versos acima são de “O Vaqueiro do Piauí”, de Hermínio Castelo Branco, poesia constante do volume “Lira Sertaneja”. Hermínio de Paula Castelo Branco (1851-1889) nasceu no município de Barras, Piauí, hoje pertencente a Esperantina. Fascinado pelas lides do sertão, não prosseguiu os estudos, permaneceu ao lado do povo simples, de quem se tornou o grande cronista, registrando costumes, falas e tradições. Alistou-se como voluntário durante a Guerra do Paraguai, depois entrou para o Exército e seguiu carreira militar até passar para a reserva. A condição de militar lhe permitiu conhecer diversas regiões do país. Ao encerrar sua carreira, retornou a Teresina, onde veio a falecer.

A seu respeito diz Herculano Moraes (“Visão Histórica da Literatura Piauiense”, tomo I, p. 66):  “Tornou-se inigualável na descrição de uma vaquejada, de uma farinhada, de uma quermesse em que predominavam os costumes regionais em toda a sua inteireza”.


O primeiro título de Lira Sertaneja foi “Ecos do Coração”, publicado em Teresina no ano de 1881. Reeditando o livro no Ceará, em 1887, já em 7ª edição, Hermínio Castelo Branco mudou o título para “Lira sertaneja”, por considerar mais adequado ao conteúdo da obra. Ao apresentá-lo, diz ele, em sua “Satisfação ao Leitor”: “dedico este livrinho aos sertanejos do Norte de minha Pátria, como saudosa recordação dos dias felizes que entre eles passei. Se, na opinião autorizada dos críticos ilustrados, cometo um crime audacioso, tenho certeza de ser absolvido no Egrégio Tribunal dos canoros Cisnes Cearenses, pela humildade do meu pobre trabalho”. Pelo posterior reconhecimento da importância da obra de Hermínio Castelo Branco, parece claro ter recebido aprovação dos referidos “canoros Cisnes Cearenses”, provavelmente uma academia de letras da época.


O verso mais conhecido de O Vaqueiro do Piauí

Era no mês da mutuca:
Fins d’água vinham chegando,
Quando o gado sai da mata
Na carreira, esc’ramuçando,
Se deram estas façanhas
       Que, eu, por aqui, vou contando


A mutuca é uma mosca de picada dolorosa, e o mês da mutuca, segundo o autor, corresponde ao mês de maio. O que o verso conta é que as moscas importunavam de tal forma o gado que ele saia desesperado de dentro do mato. A edição de “Lira Sertaneja” é de 1972, resultado de atos de Alberto Silva, então Governador do Piauí, que criou uma comissão especial para elaborar o Plano Editorial do Estado do Piauí. A publicação é particularmente enriquecida por contar com a colaboração de dois renomados intelectuais piauienses: Celso Pinheiro Filho, que elaborou o prefácio e a biografia do autor, e José de Arimatéia Tito Filho, que com o modesto título de Ligeiras Observações sobre a Vocabulário da Lira Sertaneja apresenta um alentado e esclarecedor estudo lexicológico.


LYCURGO JOSÉ HENRIQUE DE PAIVA- Nasceu em 18/03/1842 em Oeiras-Pi e faleceu em Jerumenha em 1887 . Estudou Direito em Recife na faculdade de direito, mas não concluiu o curso. É patrono da cadeira número 10 da Academia de Letras Piauiense Lança seu primeiro livro em 1866 sob o titulo Flores da Noite prefaciado por Tobias Barreto.

Em 1866, ainda como estudante do curso preparatório, lançou o livro "Flores da Noite". O trabalho recebeu comentários elogiosos de Tobias Barreto. Em instantes o poeta alcançou fama literária, passando a conviver com grandes expressões culturais da Veneza Brasileira. Licurgo se envaideceu e, partindo para a boemia, abandonou os estudos .Autor das Flores da Noite, livro de versos, em quem a meditação e o estudo têm muito que aperfeiçoar, é um viçoso talento que pode enriquecer-se da mais bela frutificação. Sinto que o poeta novel não tenha querido face a face encarar a natureza e pedir-lhe inspirações: – lamento que se deixasse levar da admiração que a outros consagra, para tornar-se algumas vezes imitador, quando muitas outras provou poder ser original.

Flores da Noite é um livro de versos, cuja leitura fez-me conceber bem fundadas esperanças sobre o seu autor. Não é que nesse livro encontre-se a perfeição; pelo contrário, nele figura grande número de versos desleixados. Não é que nesse livro o autor nos tenha dado grandes e novas aspirações, grandes e novas ideias sobre o que mais interessa à humanidade; – pelo contrário, digamos-lhes a verdade, as suas vistas não alcançaram além do individual. Mas não é isto propriamente um defeito do autor; é influência da sociedade em que vive e da literatura em que se embebe –, ambas devassas, impuras, repassadas de materialismo.

Obras:
Flores da Noite
Noite de luar (Poemeto dramático)
Voos e Quedas e Quedas fatais (inéditos)

O autor das FLORES DA NOITE, em quem a meditação e o estudo têm muito que aperfeiçoar, é um viçoso talento que pode enriquecer-se da mais bela frutificação. Sinto que o poeta novel não tenha querido face a face encarar a natureza e pedirlhe inspirações: – lamento que se deixasse levar da admiração que a outros consagra, para tornar-se algumas vezes imitador, quando muitas outras provou poder ser original.

“Na escarpa de um morro bem deserto,
A paz da viração da gente ingrata,
De murtas povoado;
Eu quero que meu leito seja aberto
Descansem meu corpo democrata
Na vida abandonado.”
         (L. de Paiva)

O sol ardente de um dia verão do ano de 1887 começava a declinar no poente.  A passarada se agitava, alegremente, anunciando com seus mil sons e tons a proximidade do pôr do sol. O lugar ficava não muito distante da Fazenda Santo Antônio de propriedade do comendador Dario Pereira da Silva, no antigo termo de Jerumenha. Uma desgastada estrada de chão arenoso por ali passava. O terreno era plano do tipo cerrado, mesclado por manchas de caatinga arbórea e algumas árvores frondosas típicas da região. Em uma das margens daquele caminho destacava-se um alto e majestoso juazeiro com sua abundante copa verde proporcionando uma generosa sombra aos viajantes que ali estacionavam para um ligeiro descanso, depois de uma longa viagem pelas regiões do alto Parnaíba.

Um oásis poder-se-ia dizer, pois a poucos metros desse dadivoso juazeiro existia um perene riacho que escorria, paralelo, abaixo do nível da estrada. O pequeno regato era um presente de Deus. Seu tênue espelho d’água deslizava devagarinho nesse pedaço de chão esturricado no meio do sertão piauiense. Daí a razão porque o lugar era parado obrigatória dos viajantes, posto que ali tinham ao seu dispor sombra e água fresca e um agradável recanto para descansar.


A tristeza feminina na 
Literatura piauiense




O que representa a tristeza para a literatura, para a arte em si? Responderia rapidamente, e não movido pelo impulso, mas pela constatação obtida após um manancial de leituras e percepções que competem à nossa bagagem: a tristeza representa muita coisa quando tratamos do subjetivismo artístico.

Ela move ações e toca a alma como nenhum outro sentimento, senão o amor. Tal qual o amor, a tristeza não pode ser definida, muito menos sanada; e em termos do que se é passageiro: alegria ou lamúria; findo, por aqui, a análise, já que vai além da minha vã filosofia.

A tristeza possui um caráter multifacetado que faz transgredir muitos pensamentos em interconexão, assim, sem lógica... Ela só é sentida... dela advém a perda, o pessimismo, a saudade, o sofrimento (e de todo tipo), o amor não correspondido, e deste nasce o quê platônico, ora, viver assim, no platonismo, é viver triste, iludidamente, e a ilusão, sim, a ilusão, num certo ponto, passa a ser tristeza, porém, mais alheia do que própria; ressaltando, ainda, que se é mais alheia é porque quando se realmente ama aquele que sofre a ilusão e nada se pode fazer para tirá-lo do abismo, é um desprazer sem tamanho, sem palavras. Poderia ser extenso em relatar aqui, pouco a pouco, as diversas formas que regem a tristeza no mundo, propriamente na arte, e de maneira mais específica na literatura, todavia, fugiria da proposta inicial: avaliar a importância da tristeza para a escrita literária feminina.

No Piauí não foi diferente, temos a essência chorosa de Luiza Amélia de Queirós Brandão... Seus versos refletem as dores de uma mulher de caráter e vontade de independência, porém, o tempo não lhe fora amigo, não lhe permitirá liberdades. Amélia não aceitava a subjugação e apesar de odiar o machismo humano, louca de ciúmes, desejava, em posse, todo o amor do marido, este, infelizmente, por sua vez, vivia a deixá-la sozinha no lar. Para completar, Luiza não pôde ter filhos, sofria de um problema uterino que tempos depois foi a causa de sua morte: câncer. Diante do seu encarceramento, ela, a poetisa, manifestava ódio e rancor, estes refletidos claramente em seus versos. Não suportava a solidão, mas aprendeu a conviver com o silêncio e para isso, à nossa alegria, adquiriu além do hábito da leitura o da escrita. “O homem não ama”, um de seus poemas mais reveladores, declara o homem em relação às mulheres:

“Supõe-se - orgulhoso - que é soberano,
Que todas as belas vassalas lhe são!
Mais falso que a brisa que as flores bafejam,
Se mil forem belas... a mil finge amar...
Assim um já disse, e assim fazem todos,
Embora não queiram jamais confessar”.


LUIZA AMELIA DE QUEIRÓS- nasceu em Piracuruca-PI, a 26 de dezembro de 1838 e faleceu em Parnaíba PI, a 12 de novembro de 1898. Casou-se duas vezes, primeiramente com Pedro José Nunes, em 1859, e depois de viúva, com Benedito Rodrigues Madeira Brandão, em 1888. Não teve filhos.

Considerada a primeira poetisa piauiense, Luíza Amélia recebeu o título de Princesa da Poesia Romântica do Piauí e, de acordo com Bugyja Brito, as poesias de Luísa Amélia são impregnadas de romantismo, de simplicidade e lirismo, é patrona da cadeira 28 da Academia Piauiense de Letras, tendo como ocupante atual, Manfredi Mendes de Cerqueira. É ainda patrona da academia Parnaibana de Letras e da Academia de Letras da Região de Sete Cidades.

Com apenas duas obras publicadas, Flores Incultas (1875) e Georgina ou os efeitos do amor (1893), a autora revela em seus versos a luta pelo espaço da mulher na sociedade”. Iramir Soares Mineiro

“O ingresso feminino no universo da palavra escrita e da publicação relaciona-se a deslocamentos que articulam lugares, práticas e saberes. O acesso à educação e o alargamento das possibilidades de realização para além do espaço doméstico convergiam com anseios femininos, que eram instigados pelo discurso feminista. De forma que era preciso delimitar os papéis femininos e masculinos para impedir que eles se desmanchassem em um processo que era visto, sobretudo como de desmoronamento”.

Na realidade, a tristeza refletida das mãos de escritoras está muito relacionada à guerra dos sexos, em que acaba por ganhar os homens, todavia, não podemos ainda esquecer que a temática vai muito além de tudo isso. Como já foi dito em algumas linhas acima: sendo a tristeza algo sem definição.




Pesquisadora Profa. Dra. Algemira de Macêdo Mendes, com o ex-orientando de Mestrado em Letras, Daniel Castello Branco Ciarlini, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) lança obra desaparecida e poemas inéditos de Luíza Amélia Queiroz.  Trata-se da obra “Georgina ou os efeitos do amor”, que estava desaparecida há mais de 100 anos. O livro também trará outros escritos inéditos, publicados pela autora em vida e outros póstumos, no “Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro”. Para ela, a descoberta resgata mais uma grande obra da literatura piauiense.

O livro conta com poemas e textos inéditos da escrita da poetisa piauiense Luiza Amélia de Queiroz (1838-1898). Para a organizadora da obra, Algemira, a temática liga a poesia ao repositório da memória, ao cunho social e libertário. 

“A obra demonstrou a participação feminina numa época em que a atuação da mulher se restringia ao espaço privado, somando-se a isso, manifestos sobre o preconceito que essas sofriam na sociedade patriarcal, sociocultural e geográfico”, afirma a pesquisadora. O livro conta com poemas e textos inéditos da escrita da poetisa piauiense Luiza Amélia de Queiroz (1838-1898). Para a organizadora da obra, Algemira, a temática liga a poesia ao repositório da memória, ao cunho social e libertário. “A obra demonstrou a participação feminina numa época em que a atuação da mulher se restringia ao espaço privado, somando-se a isso, manifestos sobre o preconceito que essas sofriam na sociedade patriarcal, sociocultural e geográfico”, afirma a pesquisadora. 

No trabalho, a pesquisadora elege o livro como objeto de resgate e afeição para a literatura. “A obra estava perdida porque eu já havia comprovado que ela não existia em nenhum arquivo da Biblioteca Nacional, nem nos estados do Maranhão, Pará e Piauí. Quando conseguirmos encontrá-la no estado do Amazonas. Junto com a reedição desta obra, publicaremos poemas inéditos da escritora”, explica Algemira.

As obras de Luzia Amélia de Queiroz alimentam um espírito perseverante e audacioso na mulher do século XIX. É autora de duas obras: Flores incultas (1875) e Georgina ou efeitos do amor (1893), obra composta por cinco contos, e deixou inédito o livro Pétalas Dispersas, que não foi encontrado até a presente data.

As pesquisas tiveram início ainda em 2005, com o doutorado-sanduíche, quando a profa. Algemira viajou até Coimbra, em Portugal para investigar documentos sobre autores piauienses

Daniel Castello Branco Ciarlini descobriu que jornais do estado do Amazonas haviam noticiado sobre Luiza Amélia, e através de uma busca detalhada em sebos e bibliotecas amazonenses, adquiriu a obra quando cursava o mestrado em Letras, orientado pela professora Algemira. Ele, atualmente, dá prosseguimento às pesquisas sobre a literatura piauiense no doutorado na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).


OS FUNDADORES DA ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS


A Memória Histórica da Academia Piauiense de Letras, de autoria de Fenelon F. Castelo Branco, divulgada em 1918, traz os seguintes dados a respeito da fundação da academia “Foi no dia 30 de dezembro de 1917 que, pelas nove horas, o salão nobre do Conselho Municipal, um grupo de intelectuais patrícios, composto pelos Srs. Clodoaldo Freitas, Higino Cunha, João Pinheiro, Édison Cunha, Lucídio Freitas, Jônatas Batista, Celso Pinheiro, Antônio Chaves, Benedito Aurélio de Freitas e Fenelon Castelo Branco, tomou a louvável iniciativa de organizar em Teresina, a exemplo de outras capitais de Estados da Federação, um grêmio literário, tendo por fim a cultura da língua e o desenvolvimento da literatura piauiense. E assim reunidos em sessão, sob a presidência de Lucídio Freitas, esse espírito brilhante já vantajosamente conhecido nas letras pátrias, ficou imediatamente fundada a Academia Piauiense de Letras.”

LUCIDIO FREITAS- Nasceu em Teresina, a 5 de abril de 1894, filho do intelectual Clodoaldo Severo Conrado de Freitas e sua esposa Corina Freitas. Fez os primeiros estudos no Liceu Piauiense, onde concluiu os Preparatórios. Orientado pelo pai, desde cedo adquiriu sólida cultura humanística. Compôs seus primeiros poemas ainda na adolescência. Em 1912, aos 18 anos de idade, estreou em livro com Alexandrinos, coletânea de versos, em parceria com o irmão Alcides Freitas. 

Em 1917, publica Vida Obscura, seu segundo livro de poesia, que adquire grande aceitação no meio literário. Segundo a crítica especializada, Lucídio Freitas se afirmaria como um dos maiores líricos da poesia piauiense, com versos sonoros, rítmicos e perfeitos.

Em 1914, aos 20 anos de idade, seguiu para o Recife, matriculando-se na Faculdade de Direito. Mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde concluiu o curso, bacharelando-se em Direito no ano de 1916. Ainda estudante chegou a ser nomeado promotor público da comarca de Amarante, não tendo assumido efetivamente o cargo. Durante sua estada no Rio de Janeiro, participa da vida literária, guiado por seus parentes Amélia de Freitas e Clóvis Bevilacqua. 


CLODOALDO SEVERO CONRADO DE FREITAS nasceu em Oeiras (PI) no dia 7 de setembro de 1855, filho de Belisário da Silva Conrado de Freitas e de Antônia Rosa Dias de Freitas. Seu pai lutou na Guerra do Paraguai (1864-1870). Fez os primeiros estudos e os de humanidades em São Luís, no Seminário das Mercês e no Liceu Maranhense, concluindo-os no Liceu Piauiense, em Teresina, em 1870. Posteriormente transferiu-se para Recife, vindo a graduar-se pela Faculdade de Direito da capital pernambucana em 1880. Depois de formado retornou ao Piauí, onde foi juiz municipal em Valença do Piauí até 1882. No ano seguinte assumiu os cargos de promotor público e juiz municipal em Teresina.

Entre tantos destaques que já se fizeram ao primeiro ocupante da cadeira nº 1, um dos fundadores da Academia Piauiense de Letras, tendo escolhido como patrono seu amigo e poeta José Manuel de Freitas, e de cuja insituição foi o primeiro presidente, cabe referir inicialmente à condição de ter sido ele um eminente homem de pensamento, no final do séc. XIX e primeiro quartel do séc. XX. O que afirmo está em Teresinha Queiroz, está em Celso Barros, está em Cistino Castelo Branco, nos livros, ensaios e biografias que publicaram. 


Nasceu o primoroso poeta, cronista, conferencista e jornalista CELSO PINHEIRO na cidade de Barras, no norte do Estado do Piauí, em 24 de novembro de 1887, sendo seus genitores o tenente-coronel João José Pinheiro e Raimunda Lina Pinheiro. Pertence a uma família com enorme contribuição às letras piauienses, pois seu pai foi educador em Barras e dois de seus irmãos e um filho foram notáveis escritores com assento na Academia Piauiense de Letras, respectivamente, João Pinheiro, Breno Pinheiro e Celso Pinheiro Filho.

Em 1903, faz parte da redação de A Esperança, também de caráter estudantil. Sucede sua participação em outras folhas jornalísticas: Andorinha, Arrebol, Mensageiro (1904), O Operário (1906), Alvorada (1909), entre outras. Dada a sua atividade intelectual, desde cedo convive com os mais expressivos nomes das letras piauienses. 

Celso Pinheiro dedicou-se às letras desde a mocidade, consagrando-se como um dos maiores poetas do Brasil. Cronista de fôlego, jornalista brilhante, foi, contudo, na poesia que fez o seu nome. Compunha um soneto com uma facilidade nunca vista. É insuperável nesse aspecto, sendo considerado o maior sonetista do Piauí. É representante das escolas simbolista e parnasiana no Piauí. Faleceu na cidade de Teresina, em 29 de junho de 1950, mesma data de morte do também poeta Da Costa e Silva. 

Grande parte das obras de Celso Pinheiro ainda encontram-se totalmente desconhecidas do público, restrito à sombra de intelectuais e pequenos círculos literários. Um dos grandes, talvez, o maior motivo, está ligado à vida boemia e desregrada levada pelo poeta e o teor da sua escrita ofensiva. As críticas mordazes direcionadas a burguesia lhe conferia pouco espaço para ascender profissionalmente e ser reconhecido, uma vez que a imprensa piauiense era fantoche nas mãos da política local. Ora, ninguém em sua sã consciência iria promover àqueles que transgridem as suas normas, muito menos aqueles que lhes emitissem palavras ofensivas.



A ESCRITA QUE CONQUISTOU A CRÍTICA LITERÁRIA

ALVINA FERNANDES GAMEIRO navegou por diversas artes, teve as mais variadas influências, na escrita demonstrou todo seu potencial com o seu profundo conhecimento da língua misturado aos traços regionalistas.

Segundo Jurema da Silva Araújo, a autora navega entre a linguagem rebuscada e a linguagem coloquial com tanto domínio que encantou seus leitores e foi comparada a autores como Guimarães Rosa.  Suas obras conquistaram a crítica literária, demonstrando sua ligação com as suas origens, abordou o sertão e o sertanejo de forma apaixonada e sensível.    

É natural de Oeiras-PI, poetisa, escritora, pintora, contista, romancista e professora, ‘nasceu em 1917 e faleceu em Brasília em 1999. É formada em Artes Plásticas pela Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Já ministrou aulas de inglês e português no Piauí, Maranhão e Ceará. Morou em Teresina, Fortaleza, Brasília e Los Angeles. 

Alvina é uma mulher multifacetada e que precisa ser mais conhecida pelos piauienses. Ela traz o traço do olhar feminino, que foi buscar no vaqueiro o nosso processo de identificação entre romances, poesia e contos”, afirma o professor Luis Romero, um dos organizadores do Salão do Livro do Piauí - Salipi.

Alvina ocupou a cadeira nº 14 da Academia Piauiense de Letras e é considerada por Wilson Carvalho Gonçalves (2007, p. 49) como “uma cintilante e inspirada poetisa”. É autora de A Vela e o Temporal, sua obra de estreia em 1957, que obteve boas críticas de José Américo de Almeida e José Lins do Rego (MOURA, 2001).



             AMANTE DA LITERATURA

 "O mundo é das aparências. O homem vale o que parece ser”

ABDIAS DA COSTA NEVES  nasceu em Teresina no dia 19 de novembro de 1876, filho de João da Costa Neves e de Delfina Maria de Oliveira Neves. Em 1893, com apenas 17 anos de idade, começou a trabalhar no jornal A Ideia, vindo a tornar-se seu redator principal. Ingressou no ano seguinte na Faculdade de Direito do Recife, graduando-se em 1898. Durante o curso trabalhou no Jornal do Recife como revisor.

A obra, Um manicaca, foi composta com a intenção de documentar Teresina no apagar das luzes do século XIX e combater as práticas e a fé religiosa da coletividade e ainda algumas doutrinas do Catolicismo. No fim do século registrou: os animados festejos da igreja de N.S. do Amparo, de foguetório e namoricos.

Tornou-se dos mais admirados incentivadores da vida social e literária da capital piauiense, cujos costumes do começo desse século retratou com rara fidelidade no romance naturalista UM MANICACA.

Muito cedo ainda conheceu a dureza da vida e a enfrentou com coragem e galhardia muito acima da sua idade e de suas próprias forças. Aos 15 anos ficou órfão de pai. Fez o primário e os preparatórios em sua terra natal. Seguiu depois para Recife, matriculando-se na Faculdade de Direito, ali. Muito inteligente e aplicado aos estudos, seu curso superior foi uma colheita ininterrupta de louros.

[...] foi o único acadêmico aprovado com distinção numa turma de 39 bacharelandos, dos quais 26 foram reprovados e 12 aprovados simplesmente.
[...] Voltando a Teresina, Abdias foi juiz de direito interino de Piracuruca de 1900 a 1902, juiz substituto federal de 1902 a 1914 e secretário do Governo em 1914.
[...] Tocava flauta, violino e violão. Era exímio dançador, figura obrigatória nos salões de baile, principal diversão da capital naquele tempo
Foi um grande jornalista. Aliás, para ele o jornal era tudo. Sem jornal não podia viver: sentia-se amesquinhado, desamparado, diminuído, desarmado como peixe fora d’água. O jornal era a sua arma predileta para comentar os fatos, orientar a opinião pública, fazer literatura. Belíssimas páginas literárias suas estão esparsas em A Pátria, O Monitor, A Notícia, O Dia e Litericultura.

[...] Abdias teve os seus momentos de pura arte e produziu belos versos, cumprindo assim entre os homens a sua “missão de sol” na expressão de Martins Napoleão.

PIONEIRO DA LITERATURA PIAUIENSE

OVÍDIO SARAIVA DE CARVALHO E SILVA - Primeiro poeta e escritor nascido na bacia oriental do rio Parnaíba, em 1786, na vila de S. João da Parnaíba, hoje cidade de Parnaíba, no norte do Estado, filho de Antônio Saraiva de Carvalho e Margarida Rosa da Silva. Apenas completada a idade de seis anos, o que remete ao ano de 1792, os pais lhe mandaram estudar em Portugal, certamente morando na casa de familiares.

Primeiro piauiense a incursionar no campo da poesia. Estreou em livro aos dezoito anos de idade com Poemas (1808). Para Herculano Moraes, historiador da literatura piauiense, o livro “Poemas é um vasto conjunto de versos da corrente elmanista” com “nítida influência de Bocage, notadamente na construção do soneto, rigorosamente decassílabo”.  

O livro Poemas não constitui um grande momento da literatura nacional, nem expressão de valores piauienses, sobretudo pelas condições culturais, sociais e políticas da província na época e do poeta ter tido uma formação cultural lusitana.

A importância da obra literária de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva para a literatura piauiense é meramente cronológica, em face de ser considerada fraca e não representar temas, costumes e modus vivendi local. Citando Ronald de Carvalho, afirma João Pinheiro, que esse poeta era “entusiasta admirador de Bocage, filiou-se aos Elmanistas, entre os quais muito se distinguiu por diversos trabalhos em que, como quase todos os congêneres da época, sentia-se ainda o influxo dos árcades portugueses”. Para Herculano Moraes, historiador da literatura piauiense, o livro “Poemas é um vasto conjunto de versos da corrente elmanista” com “nítida influência de Bocage, notadamente na construção do soneto, rigorosamente decassílabo”.

Acrescenta que a poética desse autor é marcada por temáticas de expressões simbolistas, falando de sofrimento, desengano, desgraça, morte, tristeza, solidão, tortura, desespero, langor e outras expressões sinônimas(Visão histórica da literatura piauiense. 4ª ed. Teresina, 1997). É a mesma opinião do crítico literário Francisco Miguel de Moura: “A estética de Ovídio Saraiva era portuguesa, demonstrando forte influência arcádica e acentos bocagianos” (Literatura do Piauí, 2001). 


HEROI DA BATALHA DO GENIPAPO
LEONARDO CASTELLO BRANCO nascera na fazenda Taboca, à margem esquerda do rio Longá, no Município de Parnaíba, depois Barras, hoje Esperantina, em 1788. Provavelmente, no dia 6 de novembro, consagrado no calendário cristão a São Leonardo de Noblac, um dos santos mais populares da Europa central.

Foi um paladino da liberdade que liderou tropas na Guerra do Fidié, quando o bravo povo piauiense levantou-se em armas para libertar-se do jugo português e garantir sua adesão à Independência do Brasil. Também envolveu-se na Confederação do Equador, protestando contra o centralismo do poder monárquico no nascente Império.

Vencido em ambos os embates, foi duas vezes preso e encarcerado, mas nunca esmoreceu em seu ânimo varonil. Foi também um visionário, cujo sonho foi a construção do moto-contínuo, nele empregando toda a laboriosidade de sua longa existência, inclusive quatorze anos de estudos em Portugal e seis no Rio de Janeiro.

Filho de família abastada perdeu quase todo o seu patrimônio nesses estudos e na perseguição dessa ideia fixa. É como disse o muito vivo defunto Brás Cubas, pela pena de Machado de Assis: Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa!”Leonardo consumiu seu tempo nesse sonho tresloucado de fazer ciência no sertão do Piauí colonial.
                                                   
ESTUDOS DA POESIA, DA PROSA MODERNA CONTEMPORÂNEA


JOÃO NONON DE MOURA FONTES IBIAPINA- nasceu na fazenda Lagoa Grande, município de Picos, em 14 de junho de 1921. Segundo ele, “pego pra estudar já grande”, veio para Teresina matricular-se no Colégio Diocesano. Foi professor, diretor do Colégio Rural e Artesanal Pio XII, Juiz de Direito e membro do Conselho Estadual de Cultura, da Associação Profissional dos Jornalistas do Piauí, do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense. Primeiro presidente e um dos fundadores da Academia Parnaibana de Letras.

Fontes Ibiapina, um dos nossos mais fecundos escritores, pode-se dizer que também do Nordeste e do Brasil, é praticamente o fundador de uma prosa diferenciadora, no Piauí, aquela que marca a nossa consciência literária. Embora não bafejado pela crítica, suas obras eram lançadas em pequenas edições que circulavam bem no Piauí e depois seguiam um rumo diferente dos demais autores indígenas. É que ele se encarregava de enviá-las para Deus e o mundo, conseguindo uma dimensão nacional a duras penas. Chegou a empreender uma viagem até o Rio Grande do Sul distribuindo seus livros, uma proeza inédita. 

Membro do Conselho Estadual de Cultura do Piauí e da Academia Piauiense de Letras, sua maior glória não está no magistério, no jornalismo ou mesmo na magistratura, e sim na literatura. Deixou uma grande obra, tanto em quantidade como em qualidade, em torno de 30 títulos. Talvez, por causa da complexidade do seu mundo pensado e escrito, os professores e estudantes não o têm procurado com frequência para trabalhos acadêmicos, quer na área literária quer na de ciências sociais. Já não falamos dos críticos de jornais e revistas, que sumiram simplesmente, não existem mais. É uma pena, pois, que se deixe tão rico patrimônio inexplorado.
                                                     
Depois de sua morte, teve apenas uma obra sua editada no Piauí: a Fundação Cultural Monsenhor Chaves publica o volume Crendices, Superstições e Curiosidades Verídicas no Piauí, em 1993. Trata-se de continuação de sua “Paremiologia Nordestina", de 1975, editado pelo Governo do Estado, através da Cia. Editora do Piauí. São adágios, rifões, brocardos, anexins, parêmias, máximas, ditados, expressões, comparações, relaxos, paleios, chulos, enfim toda uma riqueza do homem nordestino em sua criatividade de caboclo sem letras mas muitas vezes mais sabido que os doutores da cidade.

Na área literária propriamente dita saíram apenas dois folhetos – não seriam propriamente livros – divulgando contos de Fontes Ibiapina: um que reúne Trinta e dois e Tangerinos, em 1988, e outro com o conto inédito Dr. Pierre Chanfubois, sem data de publicação, mas que se atribui seja do ano seguinte. Ambos os opúsculos tiveram a chancela das Edições Corisco, do editor Cinéas Santos.

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Fontes Ibiapina era uma pessoa alegre, recebia a todos muito bem, dava a impressão de ser feliz. Andou por muitas comarcas do Piauí, experimentou quando na Capital, antes de tornar-se magistrado, a indústria, quando sofreu um acidente. Mas nunca se queixava, sempre contando histórias, dizendo “chuleios”, incentivando a que os jovens escrevessem prosa. Só ficava brabo se o chamassem de poeta. Talvez porque houvesse experimentado a poesia e sentisse que não era o seu forte. Aliás, é difícil encontrar um prosador que não tenha feito poemas. Esses são alguns traços pouco conhecidos da vida de Nonon, como era conhecido na intimidade. Era um homem curioso, sempre atento ao que a ciência tinha para oferecer.

Faleceu no dia 10 de abril de 1986, na cidade de Parnaíba, onde exercia as funções de Juiz de Direito, depois de ficar, na noite anterior, horas e horas com uma luneta na mão para observar a passagem do cometa Halley.

Fontes Ibiapina foi um dos poucos escritores piauienses que a exemplo de Vítor Gonçalves Neto teve a coragem de transpor para a ficção os duros anos de repressão do período da ditadura Vargas quando comandava o Piauí o interventor Leônidas Melo, e Teresina, o prefeito Lindolfo Monteiro que no código de postura do município instituiu a proibição de construções de casas cobertas de palhas na zona urbana da capital.

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Em Palha de Arroz, Fontes Ibiapina, nos traz a dimensão de uma Teresina provinciana, sem energia elétrica e marcada por incêndios criminosos contra uma parcela marginalizada da população. É o segundo romance a retratar uma Teresina urbana, antecedido por “Um Manicaca” (1909), de Abdias Neves.

Palha de Arroz traz cenas picarescas, mas carregadas de um drama peculiar aos párias nordestinos, notadamente quando apresenta o universo da prostituição como via de sobrevivência da maioria das mulheres que vivia nos bairros suburbanos da capital (se é que havia essa divisão entre urbano e suburbano numa Teresina que, embora tenha sido a primeira capital planejada do País, tinha sequer energia nos postes para iluminar as ruas) sendo os lampiões de azeite os únicos a cumprirem essa função e em pequena escala.

A publicação de Palha de Arroz tornou-se referencial para tratar de temas até então negligenciados pela literatura de autores piauienses e aprofundou o debate em torno da marginalização social. As personagens de Palha de Arroz foram de certo modo retrabalhadas com maestria em obras de mesmo viés como Beira Rio Beira Vida (1965) de Assis Brasil.


POETA DO AMOR E DO TEMPO

HARDI FILHO é o nome literário de Francisco Hardi Filho, nascido em Fortaleza, Estado do Ceará, no dia 5 de julho de 1934. Veio para o Piauí já funcionário público federal (IBAMA) e aqui fundou raízes sentimentais e familiares. Não há hoje ninguém mais integrado ao Piauí do que Hardi Filho, a quem a Assembleia Legislativa, num ato de justíssimo reconhecimento, concedeu o título de cidadania piauiense.

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Poeta do amor e do tempo, o tempo todo. Poeta tão simples, para todos os tempos. Basta correr os olhos pelos títulos de suas obras: “Cinzas e Orvalhos”, 1964; “Gruta Iluminada”, 1970; “De Desencanto e de Amor”, 1983; “Teoria do Simples”, 1986; “Suicídio do Tempo”, 1991; “Estação 14”, 1997; “Veneno das Horas”, 2000; “O Sonho dos Deuses e os Dias Errantes”, 2001, além deste “Tempo Nuvem” e do inédito, escrito e organizado em conjunto comigo, denominado “Tempo contra Tempo” – para falar somente em sua obra poética, pois Hardi é também um cronista de peso e escreve crítica literária quando bem o quer.

ESTRANHEZA

Estranha, essa distância que separa
a mente que está viva da que é morta;
estranha, essa aparência pouco clara
de quem passou sem que se abrisse porta.
{...}

Uma vida rica de acontecimentos, uma vasta produção e inspiração em demasia fizeram de Francisco Hardi Filho um dos maiores poetas piauienses. Antes de falecer, fato ocorrido em 27 de março deste ano, Hardi deixou material suficiente para uma nova obra. "Dia Rio" é o livro póstumo, que mostra um outro Hardi Filho.


CLODOALDO SEVERO CONRADO DE FREITAS nascido em Oeiras (PI), e falecido em Teresina, 1924. Cursou seminário católico. Formado em direito pela Faculdade do Recife. Advogado. Teve vida assim como de judeu-errante no exercício de cargos e funções, para o sustento das despesas: chefe de policia Mato Grosso, juiz de direito em Campos (Rio de Janeiro) e Bagagem (Minas), inspetor escolar no Amazonas, deputado estadual do Pará, diretor da Imprensa Oficial do Maranhão, desembargador no Piauí. Uma feita se elegeu deputado federal, recebeu o diploma, que a Câmara Baixa do país não reconheceu, numa grave injustiça.

Literariamente foi romancista, contista, cronista e a poeta já reconhecido, embora no último gênero tenha produzido bem pouco.

JOSÉ FÉLIX ALVES PACHECO nasceu em Teresina-PI em 02 de Agosto de 1879. Foi político, jornalista e poeta, também o primeiro piauiense a ingressar na Academia Brasileira de Letras.  Viveu a sua infância e adolescência na terra natal, mas a maior parte da sua vida foi construída no Rio de Janeiro, para onde partiu a fim de seguir carreira militar (por desejo do pai). Depois de abandonar o Colégio Militar, entrou para a Faculdade de Direito, iniciando- se logo depois na carreira jornalística, atuando como diretor- proprietário do Jornal do Comércio.

Pertenceu também, à Academia Piauiense de Letras, mas não tomou posse do Sodalício por motivo de doença. Foi um escritor exato, talentoso, sóbrio na linguagem e de estilo enxuto e puro. Morreu em 06 de Dezembro de 1915.

Reunindo toda sua obra no volume POESIAS, Félix Pacheco confessa que seu livro, contendo composições datadas de mais de trinta anos, surgia ‘‘velho e atrasadíssimo’’, reconhecendo que também andava muito diferente das correntes da época, isto porque, das 207 composições, apenas 11 não são sonetos.

 MÁRIO FAUSTINO DOS SANTOS E SILVA nasceu em Teresina, 22 de outubro de 1930 - Lima, Peru, 27 de novembro de 1962) - Além de poeta foi crítico, tradutor e jornalista. Ficou muito conhecido por seu trabalho de divulgação da poesia no Jornal do Brasil quando assinava o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, na seção Poesia-Experiência. Publicou apenas um livro de poesia O Homem e sua Hora (1955). Morreu prematuramente vítima de um desastre aéreo.

Foi poeta, crítico e tradutor que cantou a morte em versos, foi tema do Sarau da Feira, dentro da programação do último dia da VIII Feira Pan-Amazônica do Livro. Um polígrafo. Escreveu sobre vários assuntos. Produziu poesias, contos, crônicas, ensaios de poética, críticas literárias e cinematográficas, tendo ainda traduzido poetas de várias nacionalidades: franceses, espanhóis, ingleses e norte-americanos. 

No quadro literário brasileiro, Mário Faustino pertence ao grupo de poetas que se situam entre a geração neomodernista de 1945 e as experiências vanguardistas da década de 1950.

“...poesia e vida minhas deverão seguir paralelas,
até que a morte nos separe...”.
(Mário Faustino)

Pode-se dizer que a história da Literatura feita na capital piauiense remonta aos primeiros anos do século XX, quando os jovens que saíram do estado para estudar em outros locais retornaram e trouxeram com eles as ideias que circulavam em outras regiões do país.

Além disso, vários poetas, contistas e romancistas nascidos em outras cidades do interior do estado encontraram em Teresina o ambiente para se aprofundar no campo da arte literária e entrar em contato com novos autores. “Ainda hoje muitos dos nossos poetas e autores vêm do interior. Temos o caso de vários, como o de Cinéas Santos, e de outros que vieram de Parnaíba, Alto Longá, José de Freitas e outras cidades”, afirma a Profa. Dra. Maria Socorro Rios Magalhães, docente da UESPI, membro da Academia Piauiense de Letras e que possui pesquisas voltadas a teoria da literatura.

Ela conta que a literatura feita no Piauí, levando-se em conta que a própria literatura brasileira já tinha um atraso com relação aos movimentos da Europa, era ainda mais atrasada em relação as escolas literárias existentes na época. “Teresina só foi fundada em 1852, então há uma diferença entre aquilo que já se fazia fora da capital em outras cidades do Piauí, onde já se fazia alguma coisa em termos de literatura, embora ainda não houvesse essa noção de estar fazendo literatura piauiense”, comenta Maria do Socorro, que acrescenta: “Teresina só passou a contar com um movimento mais consistente no início do século XX”.

Atualmente, as obras literárias piauienses são lidas e apreciadas por leitores do Brasil e fora do país, com uma recepção calorosa. E não foi indispensável levantar “as bandeirinhas” para comprovar se essa literatura é canônica ou não. 

Entende-se por autor literário aquele que se vale da linguagem e a torna particular, singular, única. Daí, o porquê de escritores e poetas de valor serem raros: a forma de expressão é tudo.