A História da literatura é um processo de recepção e produção estéticas que se cumprem na atualização dos textos literários, através do leitor que lê,
do escritor que produz e do crítico que reflete.[...]
De qualquer modo, a História da Literatura
sempre foi a história dos
autores e dos textos.
O contexto histórico em que aparece uma obra literária não consiste numa
sucessão de acontecimentos, factual e auto-sustentada, que poderia
existir de modo independente, sem a necessidade de um receptor. [...]
só se torna um acontecimento literário para o seu leitor, que lê [...] esta obra
[...] com a memória de [...] obras anteriores, que aprecia sua especificidade
por comparação com essas e outras obras já conhecidas e que ganha,
a partir daí, um novo critério de apreciação a partir do qual poderá
apreciar obras futuras.
É verdade, a leitura é um grande
mecanismo para se exercer plenamente a cidadania,
pois permite ao
leitor o raciocínio lógico, à reflexão crítica e a mudança
de atitude,
porque ela é uma porta aberta para compreendermos
melhor o mundo e a nós mesmos, e
se
compreendermos melhor o mundo
e a nós mesmos, teremos subsídios para nos
transformarmos
e transformamos o mundo
a nossa volta.
E quando
essa leitura é feita em livros de
literatura dentro da escola, ela propicia uma educação que forma a
consciência estética , aprimorando a
percepção humana, para que nas suas relações com o mundo, o sujeito busque
sintonizar-se de forma harmônica e equilibrada.
Estética da Recepção
Ambos os métodos, o formalista e o marxista, ignoram o leitor em seu
papel genuíno, imprescindível tanto para o conhecimento
estético quanto para o histórico: o papel do destinatário
a quem, primordialmente, a obra literária visa.
(jauss, 1994,
A Estética da Recepção é a teoria que valoriza, acima de tudo, o leitor.
Para Jauss, ela estuda a maneira como o leitor recebe o texto.
Os primeiros estudos sobre a Estética da Recepção surgem a partir das considerações teóricas discutidas por Hans Robert Jauss (1921 - 1997 ) em aula inaugural na Universidade de Constança, na Alemanha.
Nas décadas de sessenta (60) e setenta (70), Hans Jauss trabalha a História da Literatura do Leitor, no chamado horizonte de expectativa.
A Estética da Recepção considera a obra de arte como um sistema que se define por produção, por recepção e por comunicação, tecendo uma relação dialética entre autor, obra e leitor. Não revitaliza a noção de produção e representação, bases da estética tradicional.
Destaca que o ato de leitura tem uma perspectiva dupla na dinâmica da relação com a obra - a projeção desta obra pelo leitor de uma determinada sociedade. Interessa-se pelas condições sócio-históricas que formularam as diversas interpretações que a obra recebeu, e assinala que o discurso é o resultado de um processo de recepção ao mover a pluralidade dessas estruturas de sentidos historicamente mediadas.
Textos literários provocam reações diferentes em diferentes
leitores e, por essa possibilidade de “diferença”, para a teoria da
recepção, esses textos sempre são dinâmicos, gerando um movimento
complexo que se desdobra no tempo.
leitores e, por essa possibilidade de “diferença”, para a teoria da
recepção, esses textos sempre são dinâmicos, gerando um movimento
complexo que se desdobra no tempo.
A literatura na perspectiva do LEITOR
Foi com o surgimento da Estética da Recepção, como uma nova
proposta e metodologia de análise, que a literatura passou a
ser concebida a partir de uma perspectiva em que a interpretação
do texto recai no leitor.
O teórico da Estética da Recepção, Jauss entende que
o leitor atualiza a obra. Ele diz que desde o século XIX a
estética se concentrava no papel da apresentação da arte e a história da arte se compreendia como historia das obras e de
seus autores. Ainda ele acrescenta que das funções vitais da arte passou-se a considerar apenas o lado produtivo da experiência
estética, raramente o receptivo e quase nunca o comunicativo.
o leitor atualiza a obra. Ele diz que desde o século XIX a
estética se concentrava no papel da apresentação da arte e a história da arte se compreendia como historia das obras e de
seus autores. Ainda ele acrescenta que das funções vitais da arte passou-se a considerar apenas o lado produtivo da experiência
estética, raramente o receptivo e quase nunca o comunicativo.
Ele sabe que “hoje se pode reconstruir, com mais facilidade,
o lugar de uma obra de arte em seu tempo, sua originalidade em contraste com as fontes e os antecessores, mesmo até sua função
ideológica, do que a experiência daqueles que na atividade produtiva, receptiva e comunicativa desenvolveram a práxis
histórica e social, da qual as histórias da literatura e
da arte sempre nos transmitiram
o produto já objetivado”.
Jauss diz que a qualidade e a categoria de uma obra literária não
resultam nem das condições históricas ou biográficas de seu
nascimento, nem tão-somente de seu posicionamento no
contexto sucessório no desenvolvimento de um gênero, mas sim
dos critérios da recepção, do efeito produzido pela
obra e de sua fama junto á posteridade.
ESTÉTICA DA RECEPÇÃO DE HANS ROBERT
JAUSS
O que Jauss propõe é que a qualidade e o valor de uma obra literária não podem ser medidos ou analisados pelos critérios das condições históricas ou biográficas
de sua origem nem do lugar que ela ocupa
no desenvolvimento de um gênero.
Para o estudioso, o que é mais
importante é “a qualidade e critérios
de recepção estética
de um texto do efeito produzido pela obra e de
sua fama junto à posteridade”.
Segundo Jauss, na experiência estética é desenvolvida a
hierarquia da natureza
estética em três atividades importantes, complementares e simultâneas sendo:
estética em três atividades importantes, complementares e simultâneas sendo:
A poíesis
(momento de produção) – ocorre o preenchimento dos vazios do texto na interação
do autor e leitor/receptor, correspondendo ao prazer se sentir-se co-autor da
obra.
A aisthesis
(momento da recepção) - a obra causa um efeito sobre o leitor. Ela age
sobre o leitor que reconhece os elementos apresentados transformando em uma
nova percepção de mundo.
A katharsis
(comunicação) – experiência subjetiva. Primeiro tem-se a conquista do
leitor depois provoca-lhe um choque, e como resultado de atitude, causa-lhe um
sentimento forte diante da obra.
Teses desenvolvidas por Hans Robert Jauss
A primeira tese é a relação dialógica entre
texto e leitor: Um texto nunca é monológico ou atemporal, pois sempre
ocorrerá a atualização no ato da leitura.
Na segunda tese, Jauss comenta sobre “o saber
prévio”. A obra literária não se apresenta exatamente o que está como
novidade absoluta, ela se reporta ao já conhecido. Uma obra constitui eco de
outras e isso despertará no leitor expectativas determinando uma postura
emocional.
Na terceira tese há a referência à reconstituição
do horizonte de expectativa: o que determina como a obra foi recebida pelo
público leitor. As expectativas podem ser: satisfeitas, frustradas, ou
rompidas. Segundo Jauss, a reação do público estabelecerá o valor da obra
literária.
Na quarta tese, refere-se à relação dialógica,
do texto relacionado a diferença de compreensão que a obra suscitou na época em
que surgiu, e no momento presente de sua leitura. A reconstituição do horizonte
de expectativa dá-se a partir da lógica de pergunta e resposta que é o
mecanismo da hermenêutica, demonstrando como se dá as analises vistas em épocas
distintas. Pode-se dizer que para se entender um texto é necessário compreender
a pergunta para qual ele, constitui uma resposta.
Na quinta tese, Jauss discute a leitura de um texto
literário sob o enfoque diacrônico, conhecido como a linha do tempo
A sexta tese compreende a obra literária sob o
enfoque sincrônico que engloba o momento de cada época, tendo um
entendimento de leitura. Para este autor é do encontro entre o corte diacrônico
e sincrônico que se verificará a historicidade da literatura. A importância da
obra pode ser definida por meio das diversas compreensões por leituras em fases
diferentes, podendo em determinado período, ser mais valorizado que em outros.
O valor
estético de um texto é medido pela recepção inicial do público
que o compara com outras já lidas, percebe-lhe as singularidades e
adquire novo parâmetro para avaliação de obras futuras.
( elabora um novo horizonte de expectativas).
que o compara com outras já lidas, percebe-lhe as singularidades e
adquire novo parâmetro para avaliação de obras futuras.
( elabora um novo horizonte de expectativas).
O nexo ou o elemento de relação entre a sucessão de textos na história literária
é o próprio leitor/público. Jauss pensa numa cadeia de recepções que teria
continuidade e na qual a compreensão dos primeiros leitores iria
sendo sobreposta pela recepção dos últimos posteriores.
Essa sucessão de recepções do texto, por sua vez,
mostraria o valor estético dos textos.
continuidade e na qual a compreensão dos primeiros leitores iria
sendo sobreposta pela recepção dos últimos posteriores.
Essa sucessão de recepções do texto, por sua vez,
mostraria o valor estético dos textos.
O problema da interpretação tem sido um dos focos
centrais de Wolfgang Iser
através da sua estética do efeito.
Para Iser, os textos ficcionais, e até mesmo os não-ficcionais, não são figuras plenas, mas discursos marcados por indeterminações chamadas “vazios” que pedem uma intensificação da atividade imaginativa do leitor. O sentido, tal como para Eco, surge da interação do texto com o leitor. Na concepção de Iser (1996), não faz sentido perguntarmos o que um texto quer dizer ou o que um autor quer dizer, mas “o que sucede com o leitor quando sua leitura dá vida aos textos ficcionais”.
A ênfase de Iser sobre o efeito na relação texto-leitor não valida qualquer interpretação, como poderíamos pensar. Um leitor que apenas projeta sobre os textos seus interesses e devaneios sem observar as “instâncias de controle” (1979, p. 91) existentes no texto faz com que a comunicação estética vá por água abaixo. Essas instâncias de controle, também chamadas de “estruturas centrais de indeterminação”, são os vazios e suas negações. São os vazios que acionam a interação texto-leitor (vazios) enquanto as negações realizam o controle, possibilitando assim o processo de comunicação:
Os vazios e as negações contribuem de diversos modos para o processo de comunicação que se desenrola, mas, em conjunto, têm como efeito final aparecerem como instâncias de controle.
"A relação entre o texto e o leitor se caracteriza pelo fato de estarmos diretamente envolvidos e, ao mesmo tempo, de sermos transcendidos por aquilo que nos envolvemos. O leitor se move constantemente no texto, presenciando-o somente em fases; dados do texto estão presentes em cada uma delas, mas ao mesmo tempo parecem ser inadequados. Pois os dados textuais são sempre mais do que o leitor é capaz de presenciar neles no momento da leitura.Os vazios possibilitam as relações entre as perspectivas de representação do texto e incitam o leitor a coordenar estas perspectivas. Os vários tipos de negação invocam elementos conhecidos ou determinados para suprimi-lo. As estruturas centrais de indeterminação no texto são os vazios e suas negações. Eles são as condições para a comunicação, pois acionam a interação entre texto e leitor e até certo nível a regulam.
Em conseqüência, o objeto do texto não é idêntico a nenhum de seus modos de realização no fluxo temporal da leitura, razão pela qual sua totalidade necessita de sínteses para poder se concretizar. Graças a essas sínteses, o texto se traduz para a consciência do leitor, de modo que o dado textual começa a constituir-se como correlato da consciência mediante a sucessão das sínteses."
As contribuições de Iser para a Teoria do Efeito
As motivações para estimular a leitura, em textos literários, são feitas de diversas
maneiras. Às vezes, nós não temos a dimensão do sentido que o leitor utiliza
para fazer interpretações. Wolfgang Iser aposta no imaginário, como a última
posição prevista no ato da recepção, para que o leitor seja capaz de
configurar sentido a partir destes
atos imaginativos:
As perspectivas do texto visam certamente a um ponto comum de referências e
assumem assim o caráter de instrução; o ponto comum de referências,
no entanto, não é dado enquanto tal e deve ser por isso imaginado.
É nesse ponto que o papel do leitor, delineado na estrutura do texto, ganha
seu caráter efetivo. Esse papel ativa atos da imaginação que de certa maneira
despertam a diversidade referencial das perspectivas da
representação e a reúnem no horizonte
de sentido (ISER, 1996).
Na concepção iseriana, o sentido (meaning) relaciona-se à construção do
significado/experiência estética, enquanto a significação (significante)
tem relação com a resposta ao significado/experiência
construído.
Wolfgang Iser apresenta a Teoria do Efeito, a
qual considera o resultado estético da
obra no
leitor, durante a recepção.
Essa teoria trabalha com os
conceitos de leitor implícito ( leitor
ideal ↔ leitor real ), estruturas de apelo (pistas que direcionam o
leitor
para uma interpretação coerente do texto ) e vazios do
texto ( lacunas preenchidas pelo leitor, a partir de seu
conhecimento de mundo, experiências e valores ).
Leitores de textos literários na visão de Umberto Eco
Leitores de textos literários na visão de Umberto Eco
Para Iser, há vários tipos de leitor:
que se baseia na auto-observação da sequência de
reações, estimulada
pelo texto e visa a aumentar
o caráter de informação e a competência do leitor)
;
Leitor
implícito (é um
outro aspecto na teoria se Iser, compreendido como uma estrutura
textual que oferece “pistas” sobre o percurso da leitura. Esse leitor só existe
a proporção em que o texto determina sua existência e as experiências
processadas, no ato da leitura, são transferências das estruturas imanentes ao
texto;)
O Leitor – Modelo (É aquele que sabe preencher os vazios,
os brancos do texto, interpretando e completando
o sentido do texto).
Leitor
real (tem a função de construir o sentido
do texto com a ajuda de seu repertório.
(tem o auxílio do leitor implícito. )
(tem o auxílio do leitor implícito. )
Leitor ideal ( sabe selecionar textos de acordo com seu horizonte de expectativas;
conhece os locais em que os livros e os demais materiais deleitura se encontram;
frequenta os espaços mediadores de leitura (exposições, palestras, debates);
identifica os livros e outros materiais nas estantes sem necessitar de ajuda alheia;
localiza dados na obra com facilidade; segue as orientações de leituras oferecidas
pelo autor; preenche os “vazios” de acordo com seu conhecimento; é capaz de
dialogar com os novos textos.
Hans Robert Jauss e Wolfanf Iser partem da ideia de que o
texto só existe a partir da
atuação do leitor. No entanto, enquanto para Jauss
o texto está ancorado no
momento histórico- a historicidade literária – para
Iser, o texto apresenta
uma estrutura de apelo que colabora para o efeito e reação do
leitor frente à obra.
Observamos
que tanto a Teoria do Efeito como a
Estética da Recepção
revigoram os fundamentos da teoria literária ao fazerem insurgir
a figura do leitor como elemento participativo.
revigoram os fundamentos da teoria literária ao fazerem insurgir
a figura do leitor como elemento participativo.
Segundo Regina Zilberman, os espaços
ou brechas existentes na obra literária
exigem uma da intervenção do leitor
para completá-los; dessa maneira, ao fazê-lo, o leitor
transforma-se em
co-produtor do ato de criação. E conclui: “São as indeterminações que
permitem
ao texto ‘comunicar-se’ com o leitor, induzindo-o a tomar parte na produção e
compreensão da intenção da obra”. (ZILBERMAN, 2001,).
Cada leitor tem a histórias de suas leituras,
cada texto, a história das suas. Leitor
maduro é aquele que, em contato com o texto novo, faz convergir para o
significado deste o significado de todos os textos que leu. E, conhecedor das
interpretações que um texto já recebeu,
é livre para aceitá-las ou recusá-las, e capaz de sobrepor a elas a interpretação que nasce de seu diálogo com o
texto. Em resumo, o significado de um novo texto afasta, afeta, redimensiona o
significado de todos os outro (LAJOLO:
1996, )
O leitor e a obra são
de extrema importância para esse tipo de abordagem porque:
A obra literária não é um objeto que estima por
si só, oferecendo a cada observador em
cada
época o mesmo aspecto.[...] Ela é , antes, como
uma partitura voltada para
ressonância sempre
renovada da leitura.(JAUSS,).
A afirmativa acima explica o fato de
acreditarmos que para cada nova leitura,
para cada leitor e para cada época podem ser criadas várias
combinações
que incidirão em interpretações
diferentes de
um mesmo texto literário.
Em Jauss, o leitor e sua
experiência
estética assumem uma nova posição, e esta é
nitidamente
privilegiada.
insere no processoda leitura as informações sobre os efeitos
nele provocados; em conseqüência,
essa relação se desenvolve como um processo
constantede realizações
(Iser, 1996, p.127).
O leitor, em seu importante papel, imagina hipóteses, decifra, analisa,
cria vínculos entre uma obra e outra (...) o autor dá pista ao leitor para que
co-participe, como um elemento a mais do romance, abrindo novas
perspectivas e recriando a história que lhe foi apresentada.
Esta liberdade criadora que se oferece ao leitor, tarefa de decifração e
integração, dá-lhe a sensação de não se afogar passivamente no mundo
da literatura e de que as personagens retornaram a um museu depois
de passagem transitória pela vida “(JOZEF, ) “ ..
no espaço literário contemporâneo não se pode
conceber uma separação entre criação e crítica .
O texto só existe na medida de sua leitura”.
( JOZEF, 1980).
O
PROCESSO DE INTERAÇÃO DO TEXTO
COM O LEITOR
COM O LEITOR
A leitura, por ser uma atividade comandada pelo texto, une
o processamento
do texto ao efeito sobre
o leitor.
Essa influência recíproca é
descrita
como interação.
Segundo Iser( 1979),
a relação interativa no mundo social resulta
da contingência
dos planos de comportamento, isto é, da impossibilidade
de experimentar-se
a experiência alheia, e não da situação comum ou das convenções que reúnem
os parceiros. A interação só fracassa
quando as projeções do leitor
se impõem
independentemente do texto.
O fracasso é decorrente do preenchimento do vazio
exclusivamente
com as próprias projeções.
A relação entre texto e leitor só
pode ter êxito mediante
a transformação
do leitor.
E a leitura estética se cumpre quando produz uma transformação
na percepção do leitor, o que demanda um trabalho de leitura
atento aos aspectos da estrutura
textual, os quais se oferecem ao leitor como elementos de
jogo, exigindo sua participação.
E a leitura estética se cumpre quando produz uma transformação
na percepção do leitor, o que demanda um trabalho de leitura
atento aos aspectos da estrutura
textual, os quais se oferecem ao leitor como elementos de
jogo, exigindo sua participação.
Ingarden em relação à Recepção do Texto Literário
Ingarden afirma que a obra literária consiste em uma
produção constituída por
vários estratos heterogêneos, que lhe conferem o
caráter de construção orgânica,
cuja unidade se baseia na particularidade dessas
camadas singulares. São eles:
1. o estrato das formações fônico-lingüísticas, que abrange
não só a palavra,
mas também a frase, como unidade superior sonora em que os
fonemas se
articulam e operam contrastes, constituindo a melodia,
o ritmo e o
andamento do texto;
2. o estrato das unidades de significação, que comporta o
significado da
palavra ou o sentido de uma formação linguística superior,
em
especial, a oração;
3. o estrato das objetividades apresentadas, que abarca
aquilo de que se fala
na obra ou o que nela está representado e que não se refere
apenas ao que
se percebe sensivelmente, podendo, deste modo, constituir-se de coisas,
seres, pensamentos, sentimentos, etc.;
se percebe sensivelmente, podendo, deste modo, constituir-se de coisas,
seres, pensamentos, sentimentos, etc.;
4. o estrato dos aspectos esquematizados, que se caracteriza
por uma ou outra
aparência na qual visualizamos o objeto da representação.
Trata-se de uma seleção, ou melhor, de um esquema das qualidades deste
que auxiliam o sujeito da percepção a intuir o objeto.
aparência na qual visualizamos o objeto da representação.
Trata-se de uma seleção, ou melhor, de um esquema das qualidades deste
que auxiliam o sujeito da percepção a intuir o objeto.
Tais qualidades associam-se
às sensações, constituindo sínteses em
que podem emergir momentos visuais, auditivos, táteis, etc,
separadamente ou em conjunto.
Cabe ressaltar que “são produções dos atos da
consciência e se modificam conforme
as intenções destes”
que podem emergir momentos visuais, auditivos, táteis, etc,
separadamente ou em conjunto.
Cabe ressaltar que “são produções dos atos da
consciência e se modificam conforme
as intenções destes”
.
Segundo
Ingarden, essas camadas inter-relacionam-se, contribuindo para a unidade
do
texto, o que confere à obra literária um caráter polifônico. Além da formação estratificada,
o teórico ressalta ainda, como parte da estrutura da obra, o seu caráter sequencial,
isto é,
a ordenação de suas partes que se organizam de forma sucessiva e interdependente,
apresentando-se sob a forma de fases.
Eis o caráter bidimensional da obra
literária
concebido por Roman Ingarden.
Pontos de
Indeterminação
Os pontos de indeterminação consistem em hiatos, lacunas,
espaços em branco
deixados propositalmente pelo autor e que devem ser preenchidos
pelo leitor.
Ingarden passa a atribuir
aos pontos de indeterminação um papel na
concretização da obra.
Ele coteja a
harmonia polifônica resultante das
camadas constitutivas da obra de arte,
é uma realidade irrevogável, que , mesmo
por isso, não pode considerar como
simulada, pois nela se origina o valor estético e a realização deste
valor
na concretização adequada.
Levando em
consideração as ideias propostas por Ingarden, Iser
formula
aquilo que chama de vazios (Leerstellen) no texto, os quais se
oferecem
para a ocupação do leitor. Esses vazios são preenchidos pelo leitor,
que de
posse de um repertório, contribui para a
concretização da obra.
Ingarden os chama de pontos de indeterminação.
Iser (1979) mostra que em
vez de uma necessidade de preenchimento,
ele mostra uma necessidade de combinação.
ele mostra uma necessidade de combinação.
À proporção que os vazios indicam uma
relação potencial, liberam o espaço
das
posições denotadas pelo texto para os atos de
projeção do leitor.
Dessa forma, quando
a tal relação se realiza , os
vazios desaparecem.
Para Iser, os vazios textuais são
espaços que não podendo ser preenchidos
pelo próprio sistema do texto em que estão inscritos, são preenchidos
por um outro sistema, o da cognição do leitor, em uma atividade de
constituição pelo qual os vazios “funcionam como um comutador central
da interação do texto com o leitor.
pelo próprio sistema do texto em que estão inscritos, são preenchidos
por um outro sistema, o da cognição do leitor, em uma atividade de
constituição pelo qual os vazios “funcionam como um comutador central
da interação do texto com o leitor.
os vazios se caracterizam como o instrumento decisivo
desta operação
por indicar os segmentos do texto a
serem conectados.
por indicar os segmentos do texto a
serem conectados.
O texto ficcional arquiteta seu
significado através de uma “desautomatização.
Esta desautomatização induz o
leitor a descobrir novas formas de
conectar os segmentos textuais em uma nova
unidade de sentido.
E, por fim, Iser nos diz que a
função do vazio é de provocar no leitor
“operações estruturadas”, nas quais a mudança de lugar do vazio é responsável
pela
sequência de imagens conflitantes, que irão se condicionar mutuamente
no
fluxo da leitura.
O LEITOR NA TESSITURA DO TEXTO LITERÁRIO:
PROPOSTAS DE LEITURA
É válido advertir que as obras machadianas exigem um
leitor participativo,
que fique sempre a
desconfiar do narrado e, enfim, que seja capaz de
ler com esperteza.
Sendo Machado de Assis conhecido por ser um escritor além de
seu tempo
é possível perceber em suas
obras, especialmente em
Memórias
póstumas de Brás Cubas, que este autor utiliza
“táticas usadas pelo romance desde suas
primeiras manifestações,
na França e na
Inglaterra”(ZILBERMAM,).
Ao focalizar no leitor, a Estética da Recepção
interessa-se no desenvolvimento
do diálogo deste com a obra, pois é por meio
deste elemento que a obra tornar-se-á
um texto artístico ou não, permitindo,
pois por meio do leitor o livre arbítrio de ser um
sujeito simples e passivo ou de transformar-se um criador ativo
na
elaboração dos sentidos da obra literária.
Ao leitor
“Trata-se de
uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a
forma livre de um Sterne
ou de um Xavier de Maistre, não sei se
lhe meti algumas rabugens de pessimismo”. (ASSIS, 2009,p.11)
Machado de Assis vale-se em suas
Memórias de um discurso dialógico[1]
, em que esta orientação “acolhe a
participação ativa do receptor textual” (SARAIVA,).
A interação dialógica em Memórias Póstumas é uma
constante,como podemos ver no excerto abaixo:
Em Memórias Póstumas, as menções ao leitor também são constantes:
A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa;
se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus. (ASSIS, 1982, p. 12).
[...] Se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais [o delírio],
pode saltar o capítulo; vá direto à narração. (ASSIS, 1982, p. 19).
Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoa [Virgília] que devia influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos. (ASSIS, 1982, p. 49).
Veja-nos agora o leitor, oito dias depois da morte de meu pai, ─ [...]. (ASSIS, 1982, p. 63).
[...] limito-me a dizer por ora que o Lobo Neves, quatro meses depois de nosso
encontro no teatro, reconciliou-se com o ministério; fato que o leitor não deve
perder de vista, se quiser penetrar a sutileza do meu pensamento. (ASSIS, 1982, p. 108).
Conforme se pode observar nas passagens acima, a figura do leitor é mencionada constantemente pelo narrador machadiano, que exige a sua presença, a sua atenção continuada e a sua colaboração na construção e decifração dos sentidos ocultos no relato do narrador-defunto Brás Cubas.
Sendo assim, o “leitor das Memórias não está apenas presente implicitamente, não é apenas espectador da vida de Brás Cubas e de sua morte.
Ele participa ativamente do espetáculo, como uma espécie
de personagem-leitor”
tornando-se uma peça indispensável à narrativa.
Um aspecto a ressaltar neste estudo é a posição do narrador.
Identificamos no conto Amor a presença de um narrador onisciente que
é apresentado em terceira pessoa. Dessa forma a diegese é realizada
na perspectiva do narrador, na qual passa para o leitor os sentimentos
da personagem. Esse aspecto limita a profundidade do
personagem à visão do narrador sem levar em
consideração as expectativas do leitor.
Tutora a distância
Maria Rosa