Embora pouco conhecida e
divulgada, a produção literária piauiense é bastante significativa, de boa
qualidade, sendo objeto de estudo de pesquisadores, estudantes e professores
universitários. Pode-se dizer que a literatura piauiense se tornou muito mais
conhecida entre os jovens quando a Universidade estadual e a federal incluíam obras
nos exames de vestibular.
Hoje, cabe aos estudantes do
curso de Letras Português resgatar os autores e obras que retratam a história
do Piauí. Lucídio Freitas diz que “um povo que desconhece a sua história,
desconhece-se a si mesmo. É sentindo o contato das coisas mortas que podemos
construir os grandes casos futuros.
Pretende-se aqui neste blog,
registrar informações que se refere à literatura piauiense, aos autores que
mais se destacaram e obras que jamais serão esquecidas. Continue lendo
Literatura Piauiense são a poesia, a
ficção e a peça teatral (enquanto não representada) feitas no Piauí ou não, por
piauienses natos ou não, glosando temas, modos de ser e costumes piauienses,
seu folclore, seu ser social, enfim, o registro de emoções em nosso subdialeto
ou no dialeto nordestino”.
Cada
página folheada vai revelando, paulatinamente, axiomas inspirados e suas várias
nuances que perpassam o limite dos padrões estabelecidos pelos pensadores. As
ideias expressas em livros desse gênero, que são os fragmentos dessa obra, têm
vida própria, e a sapiência tende a andar de “mãos dadas” com a criatividade.
Estudo realizado pela a pesquisadora Profª Socorro Magalhães que pesquisou o surgimento histórico da literatura piauiense, aponta que essa literatura se manifesta a partir do início do século XX.
Professora da UESPI, e pesquisadora da literatura piauiense, sendo a obra Literatura Piauiense – horizonte de leitura & crítica literária a síntese de seu estudo, com a análise da escrita local de 1900 a 1930, com a análise da escrita local de 1900 a 1930, com informações e análises corretas.
Segundo um crítico abalizado, Herculano de Moraes (1997), Literatura
Piauiense é o conjunto ou acervo de obras literárias registradoras das emoções,
das paisagens geofísicas, humanas e sociais, de memória e do comportamento do
povo do Piauí”.
A PRIMEIRA POLIGRAFIA DE AUTORES PIAUIENSES
A
obra Dicionário
de Sabedoria dos Piauienses representou um marco dentro da literatura
do Piauí, pois colocou sob uma nova ótica a maneira de ser vista a primeira
poligrafia de autores piauienses. As palavras, por si só, possuem uma grande
capacidade de transformação quando colocadas de maneira sincronizadas dentro de
concepções inovadoras e, neste caso, estas mesmas (as ideias) foram aplicadas
brilhantemente na obra acima citada.
Diversos
autores contribuindo para o engrandecimento dessa obra, com suas frases cheias
de verdade, dentre os quais se destacam: Mário Faustino dos Santos e Silva;
Maria Elizabeth Rego Oliveira; Eliane Madeira Moura Fé Dantas; Claudete Maria
Miranda Dias; José Camilo da Silveira Filho e Cineas das Chagas Santos, entre
outros.
O
primeiro, dos que foram mencionados acima, nasceu em Teresina a 22 de outubro
de 1930. Ele estreou em sua carreira literária publicando dois poemas em 1948,
no jornal paraense Folha do Norte, intitulados Dois Motivos da Rosa e Poemas do
Anjo. A linguagem poética encontrada é de estilo conciso, enxuto, e emprega
poucos adjetivos. As principais figuras de linguagem utilizadas são a metáfora
(alcançando tons sublimes), anáfora e antítese. A passagem transcrita abaixo,
tirada de uma das poesias de Mário Faustino, ilustra tudo o que foi colocado
sobre ele: “Amante: coração queimado”.
Um Olhar Sobre a Literatura Piauiense
Professora da UESPI, e pesquisadora da literatura piauiense, sendo a obra Literatura Piauiense – horizonte de leitura & crítica literária a síntese de seu estudo, com a análise da escrita local de 1900 a 1930, com a análise da escrita local de 1900 a 1930, com informações e análises corretas.
Autora de uma tese de doutorado,
defendida na PUC-RS, intitulada Horizontes de Leitura e Crítica Literária: a
recepção da literatura piauiense (1900-1930), ela afirma que o período de 1900
a 1930 constitui o momento decisivo naformação do sistema literário piauiense
e que “somente a partir de circunstâncias favoráveis, como a melhoria da
escola, o desenvolvimento da imprensa e a instalação das primeiras tipografias
em Teresina, tornou-se possível o funcionamento de um sistema literário, nos
moldes preconizados por Antônio Cândido, autor do clássico A
formação da literatura brasileira: momentos decisivos, onde aponta a
tríade autor-obra-leitor como indispensável à formação de uma
literatura propriamente dita, ou seja, um sistema literário.
Para Profª Socorro Magalhães, as primeiras produções literárias consideradas como literatura piauiense datam dos primórdios do século XIX, com o aparecimento de obras esparsas, produzidas e publicadas fora do Piauí e até mesmo fora do Brasil.
Os historiadores da literatura piauiense divergem ao apontar autores e obras que marcariam a origem dessa literatura, uns apontam Ovídio Saraiva, com Poemas, livro publicado em Coimbra, em 1808.
Para Profª Socorro Magalhães, as primeiras produções literárias consideradas como literatura piauiense datam dos primórdios do século XIX, com o aparecimento de obras esparsas, produzidas e publicadas fora do Piauí e até mesmo fora do Brasil.
Os historiadores da literatura piauiense divergem ao apontar autores e obras que marcariam a origem dessa literatura, uns apontam Ovídio Saraiva, com Poemas, livro publicado em Coimbra, em 1808.
A
obra Poemas é um conjunto de versos
da corrente elmanista, contendo poesia sentimental, relacionada às Cortes
Palacianas, sem nexo com as origens étnicas do autor. Constitui exceção
reveladora de vitalidade poética no conjunto de sua obra, a letra primeira da música
que seria o Hino Nacional do Brasil, refletindo um estado de revolta do autor.
Outros defendem que a literatura
piauiense começa com a publicação de A criação universal, de Leonardo Castelo
Branco, impresso no Rio de Janeiro, no ano 1856, período em que o poeta viveu
naquela cidade; para outros, Flores da noite, de Licurgo de Paiva, publicado na
cidade do Recife, em 1866 seria a obra inicial da literatura piauiense; há
ainda os que afirmam a primazia de Impressões e gemidos, obra póstuma de José
Coriolano, publicada em 1870, por intervenção de amigos, que reuniram trabalhos
do poeta, escritos na década anterior, quando acadêmico de Direito na cidade do
Recife.
A literatura piauiense responde à necessidade de se produzir uma identidade cultural piauiense. Em segundo lugar, as literaturas regionais resultam da experiência da margem, e nesta pauta são uma resposta ao sentimento de marginalidade cultural a que certos Estados brasileiros são relegados.
Na Formação da literatura brasileira, Antônio Candido propõe o conceito de sistema literário, definindo seu estudo como a investigação do processo de constituição desse sistema no Brasil, sua “formação.
A literatura piauiense responde à necessidade de se produzir uma identidade cultural piauiense. Em segundo lugar, as literaturas regionais resultam da experiência da margem, e nesta pauta são uma resposta ao sentimento de marginalidade cultural a que certos Estados brasileiros são relegados.
A institucionalização da literatura
piauiense, promovida principalmente pela Academia Piauiense de Letras, permitiu
(e permite) à elite cultural piauiense (de dentro e de fora da Academia) ocupar
um espaço social privilegiado e influente na sociedade piauiense.
Francisco Miguel de Moura, distinto membro de nossa Academia, é um conhecido escritor piauiense com dimensão nacional. Autor com grande produtividade literária, desde muito sua obra repercute dentro e fora do Piauí. É um polígrafo, militando com desenvoltura na poesia, no romance, no conto e na crítica literária. É, também, assíduo colaborador na imprensa de nossa terra, às vezes publicando em outras partes e até no exterior. É, portanto, um orgulho da literatura piauiense.
Francisco Miguel de Moura, distinto membro de nossa Academia, é um conhecido escritor piauiense com dimensão nacional. Autor com grande produtividade literária, desde muito sua obra repercute dentro e fora do Piauí. É um polígrafo, militando com desenvoltura na poesia, no romance, no conto e na crítica literária. É, também, assíduo colaborador na imprensa de nossa terra, às vezes publicando em outras partes e até no exterior. É, portanto, um orgulho da literatura piauiense.
SISTEMA LITERÁRIO
Na Formação da literatura brasileira, Antônio Candido propõe o conceito de sistema literário, definindo seu estudo como a investigação do processo de constituição desse sistema no Brasil, sua “formação.
O sistema literário piauiense pode
ser compreendido como um conjunto de traços construídos coletivamente através
de variadas práticas culturais, assumidas sob o rótulo de identidade cultural
piauiense. Para o crítico Antônio
Cândido (2000), o sistema literário só se forma com a existência da
tríade autor – obra – leitor.
Autores que contribuíram
João Pinheiro, Jônatas Batista,
Abdias Neves, Alberto
Peregrino,
Celso Pinheiro e Zito Batista.
“Se desejarmos focalizar os momentos em que se discerne a formação
de um sistema, é preferível no limitarmos aos seus artífices imediatos, mais os
que se vão enquadrando como herdeiros nas suas diretrizes, ou simplesmente no
seu exemplo. Trata-se então, (para dar realce às linhas), de averiguar quando e
como de integrarem um processo de formação literária”. (CÂNDIDO,2000)
Para
alguns pesquisadores, o sistema literário piauiense passou a funcionar no
início do século XX, quando os autores integrados à vida cultural do Estado,
reuniram-se com a intenção de criar uma literatura de expressão piauiense.
Esses mesmos autores passaram também a exercer a crítica literária através da
imprensa. As obras passaram a Ter mais repercussão.
Cândido diz que para haver um sistema literário é preciso, além de um conjunto de obras, contar com um conjunto de produtores conscientes de que estão fazendo literatura para um conjunto de receptores ou destinatários, ou seja, o público que vai receber as obras. O sistema literário pressupõe uma tradição ou uma continuidade, no dizer de Antônio Cândido, uma espécie de tocha que é passada de uma geração para outra.
O sistema literário piauiense
passou a funcionar no início do século XX, quando os autores integrados à vida
cultural do Estado, reuniram-se com a intenção de criar uma literatura de
expressão piauiense. Esses mesmos autores passaram também a exercer a crítica
literária através da imprensa. As obras passaram a ter mais repercussão. Criaram-se
até mesmo polêmicas em torno delas, através dos periódicos. Por outro lado, as
tipografias comerciais imprimiam aqui mesmo os livros e revistas literárias, o
movimento cultural cresceu, passando e existir o anseio de construção de uma
identidade literária para o Piauí.
Acredita-se que as obras da primeira década do século XX são exemplares quanto ao que preconiza Antônio Cândido a respeito de sistema literário, pois a produção, publicação e recepção dessas obras no território piauiense mostram que os elementos essenciais para o funcionamento desse sistema estavam consolidados. Havia autores, produzindo conscientemente uma literatura para o público local que, por sua vez, dava uma resposta, adquirindo o livro, lendo, comentando, influindo para que a obra repercutisse no meio social.
O autor que melhor representa o período de formação e consolidação do sistema literário do nosso Estado é, sem dúvida, o Poeta Da Costa e Silva, cuja obra abrange as três primeiras décadas do século XX, começando em 1908, com Sangue e culminando com Verônica, de 1927.)
O primeiro livro de contos da
literatura piauiense só apareceu no início da década seguinte, trata-se de À
toa - aspectos piauienses, de João Pinheiro, publicado em 1923.
MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA
Antônio Cândido diz que a ideia de uma literatura que se possa chamar de brasileira exige, necessariamente, a constituição desse “sistema literário”, conceito central de sua análise. É esse sistema que permite que uma série de textos seja entendida como literatura e como uma literatura nacional. Os textos que consideramos “literários”, para ele, não nascem literatura: são os leitores que legitimam as obras. Para Cândido, são consideradas manifestações obras literárias desarticuladas entre si, nascidas do gênio individual dos autores ou por influências de outras literaturas, como:
Poemas
- Ovídio Saraiva - obra inaugural de nossa literatura
Flores
da Noite - de Licurgo de Paiva
Chicotadas
- Félix Pacheco
Cantigas
- Thaumaturgo Vaz
Ânforas
e Uhlanos - de Jonas da Silva
Prosa
Ataliba, o vaqueiro, Francisco Gil Castelo Branco
Antônio Cândido
em formação da Literatura Brasileira: momento decisivos afirmam que a
literatura brasileira só se tornou um sistema literário em 1780 (século XVIII),
a partir do surgimento dos árcades mineiros. Todos os autores e obras
anteriores, incluindo Gregório de Matos e sua poesia barroca, o crítico
considera como manifestações literárias.
Diferença entre manifestações literárias e
sistema literário
Para
Antônio Cândido, são consideradas manifestações obras literárias desarticuladas
entre si, nascidas do gênio individual dos autores ou por influências de outras
literaturas.
A
noção de sistema literário se fundamenta no tripé: autor-obra-público. Para
haver um sistema literário é preciso, além de um conjunto de obras, contar com
um conjunto de produtores conscientes de que estão fazendo literatura para um
conjunto de receptores ou destinatários, ou seja, o público que vai receber as
obras.
O sistema literário pressupõe uma
tradição ou uma continuidade, no dizer de Antônio Cândido, uma espécie de tocha
que é passada de uma geração para outra.
Ainda na categoria de
manifestações, pode-se apontar as obras de autores que viveram no Piauí e
participaram da vida social da Província, como Leonardo das Dores Castelo
Branco, cuja obra Criação universal, de 1856 (impressa no Rio de Janeiro) é
considerada, por alguns críticos como a obra fundadora da literatura piauiense.
O primeiro crítico a apontar a Criação universal, como obra inaugural da literatura piauiense foi Lucídio Freitas:
A
nossa história literária data precisamente do meado do século passado, sendo
Leonardo das Dores Castelo Branco o primeiro poeta de valor que possuímos.
No Piauí, pode-se considerar "manifestações literárias" as obras
publicadas até o final do século XIX. Por quê?
As
obras de autores piauienses publicadas até o século XIX foram impressas fora do
Piauí, seus autores, quase sempre, visavam atingir outro público que não o Piauiense,
pois eles próprios estavam integrados a outros meios sociais. É o caso de Poemas de Ovídio Saraiva, 1808, Coimbra;
Flores da Noite, de Licurgo de Paiva,
1866, Recife; Chicotadas, Félix Pacheco,1897, Rio de Janeiro; Cantigas, de
Thaumaturgo Vaz, 1900, Manaus, Ânforas e Uhlanos, de Jonas da Silva,1900 e
1902, Rio de Janeiro. Na prosa encontramos Ataliba, o vaqueiro, Francisco Gil Castelo Branco, 1880, Rio de Janeiro.
Há
outros casos peculiares, como a publicação póstuma de Impressões e gemidos, de
autoria de José Coriolano, impresso na cidade de São Luís, por iniciativa de
familiares e amigos do poeta. É semelhante a situação de A harpa do caçador, de Teodoro Castelo
Branco, de 1884, também impresso na capital maranhense e que não teve
praticamente circulação, no Estado do Piauí. Sobre a distribuição do livro, é
significativo o comentário de um contemporâneo do porta, o escritor Clodoaldo
Freitas.
A Harpa do Caçador foi publicado em 1884,
mas o poeta, um verdadeiro descuidado, não fê-la correr mundo. Ninguém teve
notícia do livro que ficou entregue às traças, num canto de qualquer armazém.
Os poucos que o leram, com a maior injustiça, não renderam público e merecidos
elogios ao autor.
A
poetisa Luísa Amélia de Queirós Brandão fez imprimir seus dois livros em São
Luís do Maranhão, o primeiro Flores incultas é de 1875, o segundo Georgina ou
os efeitos do amor, de 1893. Lembramos ainda uma obra bastante conhecida até
hoje, A lira sertaneja, de Hermínio Castelo Branco, impressa em Fortaleza em
1887.
O que essas obras têm em
comum, além do fato de seus autores terem nascidos no Piauí? Existe uma
organicidade entre elas?
Seus autores tinham
intenção de fazer uma literatura de "expressão piauiense?
O destinatário dessa literatura era o público local?
Pode-se dizer que as
manifestações literárias piauienses iniciadas a partir de 1808, com Poemas, de
Ovídio Saraiva, contaram com um pequeno grupo de autores, poucas obras
publicadas, de forma esparsa, e praticamente sem leitores no Piauí.
A
formação de um público de leitores, virtuais destinatários de uma literatura
piauiense, só foi iniciada a partir das primeiras edições locais, nas primeiras
décadas do século XX, quando se deu, simultaneamente, o surgimento da crítica
literária, graças ao significativo desenvolvimento que a nossa imprensa passou
a ter naquele momento.
O escritor piauiense, pelo menos a maior parte deles, volta sua obra para os temas locais, a realidade física e humana do Piauí, dando ao nosso imaginário uma dimensão universal. Assim o faz, por exemplo, Da Costa e Silva com o rio Parnaíba, H. Dobal com os tabuleiros de Campo Maior, Assis Brasil com a cidade de Parnaíba e O. G. Rego com Oeiras.
HINDEMBURGO DOBAL TEIXEIRA - Poeta
consagrado, premiado, servidor público aposentado, cidadão do mundo que morou
em Teresina, Rio de Janeiro, Brasília, Londres e Berlim, HD parecia feliz
naquela tarde.
LITERATURA REGIONAL
A
noção de literatura regional, portanto, tem de partir da concepção da
literatura como expressão do espírito de um povo ou de uma local concepção
justa, mais propensas a exagerações.
Adotando este
ponto de vista, considera-se que na literatura piauiense está contida a “alma”
do povo piauiense. A literatura aqui é espelho em que o povo se constrói e se
mira; é documento dos mais valiosos, porque está nele o que um povo pensa de
si.
“Se não
existe literatura paulista, gaúcha ou pernambucana” – diz-nos Antônio Candido
(2000, p. 127) – “há sem dúvida uma literatura brasileira manifestando-se de
modo diferente nos diferentes Estados”.
O escritor piauiense, pelo menos a maior parte deles, volta sua obra para os temas locais, a realidade física e humana do Piauí, dando ao nosso imaginário uma dimensão universal. Assim o faz, por exemplo, Da Costa e Silva com o rio Parnaíba, H. Dobal com os tabuleiros de Campo Maior, Assis Brasil com a cidade de Parnaíba e O. G. Rego com Oeiras.
A
literatura não costuma obedecer às fronteiras nacionais ou regionais; nada a
rigor obriga um escritor gaúcho a falar dos pampas ou a um escritor piauiense a
falar do sertão. Por isso, por essa liberdade temática a qual muitos escritores
se negam a abdicar, é tão difícil definir o seja literatura piauiense (ou
gaúcha, maranhense etc).
Sendo
assim, historiadores da literatura piauiense como João Pinheiro
(1994) e Herculano de Moraes (1999) concordam que a obra inaugural de nossa
literatura é o livro “Poemas”, de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, publicado
em 1808.
Embora
nascido em terras piauienses, a poesia de Ovídio Saraiva, nascido em 1787 na
antiga Vila de São João da Parnaíba, é tênue em referências ao local em que
nasceu, mesmo porque o autor vivera grande parte de sua vida em Portugal e sua
influência maior viera do português Bocage e dos temas convencionais do
neoclassicismo. Herculano de Moraes é franco, pois, em afirmar: As primeiras manifestações literárias do
Piauí só tiveram de piauiense a origem dos seus autores” (1999, p. 09).
Mas, Será que toda e qualquer obra literária,
para pertencer à literatura piauiense, precisa centrar-se na temática local?
Há
três motivos que podem servir de resposta à indagação:
-
Primeiro, a necessidade de se produzir zonas de pertencimento, isto é, de
forjar identidades.
- Em
segundo lugar, as literaturas regionais resultam da experiência da margem, e
neste sentido são uma resposta ao sentimento de marginalidade cultural a que
certos estados brasileiros são relegados.
- Em
terceiro lugar, como nos ensina Michel Foucault (2007), quando se cria uma nova
área de saber e instituições para abrigar este saber cria-se, também, um campo
de poder; assim, a institucionalização da literatura piauiense, promovida
principalmente pela Academia Piauiense de Letras, permitiu (e permite) à elite
cultural piauiense (de dentro e de fora da Academia) ocupar um espaço social
privilegiado e influente na sociedade piauiense.
AUTORES PIAUIENSES CONSAGRADOS
H.
Dobal amadureceu sua escrita na efervescência do modernismo brasileiro e
piauiense, e junto com os escritores O. G. Rego de Carvalho e M. Paulo Nunes
criaram em 1949 o Caderno de Letras Meridiano, revista que buscava uma
renovação literária no estado e que viria a sair em apenas três volumes.
Com treze livros publicados, sendo sete de poesias, a obra de H. Dobal alcança um universalismo sem perder as formas e as cores de sua terra, especialmente porque o poeta vê na memória um meio para realizar uma espécie de “biografia espiritual”. Seu primeiro livro publicado, O tempo consequente (1966), já carrega alguns de seus principais temas: a relação do homem com o espaço, o abandono, o esquecimento, a solidão, o destino e a morte, assim como apresenta as características que nortearão toda sua obra: a opção pela concisão e reflexão sóbria - que recusa o exagero sentimental, a força das imagens - que dão presença ao “invisível” e a construção discretíssima de um sujeito poético.
Inimigo de abstrações, ele centra sua poética nos monumentos materiais e imateriais da cultura, dialogando com a história e com a memória popular. Trata-se de uma poética assentada em elementos telúricos mas que, ao abordá-los, atinge uma expressão universal. Esse é, aliás, um dos grandes méritos do poeta: ter dado, em sua poesia, expressão universal a temas, monumentos e episódios históricos relativos ao Piauí.
H. Dobal recebeu a atenção e os aplausos da crítica desde sua primeira obra, O Tempo Consequente, lançada em 1966. A segunda obra, O Dia Sem Presságios, lançada quatro anos após o livro de estreia, conquistou o Prêmio Jorge de Lima, do Instituto Nacional do Livro. De lá para cá, a fortuna crítica de H. Dobal se avolumou com artigos publicados em jornais, livros e trabalhos acadêmicos de mestrado e doutorado.
Com treze livros publicados, sendo sete de poesias, a obra de H. Dobal alcança um universalismo sem perder as formas e as cores de sua terra, especialmente porque o poeta vê na memória um meio para realizar uma espécie de “biografia espiritual”. Seu primeiro livro publicado, O tempo consequente (1966), já carrega alguns de seus principais temas: a relação do homem com o espaço, o abandono, o esquecimento, a solidão, o destino e a morte, assim como apresenta as características que nortearão toda sua obra: a opção pela concisão e reflexão sóbria - que recusa o exagero sentimental, a força das imagens - que dão presença ao “invisível” e a construção discretíssima de um sujeito poético.
Inimigo de abstrações, ele centra sua poética nos monumentos materiais e imateriais da cultura, dialogando com a história e com a memória popular. Trata-se de uma poética assentada em elementos telúricos mas que, ao abordá-los, atinge uma expressão universal. Esse é, aliás, um dos grandes méritos do poeta: ter dado, em sua poesia, expressão universal a temas, monumentos e episódios históricos relativos ao Piauí.
H. Dobal recebeu a atenção e os aplausos da crítica desde sua primeira obra, O Tempo Consequente, lançada em 1966. A segunda obra, O Dia Sem Presságios, lançada quatro anos após o livro de estreia, conquistou o Prêmio Jorge de Lima, do Instituto Nacional do Livro. De lá para cá, a fortuna crítica de H. Dobal se avolumou com artigos publicados em jornais, livros e trabalhos acadêmicos de mestrado e doutorado.
"Você
tem razão, doçura só a da vida".
O que mostra que Dobal não sofria da doença chamada
alienação política, essa gente costuma creditar a vida as mazelas sociais e
históricas que infernizam a odisseia humana, esquecendo que o verdadeiro
inimigo não atende pelo nome "vida", mas pela alcunha
"poder", a forma de como o "Estado" é organizado.
Os
Amantes ( H. Dobal )
Eis-me
de novo adolescente. Triste
vivo
outra vez amor e solidão.
Canto
em segredo palpitar macio
de
pétala ou de asa abandonada.
Outro
amor em silêncio e na incerteza
oprime
o coração desalentado.
Ó
lentidão dos dias brancos quando
a angústia os
deseja breves como um sonho.
Insidioso amor em
minha vida
reverte
o tempo para o desespero,
a inquietação da
adolescência
e o pensamento me
tortura, prende
como
se anunca houvesse outro consolo
que
não é mais de amor. Porém de morte.
Os Amantes, poesia que abre as
"As Formas Incompletas", retrata um amor sentido com as ânsias do
adolescer, discorrido de forma que a mensagem encerra a angústia inquietante
daqueles que amam em silêncio.
Nesse poema, o poeta volta
à mocidade para se fazer ouvir (Eis-me
de novo adolescente. Triste /
vivo outra vez amor e solidão.), é a voz madura que entoa a “Oração para
Invocar as que não Vieram”: Venham a mim todas as que não me quiseram, / todas
as que deixaram de conhecer, no sentido bíblico, / um homem competente não só
na palavra amor / mas também nos carinhos mais fundos.
Francisco
Gil Castelo Branco nasceu em Livramento
(município de José de Freitas) no ano de 1848. Foi diplomata, romancista,
contista e contista. Formado em Letras (França), residiu no Rio de Janeiro,
onde foi colaborador de vários periódicos - Revista Luz, Gazeta Universal e
Diário de Notícias. Foi ainda cônsul-geral do Brasil em Assunção (Paraguai) e
Marselha (França), onde faleceu em 1874.
A literatura é uma manifestação
artística que expressa à visão de mundo dos indivíduos. Ela traz marcas do seu
tempo, portanto, carrega dentro de si ideais, sentimentos e valores de
determinadas épocas. A obra, Ataliba, o
vaqueiro, é um romance em forma de folhetim, traz em suas páginas uma
história da seca nordestina, há em cada linha uma essência de dor do povo
piauiense. Composta
por 10 capítulos, esse piauiense mostrou nessa breve narrativa a grande riqueza
cultural existente no Piauí, como traços da religiosidade, mitos, lendas,
vestimentas, dentre outras características que fazem a obra ser considerada uma
grande obra literária piauiense.
Pesquisadores da literatura piauiense afirmam que essa obra é o precursor do romance regionalista, publicado em de folhetim nos anos de 1878 e narra a história de um vaqueiro que luta contra a seca no sertão do Piauí. É uma obra de cunho romântico, apesar de suas características regionalistas. O Romantismo foi um movimento literário que ocorreu no início do século XIX, período que o Brasil passava por enormes transformações sociais, econômicas, políticas e ideológicas. A sociedade, nesse período, buscava a liberdade de expressão, a nacionalidade e a democracia. De acordo com Coutinho (2004, p.22), ― “coincidindo sua eclosão com o alvorecer da nacionalidade, ajustou-se a alma do povo, cujos anseios e qualidades sentiu e exprimiu”
Pesquisadores da literatura piauiense afirmam que essa obra é o precursor do romance regionalista, publicado em de folhetim nos anos de 1878 e narra a história de um vaqueiro que luta contra a seca no sertão do Piauí. É uma obra de cunho romântico, apesar de suas características regionalistas. O Romantismo foi um movimento literário que ocorreu no início do século XIX, período que o Brasil passava por enormes transformações sociais, econômicas, políticas e ideológicas. A sociedade, nesse período, buscava a liberdade de expressão, a nacionalidade e a democracia. De acordo com Coutinho (2004, p.22), ― “coincidindo sua eclosão com o alvorecer da nacionalidade, ajustou-se a alma do povo, cujos anseios e qualidades sentiu e exprimiu”
A Arte é Vida Plena
Antônio Francisco da
Costa e Silva (Amarante PI 1885 - Rio de
Janeiro RJ 1950), poeta simbolista que começou a compor versos por volta de
1896, para procissões em Amarante (ainda cantados, com modificações, nas festas
religiosas do Piauí). Seu primeiro livro de poesia, Sangue, foi lançado em
1909.
Publicou os seguintes livros de
poemas:
Sangue (1908), Zodíaco (1917),
Verhaeren (1917), Pandora (1919),
Verônica (1927).
Vivendo
de 1885 a 1950, teria toda razão de fazer parte do Modernismo. Mas o poeta é
piauiense, de Amarante, influenciado pelo ambiente e costumes provincianos.
Portanto, inclinado ao passado, por isso não se pode definir o estilo de época
a que pertence a obra desse poeta
O Piauí das páginas de Da Costa e Silva é um eldorado onde as
matas são sempre verdes e pulsantes de vida, onde o rio é sempre caudaloso e
cristalino, onde o povo guarda uma pureza e uma ingenuidade ímpares.
O motivo desse idealismo
parece-nos ser dois, um de fonte literária e outro de fonte extraliterária. O
motivo literário é o amplo lastro de influência romântica e simbolista que Da
Costa e Silva recebera ao longo de sua formação literária.
AMARANTE
A minha terra é um
céu, se há um céu sobre a terra;
É um céu sob outro
céu tão límpido e tão brando,
Que eterno sonho
azul parece estar sonhando...
Sobre o vale natal
que o seio à luz descerra...
Que encanto natural
o seu aspecto encerra!
Junto à paisagem
verde, a igreja branca, o bando
Das casas, que se
vão, pouco a pouco, apagando
Com o nevoento
perfil nostálgico da serra...
Com o seu povo
feliz, que ri das próprias mágoas,
Entre os três rios,
lembra uma ilha, alegre e linda,
A cidade sorrindo
aos ósculos das águas.
Terra para se amar
com o grande amor que eu tenho!
Terra onde tive o
berço e de onde espero ainda
Sete palmos de
gleba e os dois braços de um lenho.
Da Costa e Silva
(1885-1950)
A cidade descrita não é Amarante mas uma cidade arquetípica, um eldorado onde até as mágoas são motivos de riso. Não se chamasse Amarante e esse soneto poderia ser um hino de quase qualquer cidadezinha do interior (desconte-se a única e tênue referência concreta e individualizante do poema: “Entre três rios...”).
Segundo Marly Gondim Cavalcanti
Souza, em sua tese de Doutorado pela Universidade Federal do Pernambuco (UFPE)
- O Universo Sonoro de da Costa e Silva -, na obra de Costa e Silva "vemos
brotar a música do torrão dacostiano, exemplificada pelo “aboio” do vaqueiro,
reunindo o gado no fim do dia; o canto das lavadeiras, na beira do rio, realizando seu ofício de todo dia; a
música popular executada na festa do Carnaval, fonte de alucinação; também a
música europeia das Valquírias de Wagner, dos instrumentos musicais (clarins,
cornetas, flautas, lira, zabumbas e sinos) e os hinos religiosos cristãos
introduzidos no Brasil a partir da colonização (...)". O próprio crítico
José Guilherme Merquior, em um texto anterior à edição de "Poesias Completas",
de 2000, disse que Da Costa e Silva
constitui-se em um "grande músico
do verso"
FRANCISCO DE
ASSIS DE ALMEIDA BRASIL é
natural de Parnaíba (1932). Juntamente com O. G. Rego, Assis Brasil é um dos
romancistas piauienses mais importantes na atualidade. Os gêneros explorados
por este autor são os mais variados, desde o romance, passando pelo conto, a
novela e a crítica literária. Vive atualmente em Teresina e participa
ativamente do cenário cultural do Estado.
Um dos maiores nomes da
Literatura Brasileira da atualidade. O autor de Beira-Rio, Beira-Vida é membro
das Academias Piauiense e Parnaibana de Letras.
É o orgulho do povo piauiense.
É o orgulho do povo piauiense.
OBRAS:
TETRALOGIA
PIAUIENSE
•
Beira
Rio Beira Vida (1965)
•
A
Filha do Meio Quilo (1966)
•
Salto
do Cavalo Cobridor (1966)
•
Pacamão(1969)
CICLO DO TERROR
* Os que Bebem
como os Cães (1975)
* Aprendizado da
Morte (1976)
*
Deus, Sol, Shakespeare (1978) Os
Crocodilos (1980)
O que leva um homem a dedicar uma vida inteira a arte de escrever? São seus sonhos, desejos, vaidade, ou há algo de oculto nesse mister divino, a arte de contar histórias? Assis Brasil talvez tenha essa resposta, mas não quis nos dar, porque tem vivido uma existência dedicada a criá-las, como se fosse o nutridor dessa necessidade, que o ser humano adquiriu, com a experiência tribal, ao lado das fogueiras ancestrais, até que surgisse a palavra escrita: contar histórias.
E não há nada que expresse mais esse dom, do que a capacidade de introjetar de si mesmo, a mesma dor, o mesmo grito, vagido dos que nascem e terão que se perpetuar e se tornar incomuns, para o engrandecimento da raça humana. Conheço Assis Brasil desde os meus tenros 21 anos, quando fui seu aluno na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Hoje já passei da casa dos 60, disse Orion Lima, ( 2010 ).www.capitalteresina.com.br/noticias/cultura/assis-brasil (2014) pergunta ao escritor: Como começou o seu interesse pela literatura?
Desde garoto sempre gostei
muito de ler. Onde eu estudava, em Parnaíba, tinha uma biblioteca muito boa e
eu tinha um bom professor de português, que serviu também de base para a minha
carreira literária, me incentivava. Esse professor até brincava falando que, de
todos os alunos, só via o Assis Brasil na biblioteca. Portanto, o viver de suas
personagens parece estar condicionado a forças que não podem ser controladas e,
por isso, assumem contornos místicos e ocultos que tornam complicada a análise
da obra desse escritor piauiense.
O romance Beira Rio Beira Vida
foi o mais reconhecido pela crítica, vencedor do Prêmio Nacional Walmap (1965).
Nele, o autor reconstrói o tempo dos navios gaiola, a imobilidade social, os
tabus e preconceitos de uma geração que copiava modelos estrangeiros. O romance
causou polêmica no Piauí, especialmente entre os parnaibanos, pelo tom
acusatório a uma sociedade indiferente à marginalidade. O autor focaliza
problemas sociais que, apesar de figurarem em Parnaíba, são conflitos sociais
universais: a segregação do espaço urbano representa a segregação social.
É
possível destacar, ainda, entre os romances de temática urbana Os que bebem como
cães (1975). O livro é movido pela mesma ânsia documental de narrar a história
recente, mas que, dada a censura, ainda não havia sido relatada. Surgiram,
pois, no Brasil dois tipos de romance, que podemos chamar de geração da
repressão. Um desses tipos é constituído de memórias, depoimentos de militantes
políticos que pertenciam à organizações revolucionárias (Em câmara lenta, de
Renato Tapajós (1877) e O que é isso, companheiro?, de Fernando Gabeira (1982)
são exemplos desse primeiro tipo).
O livro se divide em três capítulos numa repetição constante: CELA, PÁTIO, GRITO. A primeira é o local de reflexão e descoberta de si; a segunda, representação da pequena liberdade; a terceira, o descobrimento do mundo. Não há uma noção de tempo, o que o aflige por não saber o período de estadia naquele local. Aos poucos, usa várias estratégias para descobrir o que parece ser um enigma: o funcionamento daquele suplício. Sempre que vai ao pátio, encontra muitos outros presos, todos com barbas longas, mal nutridos, sujos e cadavéricos. Esse momento de “liberdade” ocorre para que eles tomem água, banhem-se e lavem suas roupas sujas de excrementos. Nessa ocasião, o grito é a quebra do silêncio e, talvez, um limite entre tortura psicológica e esperança. Os gritos são dos presos clamando pela mãe, Deus ou por sua mulher. Os guardas os silenciam com uma fita na boca e cassetetes.
O livro se divide em três capítulos numa repetição constante: CELA, PÁTIO, GRITO. A primeira é o local de reflexão e descoberta de si; a segunda, representação da pequena liberdade; a terceira, o descobrimento do mundo. Não há uma noção de tempo, o que o aflige por não saber o período de estadia naquele local. Aos poucos, usa várias estratégias para descobrir o que parece ser um enigma: o funcionamento daquele suplício. Sempre que vai ao pátio, encontra muitos outros presos, todos com barbas longas, mal nutridos, sujos e cadavéricos. Esse momento de “liberdade” ocorre para que eles tomem água, banhem-se e lavem suas roupas sujas de excrementos. Nessa ocasião, o grito é a quebra do silêncio e, talvez, um limite entre tortura psicológica e esperança. Os gritos são dos presos clamando pela mãe, Deus ou por sua mulher. Os guardas os silenciam com uma fita na boca e cassetetes.
O poeta que desafinou o coro dos
contentes:
Torquato Neto
TORQUATO PEREIRA DE
ARAÚJO NETO nasceu
em Teresina no ano de 1944. Foi poeta, letrista, cineasta, critico,
publicitário e jornalista. Deteve uma coluna no jornal Última Hora batizada de
Geleia Geral. Não só divulgava os acontecimentos artísticos de modo geral como
também emitia pareceres seus quanto à Arte.
Integrou a Tropicália, ao lado
de Gilberto Gil, Tom Zé, Caetano Veloso, Mutantes. Teve várias letras suas
musicadas não só na época como ainda hoje. Torquato suicida-se no dia de seu
aniversário em 1972. Em 1959, seguindo os passos de
outro poeta piauiense, Mário Faustino, decidiu cursar o científico em Salvador.
Não podia imaginar a opulência que o esperava. A Salvador do início dos anos 60
vivia grande agitação cultural. Lina Bo Bardi, Joaquim Koellreutter e Glauber
Rocha eram só as figuras mais nobres num cenário em que surgia uma arte
agressiva e de vanguarda.
LET'S PLAY THAT
Torquato
Neto
Quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
Para alguns críticos, as letras têm força sonora e versos ritmados,
como a poesia dos livros de cordel nordestinos que ele coleciona. Essa
influência pode ser percebida em uma de suas primeiras obras gravadas, o baião
Vento de Maio, feito em parceria com Gilberto Gil e gravado por Nara Leão em
1967: "Desapeie dessa tristeza/que eu lhe dou de garantia/a certeza mais
segura/que mais dia menos dia/no peito de todo mundo/vai bater a alegria".
Entre suas primeiras letras está “Louvação”, lançada com sucesso por Elis Regina e, em seguida, pelo seu co-autor, Gilberto Gil, em 1967. Naquele ano, estourou o Tropicalismo, no qual Torquato Neto brilhou como excepcional letrista. Sua grande contribuição para o movimento foram as letras da canção-manifesto “Geléia Geral”, de “Marginália 2”, de “Mamãe Coragem” e de “Deus vos salve esta casa santa” (as duas primeiras com Gil, e as duas últimas com Caetano Veloso). Edu Lobo e Jards Macalé foram dois outros importantes parceiros de Torquato Neto.
A barra está pesada e a geleia
geral brasileira, bicho, virou uma gororoba intragável de botar os bofes pra
fora, como se diz no melhor português das nossas plagas. Tudo anda meio sem
graça, os milicos voltaram a dar as caras com moral padrão meia-oito. Pense num
fetiche da farda como salvação da ordem e do progresso, pense. Nunca fomos tão
bocós e cívicos cornos conformados da brasilidade. Em bom nordestinês, estamos
mais lascados do que maxixe em cruz. Uma gracilianíssima angústia a moer os
ossos. De abrir o gás.
Entre suas primeiras letras está “Louvação”, lançada com sucesso por Elis Regina e, em seguida, pelo seu co-autor, Gilberto Gil, em 1967. Naquele ano, estourou o Tropicalismo, no qual Torquato Neto brilhou como excepcional letrista. Sua grande contribuição para o movimento foram as letras da canção-manifesto “Geléia Geral”, de “Marginália 2”, de “Mamãe Coragem” e de “Deus vos salve esta casa santa” (as duas primeiras com Gil, e as duas últimas com Caetano Veloso). Edu Lobo e Jards Macalé foram dois outros importantes parceiros de Torquato Neto.
Em 1971 e 1972, Torquato
escreveu a polêmica coluna no jornal Última Hora, intitulada Geléia Geral.
Nesse espaço, Torquato militou até a exaustão pelo cinema marginal, combateu o
Cinema Novo e a música comercial e lutou pelos direitos autorais. De
temperamento complexo, com internações psiquiátricas e problemas profissionais,
suicidou-se em 1972, no Rio.
Como o próprio nome sugere, em Geleia Geral cabia tudo: desde textos opinativos sobre as mais variadas
manifestações artísticas da época, seus debates e polêmicas, até notas e
anúncios dos eventos culturais, bem como poemas, cartas e depoimentos de amigos
ou personalidades, etc. Tiradas rápidas, soluções sintéticas (quase
aforísticas), combinações inusitadas de palavras, críticas mordazes, e momentos
de lirismo contido, formam o repertório das estratégias discursivas de Torquato
Neto.
ORLANDO GERALDO REGO DE
CARVALHO, natural de Oeiras (1930). Aos 12 anos, depois da leitura d'O Guarani,
de José de Alencar, decidiu ser escritor. Colaborou em várias revistas e
suplementos literários no país. Ao lado de H. Dobal e M. Paulo Nunes, fundou o
Caderno de Letras Meridiano. Encantou-se em Teresina aos 83 anos, no dia 9
novembro de 2013, deixando esposa (Divaneide Carvalho) e filho (Orlando
Victor).
O. G. Rego privilegiou temas
universais em suas histórias: amor, morte, solidão, loucura, família, angústia
existencial, sexualidade, preconceitos, aborto, frustração amorosa e
religiosidade e adolescência. Seu primeiro livro, "Ulisses entre o amor e
a morte", foi lançado quando tinha 23 anos (1953) encontra-se na 13ª
edição.
OBRAS:
Ulisses Entre o Amor
e a Morte (1953)
Amarga Solidão (1955)
Rio Subterrâneo
(1967)
Somos Todos Inocentes
(1971)
Ficção Reunida (2001)
ULISSES
ENTRE O AMOR E A MORTE,
romance de O. G. Rego de Carvalho, lançado em 1953, segue a tendência do romance
psicológico ou instrospectivo, de tensão interiorizada, em que o herói não
enfrenta a antinomia eu/mundo pela ação: evade-se, subjetivando o conflito. Em
outras palavras: ação, espaço e tempo são meros suportes para a construção da
narrativa, uma vez que o foco de interesse não é o exterior, mas o mundo
interior das personagens. A estrutura do romance compõe-se de 5 partes, todas
nominadas pelo narrador.
O romance trata-se de um
garoto, Ulisses, que cresce na cidade de Oeiras. O pai falece. Com a família
procura residência em Teresina. O jovem Ulisses banha-se nos rios Poti e
Parnaíba. Conhece garotas. Surgem os sonhos adolescentes. Um deles, Conceição.
Ulisses entre o amor e a morte não gira apenas nessas histórias de amor, mas
também de solidão, aflições, dramas e sofrimento devido à morte do seu pai,
pelo mistério da sua adolescência e pelo seu amor proibido por Conceição. Nada e absolutamente nada pode
impedir o amor entre duas pessoas porque este é um sentimento interior.
Naquela época, a publicação levantou
críticas no sentido de ser tratada ou não como uma obra de “literatura
piauiense”, visto que não trazia as temáticas tomadas como regionalistas, tais
como a seca, a miséria e a fome. Ao longo de sua trajetória, o literato se
envolveria em outras polêmicas ligadas à intelectualidade, sobretudo à
literatura, quando afirmara que não existia a “literatura piauiense”. Esse
posicionamento trouxe à tona, de forma mais enfática, debates sobre o status da
literatura, e suscitou reflexões acerca do cânone e questões de fronteira. Além
disso, fez acentuar discussões paralelas sobre a própria história da
literatura, no tocante à autoria, biografia, produção, publicação, circulação e
leitura dos textos literários.
O.G. Rego de Carvalho é, sem
dúvida, um grande romancista brasileiro, não devendo nada aos maiores do País.
Todos os seus romances são de fundo psicológico. Ele não é um simples contador
de histórias nem um regionalista a copiar costumes e linguajar local. Mesmo
sendo do Piauí, seu estilo é universal. Vai fundo na alma de suas personagens,
perscrutando suas ânsias, medos, seus “fantasmas interiores”. Suas frases são
buriladas, medidas. Embora prosador, existe musicalidade, compasso, em seus
textos. O crítico Vidal de Freitas encontrou cerca de 800 decassílabos
distribuídos em “Rio Subterrâneo.”
O seu amor pelas letras era imenso. Para escrever “Rio Subterrâneo”, abriu mão de postos mais elevados no
Banco e até mesmo do casamento na época. Seu esforço mental foi tão grande que
foi adoecendo enquanto o escrevia e, à medida que adoecia, passava para o papel
suas sensações. Com receio de que o romance não fosse concluído, passou a
escrever dia e noite. Terminada a tarefa, teve de entrar em intensivo
tratamento.
A carreira de O. G. Rego como escritor é bastante reconhecida por premiações e homenagens. Dentre elas, pode-se destacar: o Título de intelectual do ano, conferido pela União Brasileira de Escritor – Secção do Piauí; Título de Cidadão Teresinense, conferido pela Câmara Municipal de Teresina, por iniciativa do Vereador Deusdeth Nunes, em 1994; Placa entregue, em 10 de setembro de 1997, pela Superintendência do Banco do Brasil, por sua contribuição à cultura do país; Homenagem pelo cinquentenário da 1º edição de Ulisses Entre o Amor e a Morte do Sebrae-Pi, dentre outros.
Intérprete da Alma Nordestina
A carreira de O. G. Rego como escritor é bastante reconhecida por premiações e homenagens. Dentre elas, pode-se destacar: o Título de intelectual do ano, conferido pela União Brasileira de Escritor – Secção do Piauí; Título de Cidadão Teresinense, conferido pela Câmara Municipal de Teresina, por iniciativa do Vereador Deusdeth Nunes, em 1994; Placa entregue, em 10 de setembro de 1997, pela Superintendência do Banco do Brasil, por sua contribuição à cultura do país; Homenagem pelo cinquentenário da 1º edição de Ulisses Entre o Amor e a Morte do Sebrae-Pi, dentre outros.
REPRESENTANTE DA POESIA
SERTANEJA PIAUIENSE
Intérprete da Alma Nordestina
(1851-1889)
nasceu no município de Barras, Piauí, hoje pertencente a Esperantina. Pode-se
dizer que Hermínio Castelo Branco é um poeta afinado com a tradição popular dos
violeiros . De uma linguagem simples, retrata de forma segura o agreste
piauiense seus habitantes e costumes : vaquejadas, farinhadas, histórias de
caçadas e etc. Isto o torna um autêntico representante da poesia sertaneja
piauiense.
Na
poesia “São Gonçalo nos Sertões” diz Hermínio:
“Nunca vi couro de alma/ nem rastro de
lobisome”. Muitos e muitos anos mais tarde, Ney Matogrosso gravou a música
“Homem com H”, de Antônio Barros, que começa com os versos: “Nunca vi rastro de
cobra / Nem couro de lobisomem”. É uma variação dos versos de Hermínio...
O RUDE SERTANEJO QUE SÓ FALA A LÍNGUA DAS SELVAS:
HERMÍNIO CASTELO BRANCO
Lá
pelos idos de mil oitocentos e antigamente, quando algum vaqueiro do Piauí
necessitava promover uma vaquejada, para resgatar o gado solto pelo mato,
chamava seus companheiros para ajudar. Era uma forma de mutirão, muito
praticada no sertão. Chegando os vaqueiros no final do dia, para começar as
lides já cedo da madrugada, são recebidos com um cardápio substancioso,
preparado pelo anfitrião:
Fui buscar,
logo nas buchas,
A panela de
coalhada;
A farinha numa
cuia,
No espeto, a
carne assada.
Venham vindo
se arrastando!
- Gritei à
rapaziada.
Cada qual com
sua faca,
De coc’ras
junto à panela,
Foi tirando
com a cuia
Que servia de
tigela,
E despejando a
farinha
Na coalhada,
dentro dela.
Misturando a
carne assada,
Gorda, frescal
e cheirosa,
Todos ficaram
contentes
Com a ceia
apetitosa.
Nem no céu
nunca se viu
Comida tão
saborosa!
Os
versos acima são de “O Vaqueiro do Piauí”, de Hermínio Castelo Branco, poesia
constante do volume “Lira Sertaneja”. Hermínio de Paula Castelo Branco
(1851-1889) nasceu no município de Barras, Piauí, hoje pertencente a
Esperantina. Fascinado pelas lides do sertão, não prosseguiu os estudos,
permaneceu ao lado do povo simples, de quem se tornou o grande cronista,
registrando costumes, falas e tradições. Alistou-se como voluntário durante a
Guerra do Paraguai, depois entrou para o Exército e seguiu carreira militar até
passar para a reserva. A condição de militar lhe permitiu conhecer diversas
regiões do país. Ao encerrar sua carreira, retornou a Teresina, onde veio a falecer.
A
seu respeito diz Herculano Moraes (“Visão Histórica da Literatura Piauiense”,
tomo I, p. 66): “Tornou-se inigualável
na descrição de uma vaquejada, de uma farinhada, de uma quermesse em que
predominavam os costumes regionais em toda a sua inteireza”.
O primeiro título de Lira Sertaneja foi “Ecos do Coração”, publicado em Teresina no ano de 1881. Reeditando o livro no Ceará, em 1887, já em 7ª edição, Hermínio Castelo Branco mudou o título para “Lira sertaneja”, por considerar mais adequado ao conteúdo da obra. Ao apresentá-lo, diz ele, em sua “Satisfação ao Leitor”: “dedico este livrinho aos sertanejos do Norte de minha Pátria, como saudosa recordação dos dias felizes que entre eles passei. Se, na opinião autorizada dos críticos ilustrados, cometo um crime audacioso, tenho certeza de ser absolvido no Egrégio Tribunal dos canoros Cisnes Cearenses, pela humildade do meu pobre trabalho”. Pelo posterior reconhecimento da importância da obra de Hermínio Castelo Branco, parece claro ter recebido aprovação dos referidos “canoros Cisnes Cearenses”, provavelmente uma academia de letras da época.
O primeiro título de Lira Sertaneja foi “Ecos do Coração”, publicado em Teresina no ano de 1881. Reeditando o livro no Ceará, em 1887, já em 7ª edição, Hermínio Castelo Branco mudou o título para “Lira sertaneja”, por considerar mais adequado ao conteúdo da obra. Ao apresentá-lo, diz ele, em sua “Satisfação ao Leitor”: “dedico este livrinho aos sertanejos do Norte de minha Pátria, como saudosa recordação dos dias felizes que entre eles passei. Se, na opinião autorizada dos críticos ilustrados, cometo um crime audacioso, tenho certeza de ser absolvido no Egrégio Tribunal dos canoros Cisnes Cearenses, pela humildade do meu pobre trabalho”. Pelo posterior reconhecimento da importância da obra de Hermínio Castelo Branco, parece claro ter recebido aprovação dos referidos “canoros Cisnes Cearenses”, provavelmente uma academia de letras da época.
O verso mais conhecido de O
Vaqueiro do Piauí
Era no mês da
mutuca:
Fins d’água vinham
chegando,
Quando o gado sai
da mata
Na carreira,
esc’ramuçando,
Se deram estas
façanhas
Que, eu, por aqui,
vou contando
A mutuca é uma mosca de picada
dolorosa, e o mês da mutuca, segundo o autor, corresponde ao mês de maio. O que
o verso conta é que as moscas importunavam de tal forma o gado que ele saia
desesperado de dentro do mato. A edição de “Lira Sertaneja” é de 1972,
resultado de atos de Alberto Silva, então Governador do Piauí, que criou uma
comissão especial para elaborar o Plano Editorial do Estado do Piauí. A
publicação é particularmente enriquecida por contar com a colaboração de dois
renomados intelectuais piauienses: Celso Pinheiro Filho, que elaborou o
prefácio e a biografia do autor, e José de Arimatéia Tito Filho, que com o
modesto título de Ligeiras Observações sobre a Vocabulário da Lira Sertaneja
apresenta um alentado e esclarecedor estudo lexicológico.
LYCURGO JOSÉ HENRIQUE DE PAIVA-
Nasceu em
18/03/1842 em Oeiras-Pi e faleceu em Jerumenha em 1887 . Estudou Direito em
Recife na faculdade de direito, mas não concluiu o curso. É patrono da cadeira
número 10 da Academia de Letras Piauiense Lança seu primeiro livro em 1866 sob
o titulo Flores da Noite prefaciado por Tobias
Barreto.
Em
1866, ainda como estudante do curso preparatório, lançou o livro "Flores
da Noite". O trabalho recebeu comentários elogiosos de Tobias Barreto. Em
instantes o poeta alcançou fama literária, passando a conviver com grandes
expressões culturais da Veneza Brasileira. Licurgo se envaideceu e, partindo para
a boemia, abandonou os estudos .Autor das Flores da Noite, livro de versos, em
quem a meditação e o estudo têm muito que aperfeiçoar, é um viçoso talento que
pode enriquecer-se da mais bela frutificação. Sinto que o poeta novel não tenha
querido face a face encarar a natureza e pedir-lhe inspirações: – lamento que
se deixasse levar da admiração que a outros consagra, para tornar-se algumas
vezes imitador, quando muitas outras provou poder ser original.
Flores da Noite é um livro de versos, cuja
leitura fez-me conceber bem fundadas esperanças sobre o seu autor. Não é que
nesse livro encontre-se a perfeição; pelo contrário, nele figura grande número
de versos desleixados. Não é que nesse livro o autor nos tenha dado grandes e novas
aspirações, grandes e novas ideias sobre o que mais interessa à humanidade; – pelo
contrário, digamos-lhes a verdade, as suas vistas não alcançaram além do
individual. Mas não é isto propriamente um
defeito do autor; é influência da sociedade em que vive e da literatura em que
se embebe –, ambas devassas, impuras, repassadas de materialismo.
Obras:
Flores da Noite
Noite de luar (Poemeto dramático)
Voos e Quedas e Quedas fatais (inéditos)
O autor das FLORES DA NOITE, em quem a meditação e
o estudo têm muito que aperfeiçoar, é um viçoso talento que pode enriquecer-se
da mais bela frutificação. Sinto que o poeta novel não tenha querido face a face
encarar a natureza e pedirlhe inspirações: – lamento que se deixasse levar da admiração
que a outros consagra, para tornar-se algumas vezes imitador, quando muitas
outras provou poder ser original.
“Na
escarpa de um morro bem deserto,
A
paz da viração da gente ingrata,
De
murtas povoado;
Eu
quero que meu leito seja aberto
Descansem
meu corpo democrata
Na
vida abandonado.”
(L.
de Paiva)
O sol ardente de um dia verão
do ano de 1887 começava a declinar no poente.
A passarada se agitava, alegremente, anunciando com seus mil sons e tons
a proximidade do pôr do sol. O lugar ficava não muito distante da Fazenda Santo
Antônio de propriedade do comendador Dario Pereira da Silva, no antigo termo de
Jerumenha. Uma desgastada estrada de chão arenoso por ali passava. O terreno
era plano do tipo cerrado, mesclado por manchas de caatinga arbórea e algumas
árvores frondosas típicas da região. Em uma das margens daquele caminho
destacava-se um alto e majestoso juazeiro com sua abundante copa verde
proporcionando uma generosa sombra aos viajantes que ali estacionavam para um
ligeiro descanso, depois de uma longa viagem pelas regiões do alto Parnaíba.
Um
oásis poder-se-ia dizer, pois a poucos metros desse dadivoso juazeiro existia
um perene riacho que escorria, paralelo, abaixo do nível da estrada. O pequeno
regato era um presente de Deus. Seu tênue espelho d’água deslizava devagarinho
nesse pedaço de chão esturricado no meio do sertão piauiense. Daí a razão
porque o lugar era parado obrigatória dos viajantes, posto que ali tinham ao
seu dispor sombra e água fresca e um agradável recanto para descansar.
A
tristeza feminina na
Literatura piauiense
Literatura piauiense
O que representa a tristeza
para a literatura, para a arte em si? Responderia rapidamente, e não movido
pelo impulso, mas pela constatação obtida após um manancial de leituras e
percepções que competem à nossa bagagem: a tristeza representa muita coisa
quando tratamos do subjetivismo artístico.
Ela move ações e toca a alma
como nenhum outro sentimento, senão o amor. Tal
qual o amor, a tristeza não pode ser definida, muito menos sanada; e em termos
do que se é passageiro: alegria ou lamúria; findo, por aqui, a análise, já que
vai além da minha vã filosofia.
A tristeza possui um caráter
multifacetado que faz transgredir muitos pensamentos em interconexão, assim,
sem lógica... Ela só é sentida... dela advém a perda, o pessimismo, a saudade,
o sofrimento (e de todo tipo), o amor não correspondido, e deste nasce o quê
platônico, ora, viver assim, no platonismo, é viver triste, iludidamente, e a
ilusão, sim, a ilusão, num certo ponto, passa a ser tristeza, porém, mais
alheia do que própria; ressaltando, ainda, que se é mais alheia é porque quando
se realmente ama aquele que sofre a ilusão e nada se pode fazer para tirá-lo do
abismo, é um desprazer sem tamanho, sem palavras. Poderia ser extenso em
relatar aqui, pouco a pouco, as diversas formas que regem a tristeza no mundo,
propriamente na arte, e de maneira mais específica na literatura, todavia,
fugiria da proposta inicial: avaliar a importância da tristeza para a escrita
literária feminina.
No Piauí não foi diferente,
temos a essência chorosa de Luiza Amélia
de Queirós Brandão... Seus versos refletem as dores de uma mulher de
caráter e vontade de independência, porém, o tempo não lhe fora amigo, não lhe permitirá
liberdades. Amélia não aceitava a subjugação e apesar de odiar o machismo
humano, louca de ciúmes, desejava, em posse, todo o amor do marido, este,
infelizmente, por sua vez, vivia a deixá-la sozinha no lar. Para completar,
Luiza não pôde ter filhos, sofria de um problema uterino que tempos depois foi
a causa de sua morte: câncer. Diante do seu encarceramento, ela, a poetisa,
manifestava ódio e rancor, estes refletidos claramente em seus versos. Não suportava
a solidão, mas aprendeu a conviver com o silêncio e para isso, à nossa alegria,
adquiriu além do hábito da leitura o da escrita. “O homem não ama”, um de seus poemas mais reveladores, declara o
homem em relação às mulheres:
“Supõe-se
- orgulhoso - que é soberano,
Que
todas as belas vassalas lhe são!
Mais
falso que a brisa que as flores bafejam,
Se
mil forem belas... a mil finge amar...
Assim
um já disse, e assim fazem todos,
Embora
não queiram jamais confessar”.
LUIZA AMELIA DE QUEIRÓS- nasceu em Piracuruca-PI, a 26
de dezembro de 1838 e faleceu em Parnaíba PI, a 12 de novembro de 1898. Casou-se
duas vezes, primeiramente com Pedro José Nunes, em 1859, e depois de viúva, com
Benedito Rodrigues Madeira Brandão, em 1888. Não teve filhos.
Considerada a primeira poetisa
piauiense, Luíza Amélia recebeu o título de Princesa da Poesia Romântica
do Piauí e, de acordo com Bugyja Brito, as poesias de Luísa Amélia são
impregnadas de romantismo, de simplicidade e lirismo, é patrona da cadeira 28
da Academia Piauiense de Letras, tendo como ocupante atual, Manfredi Mendes de
Cerqueira. É ainda patrona da academia Parnaibana de Letras e da Academia de
Letras da Região de Sete Cidades.
Com apenas duas
obras publicadas, Flores Incultas (1875) e Georgina ou os
efeitos do amor (1893), a autora revela em seus versos a luta pelo
espaço da mulher na sociedade”. Iramir Soares Mineiro
“O ingresso feminino no
universo da palavra escrita e da publicação relaciona-se a deslocamentos que
articulam lugares, práticas e saberes. O acesso à educação e o alargamento das
possibilidades de realização para além do espaço doméstico convergiam com
anseios femininos, que eram instigados pelo discurso feminista. De forma que
era preciso delimitar os papéis femininos e masculinos para impedir que eles se
desmanchassem em um processo que era visto, sobretudo como de desmoronamento”.
Na realidade, a tristeza
refletida das mãos de escritoras está muito relacionada à guerra dos sexos, em
que acaba por ganhar os homens, todavia, não podemos ainda esquecer que a
temática vai muito além de tudo isso. Como já foi dito em algumas linhas acima:
sendo a tristeza algo sem definição.
Pesquisadora Profa. Dra.
Algemira de Macêdo Mendes, com o ex-orientando de Mestrado em Letras, Daniel
Castello Branco Ciarlini, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) lança obra
desaparecida e poemas inéditos de Luíza Amélia Queiroz. Trata-se da obra “Georgina ou os efeitos do amor”, que
estava desaparecida há mais de 100 anos. O livro também trará outros escritos
inéditos, publicados pela autora em vida e outros póstumos, no “Almanaque de
Lembranças Luso-Brasileiro”. Para ela, a descoberta resgata
mais uma grande obra da literatura piauiense.
“A obra demonstrou a participação feminina numa época em que a atuação da mulher se restringia ao espaço privado, somando-se a isso, manifestos sobre o preconceito que essas sofriam na sociedade patriarcal, sociocultural e geográfico”, afirma a pesquisadora. O livro conta com poemas e textos inéditos da escrita da poetisa piauiense Luiza Amélia de Queiroz (1838-1898). Para a organizadora da obra, Algemira, a temática liga a poesia ao repositório da memória, ao cunho social e libertário. “A obra demonstrou a participação feminina numa época em que a atuação da mulher se restringia ao espaço privado, somando-se a isso, manifestos sobre o preconceito que essas sofriam na sociedade patriarcal, sociocultural e geográfico”, afirma a pesquisadora.
No trabalho, a pesquisadora elege o livro como objeto de resgate e afeição para a literatura. “A obra estava perdida porque eu já havia comprovado que ela não existia em nenhum arquivo da Biblioteca Nacional, nem nos estados do Maranhão, Pará e Piauí. Quando conseguirmos encontrá-la no estado do Amazonas. Junto com a reedição desta obra, publicaremos poemas inéditos da escritora”, explica Algemira.
As obras de Luzia
Amélia de Queiroz alimentam um espírito perseverante e audacioso na mulher do
século XIX. É autora de duas obras: Flores incultas (1875) e Georgina ou
efeitos do amor (1893), obra composta por cinco contos, e deixou inédito o
livro Pétalas Dispersas, que não foi encontrado até a presente data.
As pesquisas tiveram início ainda
em 2005, com o doutorado-sanduíche, quando a profa. Algemira viajou até
Coimbra, em Portugal para investigar documentos sobre autores piauienses
Daniel Castello Branco Ciarlini
descobriu que jornais do estado do Amazonas haviam noticiado sobre Luiza
Amélia, e através de uma busca detalhada em sebos e bibliotecas amazonenses,
adquiriu a obra quando cursava o mestrado em Letras, orientado pela professora
Algemira. Ele, atualmente, dá prosseguimento às pesquisas sobre a literatura
piauiense no doutorado na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
OS FUNDADORES DA ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS
OS FUNDADORES DA ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS
A Memória Histórica da Academia
Piauiense de Letras, de autoria de Fenelon F. Castelo Branco, divulgada em
1918, traz os seguintes dados a respeito da fundação da academia “Foi no dia 30
de dezembro de 1917 que, pelas nove horas, o salão nobre do Conselho Municipal,
um grupo de intelectuais patrícios, composto pelos Srs. Clodoaldo Freitas,
Higino Cunha, João Pinheiro, Édison Cunha, Lucídio Freitas, Jônatas Batista,
Celso Pinheiro, Antônio Chaves, Benedito Aurélio de Freitas e Fenelon Castelo
Branco, tomou a louvável iniciativa de organizar em Teresina, a exemplo de
outras capitais de Estados da Federação, um grêmio literário, tendo por fim a
cultura da língua e o desenvolvimento da literatura piauiense. E assim reunidos
em sessão, sob a presidência de Lucídio Freitas, esse espírito brilhante já
vantajosamente conhecido nas letras pátrias, ficou imediatamente fundada a
Academia Piauiense de Letras.”
LUCIDIO FREITAS- Nasceu em
Teresina, a 5 de abril de 1894, filho do intelectual Clodoaldo Severo Conrado
de Freitas e sua esposa Corina Freitas. Fez os primeiros estudos no Liceu
Piauiense, onde concluiu os Preparatórios. Orientado pelo pai, desde cedo adquiriu
sólida cultura humanística. Compôs seus primeiros poemas ainda na adolescência.
Em 1912, aos 18 anos de idade, estreou em livro com Alexandrinos, coletânea de
versos, em parceria com o irmão Alcides Freitas.
Em 1917, publica Vida Obscura,
seu segundo livro de poesia, que adquire grande aceitação no meio literário.
Segundo a crítica especializada, Lucídio Freitas se afirmaria como um dos
maiores líricos da poesia piauiense, com versos sonoros, rítmicos e perfeitos.
Em 1914, aos 20 anos de idade,
seguiu para o Recife, matriculando-se na Faculdade de Direito. Mais tarde,
mudou-se para o Rio de Janeiro, onde concluiu o curso, bacharelando-se em
Direito no ano de 1916. Ainda estudante chegou a ser nomeado promotor público
da comarca de Amarante, não tendo assumido efetivamente o cargo. Durante sua estada no Rio de
Janeiro, participa da vida literária, guiado por seus parentes Amélia de
Freitas e Clóvis Bevilacqua.
CLODOALDO SEVERO CONRADO DE
FREITAS nasceu em Oeiras (PI) no dia 7 de setembro de 1855, filho de Belisário
da Silva Conrado de Freitas e de Antônia Rosa Dias de Freitas. Seu pai lutou na
Guerra do Paraguai (1864-1870). Fez os primeiros estudos e os de humanidades em
São Luís, no Seminário das Mercês e no Liceu Maranhense, concluindo-os no Liceu
Piauiense, em Teresina, em 1870. Posteriormente transferiu-se para Recife,
vindo a graduar-se pela Faculdade de Direito da capital pernambucana em 1880.
Depois de formado retornou ao Piauí, onde foi juiz municipal em Valença do
Piauí até 1882. No ano seguinte assumiu os cargos de promotor público e juiz
municipal em Teresina.
OVÍDIO SARAIVA DE CARVALHO E SILVA - Primeiro poeta e escritor nascido na bacia oriental do rio Parnaíba, em 1786, na vila de S. João da Parnaíba, hoje cidade de Parnaíba, no norte do Estado, filho de Antônio Saraiva de Carvalho e Margarida Rosa da Silva. Apenas completada a idade de seis anos, o que remete ao ano de 1792, os pais lhe mandaram estudar em Portugal, certamente morando na casa de familiares.
Entre tantos destaques que já
se fizeram ao primeiro ocupante da cadeira nº 1, um dos fundadores da Academia
Piauiense de Letras, tendo escolhido como patrono seu amigo e poeta José Manuel
de Freitas, e de cuja insituição foi o primeiro presidente, cabe referir
inicialmente à condição de ter sido ele um eminente homem de pensamento, no
final do séc. XIX e primeiro quartel do séc. XX. O que afirmo está em Teresinha
Queiroz, está em Celso Barros, está em Cistino Castelo Branco, nos livros,
ensaios e biografias que publicaram.
Nasceu
o primoroso poeta, cronista, conferencista e jornalista CELSO PINHEIRO na
cidade de Barras, no norte do Estado do Piauí, em 24 de novembro de 1887, sendo
seus genitores o tenente-coronel João José Pinheiro e Raimunda Lina Pinheiro.
Pertence a uma família com enorme contribuição às letras piauienses, pois seu
pai foi educador em Barras e dois de seus irmãos e um filho foram notáveis
escritores com assento na Academia Piauiense de Letras, respectivamente, João
Pinheiro, Breno Pinheiro e Celso Pinheiro Filho.
Em 1903, faz parte da redação
de A Esperança, também de caráter estudantil. Sucede sua participação em outras
folhas jornalísticas: Andorinha, Arrebol, Mensageiro (1904), O Operário (1906),
Alvorada (1909), entre outras. Dada a sua atividade intelectual, desde cedo
convive com os mais expressivos nomes das letras piauienses.
Celso Pinheiro dedicou-se às letras desde a mocidade, consagrando-se como um dos maiores poetas do Brasil. Cronista de fôlego, jornalista brilhante, foi, contudo, na poesia que fez o seu nome. Compunha um soneto com uma facilidade nunca vista. É insuperável nesse aspecto, sendo considerado o maior sonetista do Piauí. É representante das escolas simbolista e parnasiana no Piauí. Faleceu na cidade de Teresina, em 29 de junho de 1950, mesma data de morte do também poeta Da Costa e Silva.
Grande parte das obras de Celso Pinheiro ainda encontram-se totalmente desconhecidas do público, restrito à sombra de intelectuais e pequenos círculos literários. Um dos grandes, talvez, o maior motivo, está ligado à vida boemia e desregrada levada pelo poeta e o teor da sua escrita ofensiva. As críticas mordazes direcionadas a burguesia lhe conferia pouco espaço para ascender profissionalmente e ser reconhecido, uma vez que a imprensa piauiense era fantoche nas mãos da política local. Ora, ninguém em sua sã consciência iria promover àqueles que transgridem as suas normas, muito menos aqueles que lhes emitissem palavras ofensivas.
Celso Pinheiro dedicou-se às letras desde a mocidade, consagrando-se como um dos maiores poetas do Brasil. Cronista de fôlego, jornalista brilhante, foi, contudo, na poesia que fez o seu nome. Compunha um soneto com uma facilidade nunca vista. É insuperável nesse aspecto, sendo considerado o maior sonetista do Piauí. É representante das escolas simbolista e parnasiana no Piauí. Faleceu na cidade de Teresina, em 29 de junho de 1950, mesma data de morte do também poeta Da Costa e Silva.
Grande parte das obras de Celso Pinheiro ainda encontram-se totalmente desconhecidas do público, restrito à sombra de intelectuais e pequenos círculos literários. Um dos grandes, talvez, o maior motivo, está ligado à vida boemia e desregrada levada pelo poeta e o teor da sua escrita ofensiva. As críticas mordazes direcionadas a burguesia lhe conferia pouco espaço para ascender profissionalmente e ser reconhecido, uma vez que a imprensa piauiense era fantoche nas mãos da política local. Ora, ninguém em sua sã consciência iria promover àqueles que transgridem as suas normas, muito menos aqueles que lhes emitissem palavras ofensivas.
A ESCRITA QUE CONQUISTOU A CRÍTICA LITERÁRIA
ALVINA
FERNANDES GAMEIRO navegou por diversas artes, teve as mais variadas
influências, na escrita demonstrou todo seu potencial com o seu profundo
conhecimento da língua misturado aos traços regionalistas.
Segundo
Jurema da Silva Araújo, a autora navega entre a linguagem rebuscada e a
linguagem coloquial com tanto domínio que encantou seus leitores e foi
comparada a autores como Guimarães Rosa.
Suas obras conquistaram a crítica literária, demonstrando sua ligação
com as suas origens, abordou o sertão e o sertanejo de forma apaixonada e
sensível.
É natural de Oeiras-PI, poetisa, escritora, pintora, contista, romancista e professora, ‘nasceu em 1917 e faleceu em Brasília em 1999. É formada em Artes Plásticas pela Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Já ministrou aulas de inglês e português no Piauí, Maranhão e Ceará. Morou em Teresina, Fortaleza, Brasília e Los Angeles.
Alvina é uma mulher multifacetada e que precisa ser mais conhecida pelos piauienses. Ela traz o traço do olhar feminino, que foi buscar no vaqueiro o nosso processo de identificação entre romances, poesia e contos”, afirma o professor Luis Romero, um dos organizadores do Salão do Livro do Piauí - Salipi.
É natural de Oeiras-PI, poetisa, escritora, pintora, contista, romancista e professora, ‘nasceu em 1917 e faleceu em Brasília em 1999. É formada em Artes Plásticas pela Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Já ministrou aulas de inglês e português no Piauí, Maranhão e Ceará. Morou em Teresina, Fortaleza, Brasília e Los Angeles.
Alvina é uma mulher multifacetada e que precisa ser mais conhecida pelos piauienses. Ela traz o traço do olhar feminino, que foi buscar no vaqueiro o nosso processo de identificação entre romances, poesia e contos”, afirma o professor Luis Romero, um dos organizadores do Salão do Livro do Piauí - Salipi.
Alvina
ocupou a cadeira nº 14 da Academia Piauiense de Letras e é considerada por
Wilson Carvalho Gonçalves (2007, p. 49) como “uma cintilante e inspirada
poetisa”. É autora de A Vela e o Temporal, sua obra de estreia em 1957, que
obteve boas críticas de José Américo de Almeida e José Lins do Rego (MOURA,
2001).
AMANTE DA LITERATURA
"O mundo é das aparências. O homem
vale o que parece ser”
ABDIAS DA COSTA NEVES nasceu em Teresina no dia 19 de novembro de
1876, filho de João da Costa Neves e de Delfina Maria de Oliveira Neves. Em
1893, com apenas 17 anos de idade, começou a trabalhar no jornal A Ideia, vindo
a tornar-se seu redator principal. Ingressou no ano seguinte na Faculdade de
Direito do Recife, graduando-se em 1898. Durante o curso trabalhou no Jornal do
Recife como revisor.
A obra, Um manicaca, foi composta com a
intenção de documentar Teresina no apagar das luzes do século XIX e combater as
práticas e a fé religiosa da coletividade e ainda algumas doutrinas do
Catolicismo. No fim do século registrou: os animados festejos da igreja de N.S.
do Amparo, de foguetório e namoricos.
Tornou-se dos mais admirados incentivadores da
vida social e literária da capital piauiense, cujos costumes do começo desse
século retratou com rara fidelidade no romance naturalista UM MANICACA.
Muito cedo ainda conheceu a dureza da vida e a
enfrentou com coragem e galhardia muito acima da sua idade e de suas próprias
forças. Aos 15 anos ficou órfão de pai. Fez o primário e os preparatórios em sua terra
natal. Seguiu depois para Recife, matriculando-se na Faculdade de Direito, ali.
Muito inteligente e aplicado aos estudos, seu curso superior foi uma colheita
ininterrupta de louros.
[...] foi o único acadêmico aprovado com
distinção numa turma de 39 bacharelandos, dos quais 26 foram reprovados e 12
aprovados simplesmente.
[...] Voltando a Teresina, Abdias foi juiz de
direito interino de Piracuruca de 1900 a 1902, juiz substituto federal de 1902
a 1914 e secretário do Governo em 1914.
[...] Tocava flauta, violino e violão. Era
exímio dançador, figura obrigatória nos salões de baile, principal diversão da
capital naquele tempo
Foi um grande jornalista. Aliás, para ele o
jornal era tudo. Sem jornal não podia viver: sentia-se amesquinhado,
desamparado, diminuído, desarmado como peixe fora d’água. O jornal era a sua
arma predileta para comentar os fatos, orientar a opinião pública, fazer
literatura. Belíssimas páginas literárias suas estão esparsas em A Pátria, O
Monitor, A Notícia, O Dia e Litericultura.
[...] Abdias teve os seus momentos de pura arte
e produziu belos versos, cumprindo assim entre os homens a sua “missão de sol”
na expressão de Martins Napoleão.
PIONEIRO DA LITERATURA PIAUIENSE
OVÍDIO SARAIVA DE CARVALHO E SILVA - Primeiro poeta e escritor nascido na bacia oriental do rio Parnaíba, em 1786, na vila de S. João da Parnaíba, hoje cidade de Parnaíba, no norte do Estado, filho de Antônio Saraiva de Carvalho e Margarida Rosa da Silva. Apenas completada a idade de seis anos, o que remete ao ano de 1792, os pais lhe mandaram estudar em Portugal, certamente morando na casa de familiares.
Primeiro piauiense a incursionar no campo da
poesia. Estreou em livro aos dezoito anos de idade com Poemas (1808).
Para Herculano Moraes, historiador da literatura piauiense, o livro
“Poemas é um vasto conjunto de versos da corrente
elmanista” com “nítida influência de Bocage, notadamente na
construção do soneto, rigorosamente decassílabo”.
O livro Poemas não constitui um grande momento da literatura nacional, nem expressão de valores piauienses, sobretudo pelas condições culturais, sociais e políticas da província na época e do poeta ter tido uma formação cultural lusitana.
O livro Poemas não constitui um grande momento da literatura nacional, nem expressão de valores piauienses, sobretudo pelas condições culturais, sociais e políticas da província na época e do poeta ter tido uma formação cultural lusitana.
A importância da obra literária
de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva para a literatura piauiense é meramente
cronológica, em face de ser considerada fraca e não representar temas, costumes
e modus vivendi local. Citando Ronald de Carvalho, afirma João Pinheiro, que
esse poeta era “entusiasta admirador de Bocage, filiou-se aos Elmanistas, entre
os quais muito se distinguiu por diversos trabalhos em que, como quase todos os
congêneres da época, sentia-se ainda o influxo dos árcades portugueses”. Para
Herculano Moraes, historiador da literatura piauiense, o livro “Poemas é um
vasto conjunto de versos da corrente elmanista” com “nítida influência de
Bocage, notadamente na construção do soneto, rigorosamente decassílabo”.
Acrescenta que a poética desse
autor é marcada por temáticas de expressões simbolistas, falando de sofrimento,
desengano, desgraça, morte, tristeza, solidão, tortura, desespero, langor e
outras expressões sinônimas(Visão histórica da literatura piauiense. 4ª ed.
Teresina, 1997). É a mesma opinião do crítico literário Francisco Miguel de
Moura: “A estética de Ovídio Saraiva era portuguesa, demonstrando forte influência
arcádica e acentos bocagianos” (Literatura do Piauí, 2001).
HEROI DA BATALHA DO GENIPAPO
LEONARDO
CASTELLO BRANCO nascera na fazenda Taboca, à margem esquerda do rio Longá, no
Município de Parnaíba, depois Barras, hoje Esperantina, em 1788. Provavelmente,
no dia 6 de novembro, consagrado no calendário cristão a São Leonardo de
Noblac, um dos santos mais populares da Europa central.
Foi
um paladino da liberdade que liderou tropas na Guerra do Fidié, quando o bravo
povo piauiense levantou-se em armas para libertar-se do jugo português e
garantir sua adesão à Independência do Brasil. Também envolveu-se na
Confederação do Equador, protestando contra o centralismo do poder monárquico
no nascente Império.
Vencido
em ambos os embates, foi duas vezes preso e encarcerado, mas nunca esmoreceu em
seu ânimo varonil. Foi também um visionário, cujo sonho foi a construção do
moto-contínuo, nele empregando toda a laboriosidade de sua longa existência,
inclusive quatorze anos de estudos em Portugal e seis no Rio de Janeiro.
Filho de
família abastada perdeu quase todo o seu patrimônio nesses estudos e na perseguição
dessa ideia fixa. É como disse o muito vivo defunto Brás Cubas, pela pena de Machado de Assis: “Deus te livre, leitor, de
uma ideia fixa!”. Leonardo consumiu
seu tempo nesse sonho tresloucado de fazer ciência no sertão do Piauí colonial.
JOÃO NONON DE MOURA
FONTES IBIAPINA- nasceu na fazenda Lagoa
Grande, município de Picos, em 14 de junho de 1921. Segundo ele, “pego pra
estudar já grande”, veio para Teresina matricular-se no Colégio Diocesano. Foi
professor, diretor do Colégio Rural e Artesanal Pio XII, Juiz de Direito e
membro do Conselho Estadual de Cultura, da Associação Profissional dos
Jornalistas do Piauí, do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense. Primeiro
presidente e um dos fundadores da Academia Parnaibana de Letras.
Fontes Ibiapina,
um dos nossos mais fecundos escritores, pode-se dizer que também do Nordeste e
do Brasil, é praticamente o fundador de uma prosa diferenciadora, no Piauí,
aquela que marca a nossa consciência literária. Embora não bafejado pela
crítica, suas obras eram lançadas em pequenas edições que circulavam bem no
Piauí e depois seguiam um rumo diferente dos demais autores indígenas. É que
ele se encarregava de enviá-las para Deus e o mundo, conseguindo uma dimensão
nacional a duras penas. Chegou a empreender uma viagem até o Rio Grande do Sul
distribuindo seus livros, uma proeza inédita.
Membro
do Conselho Estadual de Cultura do Piauí e da Academia Piauiense de Letras, sua
maior glória não está no magistério, no jornalismo ou mesmo na magistratura, e
sim na literatura. Deixou uma grande obra, tanto em quantidade como em
qualidade, em torno de 30 títulos. Talvez, por causa da complexidade do seu
mundo pensado e escrito, os professores e estudantes não o têm procurado com frequência
para trabalhos acadêmicos, quer na área literária quer na de ciências sociais.
Já não falamos dos críticos de jornais e revistas, que sumiram simplesmente,
não existem mais. É uma pena, pois, que se deixe tão rico patrimônio
inexplorado.
Depois
de sua morte, teve apenas uma obra sua editada no Piauí: a Fundação Cultural
Monsenhor Chaves publica o volume Crendices, Superstições e Curiosidades
Verídicas no Piauí, em 1993. Trata-se de continuação de sua “Paremiologia
Nordestina", de 1975, editado pelo Governo do Estado, através da Cia.
Editora do Piauí. São adágios, rifões, brocardos, anexins, parêmias, máximas,
ditados, expressões, comparações, relaxos, paleios, chulos, enfim toda uma
riqueza do homem nordestino em sua criatividade de caboclo sem letras mas
muitas vezes mais sabido que os doutores da cidade.
Na
área literária propriamente dita saíram apenas dois folhetos – não seriam propriamente
livros – divulgando contos de Fontes Ibiapina: um que reúne Trinta e dois e
Tangerinos, em 1988, e outro com o conto inédito Dr. Pierre Chanfubois, sem
data de publicação, mas que se atribui seja do ano seguinte. Ambos os opúsculos
tiveram a chancela das Edições Corisco, do editor Cinéas Santos.
Fontes
Ibiapina era uma pessoa alegre, recebia a todos muito bem, dava a impressão de
ser feliz. Andou por muitas comarcas do Piauí, experimentou quando na Capital,
antes de tornar-se magistrado, a indústria, quando sofreu um acidente. Mas
nunca se queixava, sempre contando histórias, dizendo “chuleios”, incentivando
a que os jovens escrevessem prosa. Só ficava brabo se o chamassem de poeta.
Talvez porque houvesse experimentado a poesia e sentisse que não era o seu
forte. Aliás, é difícil encontrar um prosador que não tenha feito poemas. Esses
são alguns traços pouco conhecidos da vida de Nonon, como era conhecido na
intimidade. Era um homem curioso, sempre atento ao que a ciência tinha para
oferecer.
Faleceu
no dia 10 de abril de 1986, na cidade de Parnaíba, onde exercia as funções de
Juiz de Direito, depois de ficar, na noite anterior, horas e horas com uma
luneta na mão para observar a passagem do cometa Halley.
Fontes
Ibiapina foi um dos poucos escritores piauienses que a exemplo de Vítor
Gonçalves Neto teve a coragem de transpor para a ficção os duros anos de
repressão do período da ditadura Vargas quando comandava o Piauí o interventor
Leônidas Melo, e Teresina, o prefeito Lindolfo Monteiro que no código de
postura do município instituiu a proibição de construções de casas cobertas de
palhas na zona urbana da capital.
Em
Palha de Arroz, Fontes Ibiapina, nos traz a dimensão de uma Teresina
provinciana, sem energia elétrica e marcada por incêndios criminosos contra uma
parcela marginalizada da população. É o segundo romance a retratar uma Teresina
urbana, antecedido por “Um Manicaca” (1909), de Abdias Neves.
Palha
de Arroz traz cenas picarescas, mas carregadas de um drama peculiar aos párias
nordestinos, notadamente quando apresenta o universo da prostituição como via
de sobrevivência da maioria das mulheres que vivia nos bairros suburbanos da
capital (se é que havia essa divisão entre urbano e suburbano numa Teresina
que, embora tenha sido a primeira capital planejada do País, tinha sequer
energia nos postes para iluminar as ruas) sendo os lampiões de azeite os únicos
a cumprirem essa função e em pequena escala.
A
publicação de Palha de Arroz tornou-se referencial para tratar de temas até
então negligenciados pela literatura de autores piauienses e aprofundou o
debate em torno da marginalização social. As personagens de Palha de Arroz
foram de certo modo retrabalhadas com maestria em obras de mesmo viés como
Beira Rio Beira Vida (1965) de Assis Brasil.
No
quadro literário brasileiro, Mário Faustino pertence ao grupo de poetas
que se situam entre a geração neomodernista de 1945 e as experiências
vanguardistas da década de 1950.
POETA
DO AMOR E DO TEMPO
HARDI
FILHO é o nome literário de Francisco Hardi Filho, nascido em Fortaleza, Estado
do Ceará, no dia 5 de julho de 1934. Veio para o Piauí já funcionário público
federal (IBAMA) e aqui fundou raízes sentimentais e familiares. Não há hoje
ninguém mais integrado ao Piauí do que Hardi Filho, a quem a Assembleia
Legislativa, num ato de justíssimo reconhecimento, concedeu o título de
cidadania piauiense.
Poeta
do amor e do tempo, o tempo todo. Poeta tão simples, para todos os tempos.
Basta correr os olhos pelos títulos de suas obras: “Cinzas e Orvalhos”, 1964;
“Gruta Iluminada”, 1970; “De Desencanto e de Amor”, 1983; “Teoria do Simples”,
1986; “Suicídio do Tempo”, 1991; “Estação 14”, 1997; “Veneno das Horas”, 2000;
“O Sonho dos Deuses e os Dias Errantes”, 2001, além deste “Tempo Nuvem” e do
inédito, escrito e organizado em conjunto comigo, denominado “Tempo contra
Tempo” – para falar somente em sua obra poética, pois Hardi é também um
cronista de peso e escreve crítica literária quando bem o quer.
ESTRANHEZA
Estranha,
essa distância que separa
a
mente que está viva da que é morta;
estranha,
essa aparência pouco clara
de
quem passou sem que se abrisse porta.
{...}
Uma
vida rica de acontecimentos, uma vasta produção e inspiração em demasia fizeram
de Francisco Hardi Filho um dos maiores poetas piauienses. Antes de falecer,
fato ocorrido em 27 de março deste ano, Hardi deixou material suficiente para
uma nova obra. "Dia Rio" é o livro póstumo, que mostra um outro Hardi
Filho.
CLODOALDO
SEVERO CONRADO DE FREITAS nascido em Oeiras (PI), e falecido em Teresina, 1924.
Cursou seminário católico. Formado em direito pela Faculdade do Recife.
Advogado. Teve vida assim como de judeu-errante no exercício de cargos e
funções, para o sustento das despesas: chefe de policia Mato Grosso, juiz de
direito em Campos (Rio de Janeiro) e Bagagem (Minas), inspetor escolar no
Amazonas, deputado estadual do Pará, diretor da Imprensa Oficial do Maranhão,
desembargador no Piauí. Uma feita se elegeu deputado federal, recebeu o
diploma, que a Câmara Baixa do país não reconheceu, numa grave injustiça.
Literariamente foi
romancista, contista, cronista e a poeta já reconhecido, embora no último
gênero tenha produzido bem pouco.
JOSÉ
FÉLIX ALVES PACHECO nasceu em Teresina-PI
em 02 de Agosto de 1879. Foi político, jornalista e poeta, também o primeiro
piauiense a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Viveu a sua
infância e adolescência na terra natal, mas a maior parte da sua vida foi
construída no Rio de Janeiro, para onde partiu a fim de seguir carreira militar
(por desejo do pai). Depois de abandonar o Colégio Militar, entrou para a
Faculdade de Direito, iniciando- se logo depois na carreira jornalística,
atuando como diretor- proprietário do Jornal do Comércio.
Pertenceu
também, à Academia Piauiense de Letras, mas não tomou posse do Sodalício por
motivo de doença. Foi um escritor exato, talentoso, sóbrio na linguagem e de
estilo enxuto e puro. Morreu em 06 de Dezembro de 1915.
Reunindo toda sua obra no
volume POESIAS, Félix
Pacheco confessa que seu livro, contendo composições datadas de mais de trinta
anos, surgia ‘‘velho e atrasadíssimo’’, reconhecendo que também andava muito
diferente das correntes da época, isto porque, das
207 composições, apenas 11 não são sonetos.
MÁRIO
FAUSTINO DOS SANTOS E SILVA nasceu
em Teresina, 22 de outubro de 1930 - Lima, Peru, 27 de novembro de 1962) -
Além de poeta foi crítico, tradutor e jornalista. Ficou muito conhecido por seu
trabalho de divulgação da poesia no Jornal do Brasil quando assinava o
Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, na seção Poesia-Experiência. Publicou
apenas um livro de poesia O Homem e sua Hora (1955). Morreu prematuramente
vítima de um desastre aéreo.
Foi
poeta, crítico e tradutor que cantou a morte em versos, foi tema do Sarau
da Feira, dentro da programação do último dia da VIII Feira Pan-Amazônica do
Livro. Um polígrafo. Escreveu sobre vários assuntos. Produziu poesias, contos,
crônicas, ensaios de poética, críticas literárias e cinematográficas, tendo
ainda traduzido poetas de várias nacionalidades: franceses, espanhóis, ingleses
e norte-americanos.
“...poesia
e vida minhas deverão seguir paralelas,
até que a morte nos separe...”. (Mário Faustino)
até que a morte nos separe...”. (Mário Faustino)
Pode-se dizer que a história da
Literatura feita na capital piauiense remonta aos primeiros anos do século XX,
quando os jovens que saíram do estado para estudar em outros locais retornaram
e trouxeram com eles as ideias que circulavam em outras regiões do país.
Além disso, vários poetas,
contistas e romancistas nascidos em outras cidades do interior do estado
encontraram em Teresina o ambiente para se aprofundar no campo da arte
literária e entrar em contato com novos autores. “Ainda hoje muitos dos nossos
poetas e autores vêm do interior. Temos o caso de vários, como o de Cinéas
Santos, e de outros que vieram de Parnaíba, Alto Longá, José de Freitas e
outras cidades”, afirma a Profa. Dra. Maria Socorro Rios Magalhães,
docente da UESPI, membro da Academia Piauiense de Letras e que possui pesquisas
voltadas a teoria da literatura.
Ela conta que a literatura
feita no Piauí, levando-se em conta que a própria literatura brasileira já
tinha um atraso com relação aos movimentos da Europa, era ainda mais atrasada
em relação as escolas literárias existentes na época. “Teresina só foi fundada
em 1852, então há uma diferença entre aquilo que já se fazia fora da capital em
outras cidades do Piauí, onde já se fazia alguma coisa em termos de literatura,
embora ainda não houvesse essa noção de estar fazendo literatura piauiense”,
comenta Maria do Socorro, que acrescenta: “Teresina só passou a contar com um
movimento mais consistente no início do século XX”.
Atualmente,
as obras literárias piauienses são lidas e apreciadas por leitores do Brasil e
fora do país, com uma recepção calorosa. E não foi indispensável levantar “as
bandeirinhas” para comprovar se essa literatura é canônica ou não.