segunda-feira, 12 de maio de 2014

A LITERATURA E O LEITOR - Uma janela Aberta para o Mundo


A História da literatura é um processo de recepção e produção estéticas que se cumprem na atualização dos textos literários, através do leitor que lê, 
do escritor que produz e do crítico que reflete.[...] 
De qualquer modo, a História da Literatura 
sempre foi a história dos 
autores e dos textos.

O contexto histórico em que aparece uma obra literária não consiste numa
 sucessão de acontecimentos, factual e auto-sustentada, que poderia 
existir de modo independente, sem a necessidade de um receptor. [...]
 só se torna um acontecimento literário para o seu leitor, que lê [...] esta obra
 [...] com a memória de [...] obras anteriores, que aprecia sua especificidade
 por comparação com essas e outras obras já conhecidas e que ganha, 
a partir daí, um novo critério de apreciação a partir do qual poderá
 apreciar obras futuras.

Deve-se lembrar também de que a Hermenêutica é um ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação, que pode referir-se tanto à arte da interpretação, ou a teoria e treino de interpretação


É verdade, a leitura  é um grande mecanismo para se exercer plenamente  a cidadania,
 pois  permite ao leitor  o raciocínio lógico, à reflexão crítica e a mudança 
de atitude, porque ela é  uma porta aberta para compreendermos 
melhor o mundo e a nós mesmos, e  se 
compreendermos melhor o mundo
 e a nós mesmos, teremos subsídios para nos transformarmos 
e transformamos o mundo 
a nossa volta.

E quando essa  leitura é feita em livros de literatura dentro da escola, ela propicia uma educação que forma a consciência  estética , aprimorando a percepção humana, para que nas suas relações com o mundo, o sujeito busque sintonizar-se de forma harmônica e equilibrada.



Estética da Recepção


Ambos os métodos, o formalista e o marxista, ignoram o leitor em seu 
papel genuíno, imprescindível tanto para o conhecimento
 estético quanto para o histórico: o papel do destinatário
 a quem, primordialmente, a obra literária visa. 
(jauss, 1994,


A Estética da Recepção é a teoria que valoriza, acima de tudo, o leitor.  
Para Jauss, ela estuda a maneira como o leitor recebe o texto. 

Os primeiros estudos sobre a Estética da Recepção surgem a partir  das considerações teóricas discutidas por Hans Robert Jauss (1921 - 1997 ) em aula inaugural na Universidade de Constança, na Alemanha.

Nas décadas de sessenta (60) e setenta (70), Hans Jauss trabalha a História da Literatura do Leitor, no chamado horizonte de expectativa. 

A Estética da Recepção considera a obra de arte como um sistema que se define por produção, por recepção e por comunicação, tecendo uma relação dialética entre autor, obra e leitor. Não revitaliza a noção de produção e representação, bases da estética tradicional. 

Destaca que o ato de leitura tem uma perspectiva dupla na dinâmica da relação com a obra - a projeção desta obra pelo leitor de uma determinada sociedade. Interessa-se pelas condições sócio-históricas que formularam as diversas interpretações que a obra recebeu, e assinala que o discurso é o resultado de um processo de recepção ao mover a pluralidade dessas estruturas de sentidos historicamente mediadas. 

Textos literários provocam reações diferentes em diferentes
 leitores e, por essa possibilidade de “diferença”, para a teoria da 
recepção, esses textos sempre são dinâmicos, gerando um movimento
 complexo que se desdobra no tempo.



A literatura na perspectiva do LEITOR

Foi com o surgimento da Estética da Recepção, como uma nova
 proposta e metodologia de análise, que a literatura passou a 
ser concebida a partir de uma perspectiva em que a interpretação 
do texto recai no leitor. 

O teórico da Estética da Recepção, Jauss entende que 
o leitor atualiza a obra. Ele diz que desde o século XIX a
 estética se concentrava no papel da apresentação da arte e a história da arte se compreendia como historia das obras e de
 seus autores. Ainda ele acrescenta que das funções vitais da arte passou-se a considerar apenas o lado produtivo da experiência
 estética, raramente o receptivo e quase nunca o comunicativo.
 Ele sabe que “hoje se pode reconstruir, com mais facilidade, 
o lugar de uma obra de arte em seu tempo, sua originalidade em contraste com as fontes e os antecessores, mesmo até sua função
 ideológica, do que a experiência daqueles que na atividade produtiva, receptiva e comunicativa desenvolveram a práxis 
histórica e social, da qual as histórias da literatura e
 da arte sempre nos transmitiram
 o produto já objetivado”.

Jauss diz que  a qualidade e a categoria de uma obra literária não 
resultam nem das condições históricas ou biográficas de seu 
nascimento, nem tão-somente de seu posicionamento no
 contexto sucessório no desenvolvimento de um gênero, mas sim 
dos critérios da recepção, do efeito produzido pela
 obra e de sua fama junto á posteridade

       ESTÉTICA DA RECEPÇÃO DE HANS ROBERT JAUSS

     
O que  Jauss propõe é que a qualidade e o valor de uma obra literária não podem ser medidos ou analisados pelos critérios das condições históricas ou biográficas 
de sua origem nem do lugar que ela  ocupa  no desenvolvimento de um gênero.
Para o estudioso, o que é mais importante é “a qualidade e critérios 
de recepção  estética  de um texto do efeito produzido pela obra  e de 
sua fama junto à posteridade”.
Segundo Jauss, na experiência estética é desenvolvida a hierarquia da natureza 
estética em três atividades importantes, complementares e simultâneas sendo: 

   A poíesis (momento de produção) – ocorre o preenchimento dos vazios do texto na interação do autor e leitor/receptor, correspondendo ao prazer se sentir-se co-autor da obra.
     A aisthesis (momento da recepção) - a obra causa um efeito sobre o leitor. Ela age sobre o leitor que reconhece os elementos apresentados transformando em uma nova percepção de mundo.
   A katharsis (comunicação) – experiência subjetiva. Primeiro tem-se a conquista do leitor depois provoca-lhe um choque, e como resultado de atitude, causa-lhe um sentimento forte diante da obra.

Teses desenvolvidas por Hans Robert Jauss


A primeira tese é a relação dialógica entre texto e leitor: Um texto nunca é monológico ou atemporal, pois sempre ocorrerá a atualização no ato da leitura.

Na segunda tese, Jauss comenta sobre “o saber prévio”. A obra literária não se apresenta exatamente o que está como novidade absoluta, ela se reporta ao já conhecido. Uma obra constitui eco de outras e isso despertará no leitor expectativas determinando uma postura emocional.

Na terceira tese há a referência à reconstituição do horizonte de expectativa: o que determina como a obra foi recebida pelo público leitor. As expectativas podem ser: satisfeitas, frustradas, ou rompidas. Segundo Jauss, a reação do público estabelecerá o valor da obra literária.

Na quarta tese, refere-se à relação dialógica, do texto relacionado a diferença de compreensão que a obra suscitou na época em que surgiu, e no momento presente de sua leitura. A reconstituição do horizonte de expectativa dá-se a partir da lógica de pergunta e resposta que é o mecanismo da hermenêutica, demonstrando como se dá as analises vistas em épocas distintas. Pode-se dizer que para se entender um texto é necessário compreender a pergunta para qual ele, constitui uma resposta.

Na quinta tese, Jauss discute a leitura de um texto literário sob o enfoque diacrônico, conhecido como a linha do tempo

A sexta tese compreende a obra literária sob o enfoque sincrônico que engloba o momento de cada época, tendo um entendimento de leitura. Para este autor é do encontro entre o corte diacrônico e sincrônico que se verificará a historicidade da literatura. A importância da obra pode ser definida por meio das diversas compreensões por leituras em fases diferentes, podendo em determinado período, ser mais valorizado que em outros.

Na sétima tese, Jauss comenta sobre o caráter emancipatório da obra literária apresentando uma nova realidade, rompendo os horizontes de expectativa do leitor, tendo a possibilidade de formar um leitor crítico e desta forma, desenvolver novos caminhos para diversas ações futuras.



      O valor estético de um texto é medido pela recepção inicial do público 
que o compara com outras já lidas, percebe-lhe as singularidades e 
adquire novo  parâmetro para avaliação  de obras futuras.
( elabora um novo horizonte de expectativas).

      O nexo ou o elemento de relação entre a sucessão de textos na história literária é o próprio leitor/público. Jauss pensa numa cadeia de recepções que teria 
continuidade e na qual a compreensão dos primeiros leitores iria 
sendo sobreposta  pela recepção dos últimos posteriores.
Essa sucessão de recepções do texto, por sua vez,
mostraria o valor estético dos textos.




O problema da interpretação tem sido um dos focos 
centrais de Wolfgang Iser 
através da sua estética do efeito.
Para Iser, os textos ficcionais, e até mesmo os não-ficcionais, não são figuras plenas, mas discursos marcados por indeterminações chamadas “vazios” que pedem uma intensificação da atividade imaginativa do leitor. O sentido, tal como para Eco, surge da interação do texto com o leitor. Na concepção de Iser (1996), não faz sentido perguntarmos o que um texto quer dizer ou o que um autor quer dizer, mas “o que sucede com o leitor quando sua leitura dá vida aos textos ficcionais”.
A ênfase de Iser sobre o efeito na relação texto-leitor não valida qualquer interpretação, como poderíamos pensar. Um leitor que apenas projeta sobre os textos seus interesses e devaneios sem observar as “instâncias de controle” (1979, p. 91) existentes no texto faz com que a comunicação estética vá por água abaixo. Essas instâncias de controle, também chamadas de “estruturas centrais de indeterminação”, são os vazios e suas negações. São os vazios que acionam a interação texto-leitor (vazios) enquanto as negações realizam o controle, possibilitando assim o processo de comunicação:
Os vazios e as negações contribuem de diversos modos para o processo de comunicação que se desenrola, mas, em conjunto, têm como efeito final aparecerem como instâncias de controle.  
Os vazios possibilitam as relações entre as perspectivas de representação do texto e incitam o leitor a coordenar estas perspectivas. Os vários tipos de negação invocam elementos conhecidos ou determinados para suprimi-loAs estruturas centrais de indeterminação no texto são os vazios e suas negações. Eles são as condições para a comunicação, pois acionam a interação entre texto e leitor e até certo nível a regulam. 
"A relação entre o texto e o leitor se caracteriza pelo fato de estarmos diretamente envolvidos e, ao mesmo tempo, de sermos transcendidos por aquilo que nos envolvemos. O leitor se move constantemente no texto, presenciando-o somente em fases; dados do texto estão presentes em cada uma delas, mas ao mesmo tempo parecem ser inadequados. Pois os dados textuais são sempre mais do que o leitor é capaz de presenciar neles no momento da leitura. 

Em conseqüência, o objeto do texto não é idêntico a nenhum de seus modos de realização no fluxo temporal da leitura, razão pela qual sua totalidade necessita de sínteses para poder se concretizar. Graças a essas sínteses, o texto se traduz para a consciência do leitor, de modo que o dado textual começa a constituir-se como correlato da consciência mediante a sucessão das sínteses."

As contribuições de Iser para a Teoria do Efeito 

As motivações para estimular a leitura, em textos literários, são feitas de diversas 
maneiras. Às vezes, nós não temos a dimensão do sentido que o leitor utiliza 
para fazer interpretações. Wolfgang Iser aposta no imaginário, como a última 
posição prevista no ato da recepção, para que o leitor seja capaz de
 configurar sentido a partir destes
 atos imaginativos: 

As perspectivas do texto visam certamente a um ponto comum de referências e 
assumem assim o caráter de instrução; o ponto comum de referências, 
no entanto, não é dado enquanto tal e deve ser por isso imaginado. 
É nesse ponto que o papel do leitor, delineado na estrutura do texto, ganha 
seu caráter efetivo. Esse papel ativa atos da imaginação que de certa maneira 
despertam a diversidade referencial das perspectivas da
 representação e a reúnem no horizonte 
de sentido (ISER, 1996). 

Na concepção iseriana, o sentido (meaning) relaciona-se à construção do 
significado/experiência estética, enquanto a significação (significante) 
tem relação com a resposta ao significado/experiência 
construído. 

Wolfgang Iser apresenta a Teoria do Efeito, a qual considera o resultado estético da 
obra no leitor, durante a recepção.
Essa teoria trabalha com os conceitos de leitor implícito ( leitor
ideal ↔ leitor real ), estruturas de apelo  (pistas que direcionam o
 leitor para uma interpretação coerente do texto ) e vazios do
texto ( lacunas preenchidas pelo leitor, a partir de seu
conhecimento de mundo, experiências e valores ).

 Leitores de textos literários na visão de Umberto Eco



Para Iser, há vários tipos de leitor: 

 Leitor informado (trata-se de uma concepção didática 
que se baseia na auto-observação da sequência de 
reações, estimulada pelo texto e visa a aumentar 
o caráter de informação e a competência do leitor) ; 

    Leitor implícito (é um outro aspecto na teoria se Iser, compreendido como uma estrutura textual que oferece “pistas” sobre o percurso da leitura. Esse leitor só existe a proporção em que o texto determina sua existência e as experiências processadas, no ato da leitura, são transferências das estruturas imanentes ao texto;)

O Leitor – Modelo (É aquele que sabe preencher os vazios, 
os brancos do texto, interpretando e completando
 o sentido do texto).

.
Leitor real  (tem a função de construir o sentido 
do texto com a ajuda de seu repertório.
 (tem o auxílio do leitor implícito. )





Leitor ideal ( sabe selecionar textos de acordo com seu horizonte  de expectativas; 
conhece os locais em que os  livros e os demais materiais deleitura se encontram; 
frequenta os espaços  mediadores de leitura  (exposições, palestras, debates); 
identifica os livros e  outros materiais nas estantes sem necessitar de ajuda alheia; 
localiza dados  na obra com facilidade; segue as orientações de leituras oferecidas 
pelo autor; preenche os “vazios”  de acordo com seu conhecimento; é capaz de 
dialogar com os novos textos. 


Hans Robert Jauss e Wolfanf Iser partem da ideia de que o texto só existe a partir da
 atuação do leitor. No entanto, enquanto para Jauss o texto está ancorado no 
momento histórico- a historicidade literária – para Iser, o texto apresenta 
uma estrutura de apelo que colabora para o efeito e reação do leitor frente à obra. 

Observamos que tanto  Teoria do Efeito como a Estética da Recepção
revigoram  os fundamentos da teoria literária ao fazerem insurgir
 a figura do leitor como elemento participativo.

 Segundo Regina Zilberman, os espaços ou brechas existentes na obra literária 
exigem uma da intervenção do leitor para completá-los; dessa maneira, ao fazê-lo, o leitor
 transforma-se em co-produtor do ato de criação. E conclui: “São as indeterminações que
 permitem ao texto ‘comunicar-se’ com o leitor, induzindo-o a tomar parte na produção e 
compreensão da intenção da obra”. (ZILBERMAN, 2001,).




  Cada leitor tem a histórias de suas leituras, cada texto, a história das suas. Leitor  maduro é aquele que, em contato com o texto novo, faz convergir para o significado deste o significado de todos os textos que leu. E, conhecedor das interpretações que  um texto já recebeu, é livre para aceitá-las ou recusá-las, e capaz de sobrepor a elas a  interpretação que nasce de seu diálogo com o texto. Em resumo, o significado de um novo texto afasta, afeta, redimensiona o significado de todos os outro (LAJOLO:  1996, )



A  RELAÇÃO  LITERATURA E O LEITOR

    O leitor e a obra são de extrema importância para esse tipo de abordagem porque:
A obra literária não é um objeto que estima por 
si só, oferecendo a cada observador  em cada 
época o mesmo aspecto.[...] Ela é , antes, como
uma partitura voltada para ressonância sempre 
renovada da leitura.(JAUSS,).

A afirmativa acima explica o fato de acreditarmos que para cada nova leitura, 
para cada leitor e para cada época podem ser criadas várias 
combinações que incidirão  em interpretações diferentes de 
um mesmo texto literário. 
Em Jauss, o leitor e sua experiência 
estética assumem uma nova posição, e esta é 
nitidamente privilegiada.

Entende-se que a relação entre texto e leitor se atualiza porque o leitor
 insere no processoda leitura as informações sobre os efeitos
 nele provocados; em conseqüência,
 essa relação se desenvolve como um processo
 constantede realizações
 (Iser, 1996, p.127).


 O leitor, em seu importante papel, imagina hipóteses, decifra, analisa, 
cria vínculos entre  uma obra  e outra (...) o autor dá pista ao leitor  para  que
 co-participe, como  um elemento a mais do romance, abrindo  novas 
perspectivas e recriando a história que lhe foi apresentada. 

Esta liberdade criadora que se oferece ao leitor,  tarefa de decifração e
 integração, dá-lhe a sensação de  não se afogar passivamente no mundo
 da literatura e  de que as personagens retornaram a um museu depois 
de passagem transitória pela vida “(JOZEF, )  “ ..
 no espaço literário contemporâneo não se pode
 conceber uma separação entre criação e crítica .
 O texto só existe na medida de sua leitura”. 
( JOZEF, 1980).


O PROCESSO DE INTERAÇÃO DO TEXTO 
COM O LEITOR


A leitura, por ser uma atividade comandada pelo texto, une o processamento  
do texto ao efeito sobre o leitor. 
Essa influência recíproca é  descrita
 como interação.
         Segundo Iser( 1979), a relação interativa no mundo social resulta  da contingência 
dos planos de comportamento, isto é, da impossibilidade de experimentar-se 
a experiência alheia, e não da situação comum  ou das convenções que reúnem
 os parceiros. A interação só fracassa quando as projeções do leitor  
se impõem independentemente do texto.
 O fracasso é decorrente do preenchimento do vazio exclusivamente 
com as próprias projeções. 
A relação entre texto e leitor só pode ter êxito mediante 
 a transformação do leitor.

E a leitura estética se cumpre quando produz uma transformação 
na percepção do leitor, o que demanda um trabalho de leitura
 atento aos aspectos da estrutura
 textual, os quais se oferecem ao leitor como elementos de
 jogo, exigindo sua participação.


Ingarden em relação à  Recepção do Texto Literário

Ingarden afirma que a obra literária consiste em uma produção constituída por
 vários estratos heterogêneos, que lhe conferem o caráter de construção orgânica,
 cuja unidade se baseia na particularidade dessas camadas singulares. São eles:

1. o estrato das formações fônico-lingüísticas, que abrange não só a palavra, 
mas também a frase, como unidade superior sonora em que os fonemas se 
articulam e operam contrastes, constituindo a melodia,
 o ritmo e o andamento do texto;

2. o estrato das unidades de significação, que comporta o significado da
 palavra ou o sentido de uma formação linguística superior, 
em especial, a oração;

3. o estrato das objetividades apresentadas, que abarca aquilo de que se fala
na obra ou o que nela está representado e que não se refere apenas ao que
 se percebe sensivelmente, podendo, deste modo, constituir-se de coisas, 
seres, pensamentos, sentimentos, etc.;

4. o estrato dos aspectos esquematizados, que se caracteriza por uma ou outra 
aparência na qual visualizamos o objeto da representação. 
Trata-se de uma seleção, ou melhor, de um esquema das qualidades deste 
que auxiliam o sujeito da percepção a intuir o objeto. 
Tais qualidades associam-se às sensações, constituindo sínteses em 
que podem emergir momentos visuais, auditivos, táteis, etc, 
separadamente ou em conjunto. 
Cabe ressaltar que “são produções dos atos da 
consciência e se modificam conforme 
as intenções destes
.
Segundo Ingarden, essas camadas inter-relacionam-se, contribuindo para a unidade
do texto, o que confere à obra literária um caráter polifônico. Além da formação estratificada,
 o teórico ressalta ainda, como parte da estrutura da obra, o seu caráter sequencial, isto é, 
a ordenação de suas partes que se organizam de forma sucessiva e interdependente,
 apresentando-se sob a forma de fases. 

Eis o caráter bidimensional da obra literária 
concebido por Roman Ingarden




 Pontos de Indeterminação  

Os pontos de indeterminação consistem em hiatos, lacunas, espaços em branco
 deixados propositalmente pelo autor e que devem ser preenchidos pelo leitor.
 Ingarden passa a atribuir aos pontos de indeterminação um papel na 
concretização da obra. 
Ele coteja a harmonia polifônica resultante  das camadas constitutivas da obra de arte,
 é uma realidade irrevogável, que , mesmo por isso, não pode considerar como 
simulada, pois nela se  origina o valor estético e a realização deste valor 
 na concretização adequada.
     Levando em consideração as ideias propostas por Ingarden, Iser 
formula aquilo que chama de vazios (Leerstellen) no texto, os quais se 
oferecem para a ocupação do leitor. Esses vazios são preenchidos pelo leitor, 
que de posse de um repertório, contribui para a 
concretização da obra.



        Os vazios derivam da indeterminação do texto.
 Ingarden os chama de pontos de indeterminação. 
Iser (1979) mostra que em vez de uma necessidade de preenchimento, 
ele mostra uma necessidade de combinação.

       À proporção que os vazios indicam uma relação potencial, liberam  o espaço
 das posições  denotadas  pelo texto para os atos  de  projeção do leitor.
 Dessa forma, quando  a tal relação  se realiza , os vazios desaparecem.
      Para Iser, os vazios textuais são espaços que não podendo ser  preenchidos 
pelo próprio sistema do texto em que estão inscritos, são preenchidos
 por um outro sistema, o da cognição do leitor, em uma atividade de 
constituição pelo qual os vazios  “funcionam como um comutador central 
da interação do texto com o leitor.
       os vazios se  caracterizam como o instrumento decisivo desta operação
 por indicar os segmentos do texto a  
serem conectados.

       O texto ficcional arquiteta seu significado através de uma “desautomatização.
 Esta desautomatização induz o leitor a descobrir novas formas de 
conectar os segmentos textuais em uma nova unidade de sentido.
        E, por fim, Iser nos diz que a função do vazio é de provocar no leitor    “operações estruturadas”, nas quais a mudança de lugar do vazio é responsável pela 
sequência de imagens conflitantes, que irão se condicionar mutuamente
 no fluxo da leitura.



O LEITOR NA TESSITURA DO TEXTO LITERÁRIO: 
PROPOSTAS  DE LEITURA

        É válido advertir que as obras machadianas exigem um leitor participativo, 
que  fique sempre a desconfiar do narrado e, enfim, que seja capaz de 
ler com esperteza.          
Sendo Machado de  Assis conhecido por ser um escritor além de seu tempo
 é possível perceber em suas  obras, especialmente em 
Memórias póstumas de Brás Cubas, que este autor utiliza 
“táticas usadas pelo romance desde suas primeiras manifestações,
 na França e na  Inglaterra”(ZILBERMAM,).

        Ao focalizar no leitor, a Estética da Recepção interessa-se no desenvolvimento 
do diálogo deste com a obra, pois é por meio deste elemento que a obra tornar-se-á
 um texto artístico ou não, permitindo, pois por meio do leitor o livre arbítrio de ser um 
sujeito simples e  passivo ou de transformar-se um criador ativo na 
elaboração dos sentidos da obra literária.



Ao leitor
 “Trata-se  de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a
 forma livre de um Sterne ou de  um Xavier de Maistre, não sei se 
lhe meti algumas rabugens de pessimismo”. (ASSIS, 2009,p.11)

       Machado de Assis vale-se em suas Memórias de um discurso dialógico[1] , em que esta orientação “acolhe  a participação ativa do receptor textual” (SARAIVA,).         
        A interação dialógica em Memórias Póstumas é uma constante,como podemos ver no excerto abaixo:

Em Memórias Póstumas, as menções ao leitor também são constantes:

A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; 
se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus. (ASSIS, 1982, p. 12).
[...] Se o leitor não é dado à contemplação destes fenômenos mentais [o delírio], 
pode saltar o capítulo; vá direto à narração. (ASSIS, 1982, p. 19).
Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoa [Virgília] que devia influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos. (ASSIS, 1982, p. 49).

Veja-nos agora o leitor, oito dias depois da morte de meu pai, ─ [...]. (ASSIS, 1982, p. 63).
[...] limito-me a dizer por ora que o Lobo Neves, quatro meses depois de nosso
 encontro no teatro, reconciliou-se com o ministério; fato que o leitor não deve
 perder de vista, se quiser penetrar a sutileza do meu pensamento. (ASSIS, 1982, p. 108).

Conforme se pode observar nas passagens acima, a figura do leitor é mencionada constantemente pelo narrador machadiano, que exige a sua presença, a sua atenção continuada e a sua colaboração na construção e decifração dos sentidos ocultos no relato do narrador-defunto Brás Cubas.

 Sendo assim, o “leitor das Memórias não está apenas presente implicitamente, não é apenas espectador da vida de Brás Cubas e de sua morte.
 Ele participa ativamente do espetáculo, como uma espécie
de personagem-leitor”  
tornando-se uma peça indispensável à narrativa.


Um aspecto a ressaltar neste estudo é a posição do narrador.
 Identificamos no conto Amor a presença de um narrador onisciente que
 é apresentado em terceira pessoa. Dessa forma a diegese é realizada
 na perspectiva do narrador, na qual passa para o leitor os sentimentos 
da personagem. Esse aspecto limita a profundidade do 
personagem à visão do narrador sem levar em 
consideração as expectativas do leitor.



 Para que a literatura aconteça , 
o leitor é tão vital quanto o autor

Tutora a distância
Maria Rosa

Um comentário:

Jorge Coimbra disse...

Olá! Muito legal este espaço que aborda a questão da literatura, principalmente, da leitura de textos literários. Entendo que o texto só ganha sentido quando lido integralmente pelo leitor, uma vez que nesse sistema literário constituído de autor, obra e leitor permeado pelo mundo, a obra literária não se basta a si mesma quando terminada de feita por seu autor. Vai ganhando contornos de sentido a partir do momento que a própria realidade sócio e histórica do texto/autor vai interagindo com a realidade sócio e histórica do leitor, quem em um processo dialógico de texto e leitor, vai construindo sentido da obra. Por isso que é importante a leitura integral da obra literária na escola.